Benedito
de Jesus Nascimento Neto
*Benedito Coroba.
A filosofia, em sua dimensão teórica,
dispõe-se a investigar a natureza do mundo e a identificar os instrumentos de
conhecimento para tal investigação, partindo das ciências naturais, que indicam
a estrutura do universo, e das ciências históricas, que esclarecem a história
universal do próprio “homem”, como ser relacional. Na Grécia Antiga, só para
situar a questão, Platão dizia a seus alunos, da Academia, que “ninguém poderia
estudar ali se não fosse “geômetra”. Portanto, a filosofia não pretende ignorar
os conhecimentos científicos. A dimensão teórica da filosofia, por necessidade,
dialoga e mantém estreitos laços de afinidade com as dimensões da ética e da
busca da salvação. Essa dimensão filosófica da busca salvação, não se refere a
salvação prometida pela “religião”, mas propõe um modo de vida “livre e feliz”,
na medida do possível, considerando as limitações humanas. Destina-se, afinal,
a dimensão da busca da salvação, vencer o medo natural despertado pela finitude
humana. Como visto, a filosofia se apresenta em três dimensões: teórica, ética
e busca da salvação.
O tema proposto “teorização da linguagem”
se situa no campo fértil da dimensão teórica, pois a linguagem, já na Grécia
Antiga, não passou a largo da percepção filosófica, embora, àquele tempo, ainda
não havia a pretensão de construção de uma teoria. Apesar disso, Aristóteles,
em sua “Retórica”, trata da linguagem de um modo especial, acentuando, como
prova, as figuras do anunciador – aquele que exercita ou emite a linguagem –,
do evento – a ideia ou objeto anunciado –, e do auditório – que seria, então, o receptor da linguagem
exercitada ou emitida pelo anunciador. Essa constatação de Aristóteles,
constituiu-se num passo importante para a vindoura “teorização da linguagem”.
O Apóstolo Paulo, nos primeiros tempos
depois de Cristo, em sua Primeira Carta aos Coríntios – 1 Cor. 2, 1 – ao
tratar, por acaso, da linguagem, no anúncio da “boa-nova”, pregou “(...)
Irmãos, quando fui à vossa cidade anunciar-vos o mistério de Deus, não recorri
a uma linguagem elevada ou ao prestígio da sabedoria humana (...)”. A
“linguagem elevada” referida pelo Apóstolo Paulo, aponta para existência de uma
linguagem complexa, de difícil compreensão, que exige, necessariamente, para
sua revelação, um intérprete. Com isso, pode-se afirmar que a linguagem tanto
pode ser clara, autoreveladora, quanto complexa, de difícil compreensão, sendo
que essa exige um intérprete para revelá-la a contento. Convencionou-se que a
linguagem clara é denominada de autográfica, e a linguagem complexa, por seu
turno, é denominada holográfica, pois requer a intervenção, indispensável, de
um intérprete. A questão, porém, não é simples, porque mesmo a linguagem
autográfica exige interpretação, ou por aquele que a recebe diretamente, ou por
um intérprete. Assim, toda linguagem – autográfica ou holográfica – comporta,
naturalmente, interpretação, e o processo interpretativo, quase sempre, remete
a vários sentidos ou vertentes.
Em metade do século XIX, os filósofos
identificaram, acentuadamente, o problema entre o discurso filosófico anunciado
e o entendimento do discurso pelos destinatários dele, em face da imprecisão e
de deslizes da linguagem utilizada.
É comum haver distorções entre a linguagem
anunciada e o entendimento dela pelo destinatário. O problema é vital, vez que
a linguagem é a única forma de comunicação entre as pessoas. A linguagem tem
conotações e implicações que, não raro, depende do contexto social ou
intelectual em que é usada.
O filosofo Martin Heidegger, arredio ao
uso imprudente do vocabulário no discurso filosófico, propôs-se a definir novos
termos no discurso, para torná-lo mais compreensível, no contexto, porém não
obteve êxito em sua nobre pretensão.
O trabalho inaugural da filosofia da
linguagem, para a construção de uma teoria, foi realizado pelo filósofo, lógico
e matemático alemão Gottlob Frege, que, ao criticar o pensamento de Aristóteles
acerca da linguagem utilizada na retórica, introduziu o modelo matemático para
o entendimento da linguagem. Por exemplo, na formulação aristotélica, a
proposição: “ Itapecuru-Mirim é bonita”, há um sujeito “Itapecuru-Mirim”, e um
predicado “bonita”. Frege, por seu modelo matemático, procedeu a mudança de
paradigma, de sujeito para argumento e de predicado para função. Para ele, o
argumento e a função só terão sentido, quando agrupados, e considerando o
contexto em que a linguagem é exercitada.
De outro modo, o filosofo inglês Bertrand
Russel identificou na proposição da linguagem, as vertentes da verdade,
falsidade ou sem sentido, ao argumentar que a linguagem ideal deve ser
verdadeira, constituída de descrições justificáveis e definidas. Com isso,
construiu a “Teoria das Descrições Definidas”.
Após os pensamentos de Frege e Russel,
Ludwig Wittgenstein estabeleceu a relação entre linguagem, pensamento e
realidade. Concordou com Frege, ao dizer que o significado da linguagem está
relacionado ao contexto, e, também, com Russel, ao afirmar que a linguagem e o
contexto devem ser entendidos pelas suas descrições. Wittgenstein construiu a
famosa “Teoria da Figuração da Linguagem”, argumentando que as proposições da
linguagem são verdadeiras representações de possíveis estados de coisas – são
retratos delas.
Entretanto, Wittgenstein, em sua obra
póstuma Investigações Filosóficas, retratou-se do pensamento anterior,
sustentando que o significado da linguagem não depende do contexto e que a
linguagem é uma facilitadora da elucidação do sentido.
No desenvolvimento do processo de
“teorização da linguagem”, o filosofo inglês John Austin verificou, na proposição
linguística, os chamados “atos de fala”. Atos de fala” podem ser identificados
nessa proposição: “A mãe diz ao filho que está chovendo”, a saber:
a) A
mãe diz ao filho que está chovendo – ato locucionário;
b) Indiretamente,
a mãe também expressa que se o filho sair, deve sair com o guarda-chuva – ato
ilocucionário; e
c) E,
se acaso, o filho sair, e sair com o guarda-chuva, ao realizar o resultado do
que a mãe desejava – ato perlocucionário.
A partir das ideias estabelecidas,
conclui-se que a linguagem é uma concepção do mundo, a única forma de
comunicação entre as pessoas. Ela é um processo de vida, representando uma
comunidade de vida e, através do sentido revelado, se manifesta o mundo.
A linguagem, afinal, não é meia, mas fim
em si mesma.
Hans-Georg Gadamer, em Verdade e Método,
assinala “(...) A linguagem não é somente um dentre muitos dotes atribuídos ao
homem que está no mundo, mas serve de base absoluta para que os homens tenham
mundo, nela se representa o mundo, mas esse estar aí do mundo é constituído
pela linguagem (...)”. E mais adiante completa “(...) que não só o mundo é
mundo, apenas quando vem à linguagem, como a própria linguagem só tem sua
verdadeira existência no fato de que nela se representa o mundo”.
Nos últimos tempos, intensificaram-se
estudos e pesquisas a respeito da linguagem, que, ao lado de promoverem a
adoção de métodos, teorias e ideologias sobre proposições linguísticas,
verificaram, também, inúmeros obstáculos e problemas referentes ao alcance, por
parte da plateia – receptores – dos sentidos constantes nas proposições
anunciadas; tudo isso, enfeixa a conclusão de que toda verificação da linguagem
está apenas no começo. A linguagem é um indispensável caminho rumo ao infinito.
REFERÊNCIAS:
ARISTÓTELES.
Retórica. Edipro. Tradução e notas de Edson Bini, 2011.
HEIDEGGER,
Martin. A Caminho da Linguagem; tradução de Maria Sá Cavalcante Schnback –
Petrópolis – RJ: Vozes; Bragança Paulista: Universitária São Francisco, 2003.
FREGE,
Gottlob. Lógica e Filosofia da Linguagem. Tradução Paulo Alcoforado. 2ª ed.
Editora da Universidade de São Paulo.
RUSSEL,
Bertrand. Bertrand Russel em 90 minutos. Jorge Zahar Editor.
GADAMER,
Hans Georg. Verdade e Método I. 5 ed. Traços fundamentais de uma hermenêutica
filosófica. Tradução Flávio Paulo Meurer. Petrópolis: Vozes, 2003.
FERRY,
Luc. Aprender a Viver. 2 ed. Tradução Vera Lúcia dos Reis. Editora Objetiva.
Do livro, Púcaro Literário I (2017),
organizado por Jucey Santana e João
Carlos Pimentel Cantanhede.
*BENEDITO COROBA
Jucey Santana
Benedito de
Jesus Nascimento Neto -
Benedito
Coroba - nasceu, em Itapecuru-Mirim,
na localidade Cigana, em 12 de
setembro de 1958. Filho de Antônio Matos Nascimento e Maria Mendes Nascimento.
Aos 4 anos de idade mudou-se para casa dos
avós maternos na área urbana de Itapecuru Mirim e ao completar 6 anos, em 1964, seus pais mudaram-se definitivamente
para São Paulo, tendo o menino Benedito, ficado aos cuidados dos avós maternos,
Albino Ferreira Mendes e Cecília Abreu da Costa Mendes, que foram seus pais de
fato, a maior referencia de amor e
dedicação em sua vida.
Fez seus
primeiros estudos na Escola Paroquial e Ginásio Bandeirante, em sua cidade e
cursou o científico no Colégio São Luís, do professor Luis Rego,
na capital. Em São Luís morou com as primas, Maria José (Zezé) e Maria Benedita (Baia).
O Advogado
Em 1977, aos
17 anos ingressou na Faculdade e Direto
tendo colado grau em 1981. Posteriormente, pós-graduou-se em Direito
Constitcional.
Voltou a
Itapecuru e se dedicou a advocacia criminal e civil, atuando em toda região do Vale do Itapecuru,
Vale do Mearim e Baixo Parnaíba e com atuação no direito agrário nas
comunidades rurais de Itapecuru Mirim e
de Vargem Grande, representando os
sindicatos rurais, para solucionar questões relacionadas a desapropriações e assentamentos, entre os quais os povoados, Entroncamento e Leite, antiga aspiração dos
seus moradores.
Foi incansável
na defesa dos agricultores e dos sem terra
de toda a região do Vale do Itapecuru.
Trajetória no Ministério Público
Chegou a
pleitear o cargo de prefeito Municipal de Itapecuru Mirim em duas ocasiões, no
ano de 1988 e em 1992, sem êxito, porém, foi eleito ao cargo de Deputado
Estadual em 1990 tendo exercido até o mês de fevereiro de 1995. Na constância
do mandato de deputado, em 1994, foi aprovado em concurso para Promotor de
Justiça. Requereu ao Ministério Público
que aguardasse o término do seu mandato
para tomar posse, não sendo deferido seu pleito, perdeu o concurso.
Em abril de
1995 foi novamente aprovado para o Ministério Público, tendo assumido ao cargo
de Promotor Público em junho de 1995. Exerceu suas funções
até 13 de setembro de 2018, ocasião que sua aposentadoria foi deferida pelo
Ministério Público.
Como
Promotor Público, participou de inúmeros
congressos e seminários nas áreas, penal,
processo penal, processual civil e um extenso estudo do Tribunal do Júri em São
Paulo e Rio de Janeiro, patrocinado pelo Ministério Público, que investiu
bastante em sua carreira, que se sente eternamente grato.
Ministrou
durante 16 anos, cursos e treinamentos nas
áreas de Direito Penal e Processual
Civil aos novos colegas promotores que ingressavam no Ministério Público, e como
especializado em Júri Popular e colaborador da Escola do Ministério Público
ministrou inúmeros cursos no segmento do Júri aos colegas promotores.
Benedito
Coroba deixou o Ministério Público, como referencia no combate a corrupção e
por sua atuação no Tribunal do Júri, além de intensa atividade como Promotor no
Tribunal Eleitoral.
Ao longo da
sua carreira no Ministério Público, atuou em mais de 800 juris em todo e Estado
do Maranhão.
Foi promotor
em três Comarcas: São João Batista com abrangência a Cajapió e Bacurituba (1995 -1999); Alto Parnaíba, com Termo Judiciário de Tarso
Fragoso (1995 - 2004) e Vargem Grande de Nina Rodrigues e Presidente Vargas
(2004 – 2018). Recebeu títulos de cidadania das três comarcas e muitas
honrarias. Foi muito bem acolhido por onde passou e conquistado milhares de amigos.
A Família
Benedito Coroba é primogênito de
uma prole de oito irmãos: Francisco, Maria da Graça, Jorge, Claudia, Angela,
Célia e Humberto (Beto).
Seu pai biológico
faleceu em São Paulo no ano de 2005 e sua mãe continua em São Paulo, visitada
frequentemente pelo filho.
Ele herdou o
seu nome do avô paterno, o tabelião do 1º Ofício do Cartório de Itapecuru Mirim
e político codoense, Benedito de Jesus Nascimento, que mudou-se para o
município em 1950, para assumir o cartório, por concurso público. No
município teve relevante atuação politica, chegando a
ser eleito vice-prefeito em 1960, na chapa encabeçada por Abdala Buzar Neto.
Ainda foi diplomado mas foi vítima de morte súbita, não tomando posse.
Em agosto de
1988 casou-se com a Assistente Social
pernambucana, Teresa Barbosa Maciel
(Landi) com quem tem uma filha, Raquel e tem outra filha, Natália, de um
casamento anterior, ambas o seu grande orgulho. A filha Natália o presenteou
com uma neta.
Ao
aposentar-se Benedito Coroba pretende mudar-se para sua cidade natal Itapecuru
Mirim e reabrir o seu escritório de
advocacia para atender aos amigos e conterrâneos.
Vale registrar
que na infância e adolescência em Itapecuru Mirim, quase todos os seus amigos
atendiam por apelidos, alguns engraçados, geniais ou carinhosos. Um dos seus
colegas de colégio chamado “Cabeça de Bagre” o apelidou de Coroba, em virtude
de um pequeno incômodo digestivo. Esse apelido o acompanha sem lhe causar
constrangimento.
É coautor da obra jurídica
"Os Municípios e a Lei de Responsabilidade Fiscal".
Em 2020, foi eleito prefeito da
sua cidade natal, Itapecuru Mirim, passando a ocupar a posição
de 42º prefeito (entre eleitos e nomeados), desde 1922, quando o gestor
municipal, passou a ter essa denominação.
O ilustre itapecuruense, é
ocupante da cadeira nº 6 da Academia
Itapecuruense de Ciências Letras e Artes, tendo por patrono o ilustre
desembargador itapecuruense, Raimundo
Públio Bandeira de Melo.
BENEDITO COROBA faz parte da galeria
dos “Itapecuruenses Notáveis”, livro de
autoria de Jucey Santana, em segunda edição de 2018.