Homenagem a meu pai
Jucey Santana
Manoel Germano dos
Santos nasceu no povoado Leite da cidadce de Itapecuru Mirim (MA), em 18 de maio de
1905. Filho do libanês Domingos dos
Santos Jorge, conhecido como Domingos
Italiano (Taliano) pela dificuldade de dominar a língua portuguesa, e da
cearense Luiza Sampaio dos Santos.
O pai que tinha o nome original de Domingos dos Santos Karam
Jorge chegou no Brasil com mais
dois amigos, aportando em Belém (PA) no ano de 1901 e mudou-se para Itapecuru
Mirim em 1902. Sob os auspícios do governo com vantajosas atrações para atrair
os imigrantes, “para trazer novos elementos às indústrias e explorar as
riquezas que encerra este solo
abençoado (...), concedendo terra devolutas, distribuídas em lotes aos colonos imigrantes ...”, (José Bento de
Araújo, presidente da Província do Maranhão de 1886-1888). Domingos Italiano se instalou no povoado
Leite, tendo antes solicitado ao
Conselho de Intendência de Itapecuru Mirim aforamento das terras na localização
Malassado. Instalou-se com lavoura de cana de açúcar e plantio de arroz ,
algodão e criação de gado.
Conheceu e se casou com Luiza Sampaio. A família Sampaio
oriunda de Baturité (CE), já estava instalada no povoado Leite desde 1890,
quando chegaram do Ceará, como
retirantes da seca do Nordeste. O casal teve quatro filhos, Anna, Maria
Petronília, Manoel e Teresa de Jesus.
O Casarão.
Já com certa prosperidade e para encaminhar os filhos aos
estudos o casal construiu uma ampla casa na
Rua do Egito, na sede do município,
ao lado da antiga cadeia pública.
No local montou um estabelecimento comercial com usina de
beneficiamento de arroz e algodão. O
salão do casarão de oito portas e várias janelas, era constantemente cedido pela mãe (Mãe Liza), às
companhias de cinemas para projetarem os primeiros filmes (mudos), que foram vistos na década de 30 e 40 em Itapecuru Mirim e
para encenações de peças teatrais e
circenses, apresentados no salão do prédio, nos dias de chuvosos. Depois que
ficou viúva, Luiza Sampaio ficou à frente dos negócios até o seu falecimento em
1949. Os filhos sobreviventes, Manoel e Teresa alugaram o casarão para servir de Silo de Armazenagem de Grãos,
de acordo com informes da Senhora Maria do Rosário Nogueira da Cruz Tajra,
lembrando que seu esposo, funcionário do Ministério da Agricultura,
administrava o SILO. Passou algum tempo fechado se tornando
conhecido como “Furna da Onça”. Foi adquirido por José Félix de Sousa “Cabocal” que em 1954
o mandou demolir, sendo contratados para
o serviço o irmão José Félix e o
pedreiro Domingos Preto. O material do
casarão foi vendido para construção de três casas e as telhas ainda podem ser
vistas na residência do Senhor Jamil Mubarack, na Avenida Brasil.
Chegada dos outros
parentes
A convite de Domingos dos Santos, pai de Manoel dos Santos,
chegaram a Itapecuru Mirim, nos idos de 1914, oriundo do país do cedro, dois
primos seus, também primos entre si,
Jorge Assef Farat e Miguel Ahid
Jorge. Os recém-chegados se associaram em um empório na Rua do Sol, tendo ambos
se tornado genros do de Domingos dos Santos. Jorge Assef casou-se com Maria
Petronília e Miguel Ahid com Anna. Depois de desfeito o consórcio comercial
(1918) ambos passaram a administrar seus negócios próprios se tornando figuras de
destaque na sociedade itapecuruense. Em
1923 Miguel Ahid mudou-se para a cidade de Coroatá (MA). Anna dos Santos Ahid, esposa de Miguel Ahid
Jorge faleceu em 3 de novembro de 1927. Jorge Assef e Maria tiveram duas filhas: Sadine e Nancy. Sadine Assef foi dotada de muita beleza
chegando ser eleita em 1944, Rainha da Primavera, em evento beneficente, para
arrecadação de fundos para construção da casa da poetisa Mariana Luz. Depois do
falecimento precoce do casal Assef as filhas foram criadas pela avó Luiza e o
tio Manoel dos Santos.
A irmã mais nova de
Manoel dos Santos, Teresa de
Jesus casou-se em 1928 com o Promotor Público itapecuruense, Antônio Altair
Montello Raposo. Do consórcio nasceram os seguintes filhos: Altair (militar),
Aldacy (Vr. Aldacy Raposo), José Ribamar, funcionário
público, Benedito (Vr. Benedito Raposo), Arlindo, economista e político e as
professoras Ana e Maria da Graça.
Manoel dos Santos e os
Estudos
Manoel Germano dos Santos sempre foi muito curioso e inteligente. Iniciou seus estudos em
Itapecuru Mirim com as professoras Mariana Luz e Zulmira Sanches Fonseca. Para
dar vazão a sua criatividade seus pais o encaminharam para aprender algumas
profissões. Manoel fez oficinas de alfaiataria, funilaria, carpintaria,
sapataria, marcenaria, forjaria e outros aprendizados comuns na época para
aprender os “ofícios”. Enfim tudo ele aprendeu um pouco.
Por força de uma promessa assumida com seus santos de
devoção, a mãe Luiza Sampaio convenceu o esposo a fazer padre o filho
único. Em 5 de março de 1918, com apenas
13 anos de idade, Manoel ingressou no
Seminário de Santo Antônio, pelas mãos do seu tio Jorge Assef, que passou a intermediar
os interesses do jovem entre o seminário e a família.
No seminário estudou Humanidade e clássicos, equivalente ao
ginásio e ainda residindo no seminário ingressou no Liceu Maranhense no final
de 1921 (A Pacotilha, 16.12.1921).
Ao concluir o Liceu em 1924
chegou a conclusão que não tinha vocação suficiente para seguir a vida
clerical. Na época com o falecimento do pai Manoel retornou a Itapecuru Mirim para auxiliar a
mãe nos negócios da família.
Trajetória Profissional
Depois de viúva a mãe de Manoel passou a gerir o comércio e
a casa e o engenho no Leite.
Manoel logo entendeu que não tinha aptidão para ficar atrás
do balcão preso no armazém então, passou a intermediar as compras para o
abastecimento do comércio adquirindo grande quantidade de animais (burros) para
o transporte das mercadorias adquiridas
diretamente com os lavradores. Preferia está em contato com o povo simples do
meio rural.
Em 1925 aos 20 anos de idade, requereu à Câmara Municipal de
Itapecuru Mirim aforamento uma grande extensão de terras devolutas para
instalação de um engenho à vapor. Muito lhe favoreceu os inúmeros ofícios
aprendidos na infância e os conhecimentos adquiridos nos bancos da escola que o
tornaram apto a trabalhar com todo tipo de máquinas, engenhocas, um expert em
consertar, montar, construir, fabricar e
diagnosticar problemas. Era uma espécie de engenheiro leigo. Se tornou um
grande líder entre os caboclos para inquietação da família que não via com
simpatia, essa opção de vida.
Instalou engenho de cana de açúcar e passou a explorar
negócio próprio, próximo a sede do município, depois do riacho Cova. Por volta
de 1935 adquiriu as terras do povoado Paulo Mina e instalou outro engenho e
criação de gado, bovino e caprino além de investir em plantaçãode arroz e
começou experimentar o cultivo de café e cacau.
Em Paulo Mina conheceu a jovem Margarida, filha de um casal
de moradores, o cearense Honório Barbosa e a afrodescendente Maria Pereira.
Casou-se em 1941 ela com apenas 13 nos e ele com 36 anos de idade. O casal teve
os seguintes filhos: Jandira, Jacira, José de Ribamar, Jucelina, Jucey, José
Domingos, Jurandir, Jacy, Jovelina e Janira.
Nos anos 40 foi nomeado pelo delegado, Feliciano Lopes, o
Barão, para o cargo de Sub-delegado de toda a região com a prerrogativa de
nomear os inspetores de quarteirões para auxiliá-lo nas pequenas contendas de
cada povoado, descentralizando o poder de polícia da região.
Foi um dos fundadores da Cooperativa Industrial Agrícola em
24 de maio de 1953, com a finalidade de amparar pequenos empreendedores,
agricultores e os funcionários da Usina de Álcool de Mandioca. (que nunca
funcionou). Manoel dos Santos chegou a ser beneficiado com financiamentos da
Cooperativa.
Professor e Construtor de
Pontes
Em Paulo Mina, Manoel dos Santos instalou uma escola
gratuita para alfabetização de adultos. A escola funcionava no salão da casa
grande e era dirigida aos colaboradores do engenho e agregados do lugar.
Ensinou ler também todos os inúmeros afilhados, cunhados e a jovem esposa.
Precisava se afastar com frequência para auxiliar a sua mãe,
já idosa e visitar outras comunidades por força da função, deixando à frente dos negócios a jovem esposa sem experiência. O
negócio gradativamente entrou em decadência, tendo que deixar Paulo Mina em
busca de outras oportunidades.
Em Itapecuru Mirim de
1947 a 1948 foi contratado pelo prefeito Miguel Fiquene para construir as pontes dos riachos Covas e Passarinhas. Ainda
com o apoio do prefeito Miguel Fiquene mudou-se para a localidade Caixa D’água para fundar um escola no local,
que funcionou até 1953.
Em 1954 mudou-se para o antigo Caminho da Boiada, (Caminho
Grande). No local teve por vizinho a família Mendes, (Antônio, Biné e Manoel).
Passou a ser parceiro de Biné Mendes, (Benedito Braúlio Mendes) nos negócios do
comércio e da usina de beneficiar arroz. Juntos construíram pontes de madeira
em vários rios e riachos, como: Iguará, Paulica e Riachão. Manoel dos Santos
era o engenheiro, que fazia os cálculos estruturais e o transporte da madeira.
A questão do pessoal para o trabalho ficava por conta de Biné Mendes.
O trabalho exaustivo, exigindo muito esforço físico fez que
adquirisse uma tuberculose pulmonar. A
doença abateu o seu corpo franzino obrigando-o a se afastar do trabalho em
1958. Foi tratar-se em São Luís, e de
lá não voltou mais para Itapecuru Mirim. Depois de curado ficou trabalhando na
Capital. Montou uma granja depois criou
uma pequena fábrica de sabão. De
1959 a 1960 trabalhou no IBGE, com o sobrinho e afilhado José Ribamar
dos Santos Raposo, diretor da instituição. Assim conseguia com dificuldades,
custear as despesas dos filhos menores que ficaram em Itapecuru Mirim.
Em 1960, mesmo combalido depois de ter sofrido dois enfartos
do miocárdio, veio a Itapecuru Mirim ajudar na campanha da amiga Graciete
Cassas, para prefeita.
Comprazia-se com a educação dos filhos e sobrinhos. Era um
contador de histórias. Não era permitido pronunciar nenhuma palavra errada
perto dele, que se sentava para explicar a origem daquele vocábulo, o seu
significado e toda a derivação, etc (na época os filhos achavam chato). Falava latim, francês
e lia com fluência, outras línguas de origem latina.
Quando chegava a Itapecuru Mirim um missionário evangélico
os moradores o levavam até Manoel dos
Santos que, “era o homem mais sabido da bíblia, depois do padre”. Apesar de não ser político era chamado para
orientar nos discursos e no apoio às
eleições pela liderança que exercia na zona rural.
Manoel dos Santos e Cabocal Felix foram os pioneiros no uso
de bicicletas em Itapecuru Mirim no final dos anos 30.
Nunca é muito traçar o perfil de Manoel dos Santos como
inigualável ser humano. Paciente por índole, um sábio, destituído de vocação empreendedora, de
ambições políticas ou financeiras. De caráter inquestionável. O sentimento
“Amor” brotava espontâneo do seu cerne, quer fraternal quer filial ou
paterno. Seu inquestionável dom de
doar-se, seu caráter incorruptível e sua arte de fazer o bem comum com ética,
alegria, transparência sem nunca exigir
nada em troca.
Meu pai, minha referencia, meu orgulho. O seu exemplo é a
nossa herança. Faleceu em 10 de março de 1961, aos 55 anos deixando vários
filhos na orfandade.