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sexta-feira, 3 de abril de 2015

ANAJATUBA E A BALAIADA


 Mauro Rego 


O município de Anajatuba, historicamente, é palco de disputas políticas entre dois grupos antagônicos, cujos interesses individuais muitas vezes prejudicam o b em estar da comunidade. Essa situação acontecia mesmo antes de sua emancipação política ocorrida em 1854.

Joaquim José da Silva Rosa Filho, o Comendador Rosa, tido como o fundador da Vila de Santa Maria de Anajatuba, disputava o poder com Sylvestre Pereira da Silva Coqueiro, ambos eleitos para a Primeira Câmara Municipal nas eleições municipais de 1855.

O Comendador Rosa, comandante do 2º Batalhão da 2ª Legião da Guarda Nacional no termo do Mearim, por isso conhecido como Capitão Mor, era amigo do também Comendador Padre Inácio Mendes do Moraes e Silva,  proprietário da Fazenda Buenos Aires, na região do Teso, em Anajatuba. Ambos foram eleitores especiais da antiga Vila do Mearim, hoje Vitória do Mearim.

A Guerra da Balaiada vinha sendo gestada em vários pontos do Maranhão, devido a insatisfações de minorias diante dos procedimentos  políticos e administrativos do poder dominante e explodiu na Vila da Manga, espalhando-se rapidamente, haja vista as várias lideranças isoladas, em várias frentes.

Os rebanhos bovinos dos campos de Anajatuba, até hoje, são remanejados para outros locais, em busca de pasto, na época do verão. O Padre Inácio Mendes de Moraes e Silva, a quem é atribuída velada orientação do levante nesta região, mandou uma boiada para Manga do Iguará, saída de sua fazenda nos campos de Anajatuba, conduzida por alguns vaqueiros chefiados por Raimundo Gomes Vieira Jutai. Esse piauiense tinha essa alcunha porque morava na ilha Jutai, próxima de Buenos Aires.

Por alguma razão, talvez por excessos decorrentes de bebidas, o delegado da região mandou prender alguns vaqueiros, causando sérios problemas na locomoção do gado, sendo alguns magotes conduzidos de volta.O subchefe do lugar era José do Egito Pereira da Silva Coqueiro, provavelmente o pai do adversário político do Comendador Rosa, ao qual pertencia o Padre Inácio, razão por que não foram atendidos os pedidos de Raimundo Gomes para que os vaqueiros fossem libertados a fim de continuarem a viagem.

Raimundo Gomes retornou a Buenos Aires a fim de comunicar o ocorrido ao seu patrão, o qual, percebendo que se tratava de retaliação política (pois sua irmã Guilhermina Julieta de Moraes e Silva era casada com um dos parentes do subchefe Silvino Pereira da Silva Coqueiro), recomendou que tentasse novamente a libertação com o argumento de o gado pertencer a um cunhado de seu parente. Acrescentou, entretanto, que se não obtivesse a libertação dos homens, os arrancasse à força da prisão.  Como Raimundo Gomes  não obteve êxito nessa tentativa, comandou a invasão da cadeia, que resultou na explosão da Guerra da Balaiada.

A velada orientação dos dois Comendadores nas ações da Balaiada, depreende-se do fato dos rebelados jamais terem assaltado fazendas nos campos que hoje constituem os municípios de Anajatuba, Arari e Vitória do Mearim. Alguns relatos de moradores antigos nos falam da acolhida de muitos balaios perseguidos em fazendas pertencentes aos dois comendadores. Também a condição de letramento de Raimundo Gomes não lhe permitia  escrever o documento de caráter político apresentado quando da invasão da cadeia, o que leva os estudiosos do assunto a atribuir a sua autoria ao Padre Inácio.

O Padre Clodomir Brandt e Silva, em seu livro Assuntos Ararienses, nos informa que Raimundo Gomes Vieira Jutai foi posteriormente ordenança de Luiz Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias.    Os caminhos da guerra da Balaiada devem, por tudo isso, serem iniciados  nas ilhas anajatubenses de Jutai e Buenos Aires, de onde partiu a boiada do Padre Inácio rumo a Manga do Iguará. Afinal de contas, a história oficial tem na tendência de estereotipar certos fatos do passado, mas sua revitalização e releitura estão sendo procuradas através da ONG Juventude sem Fronteiras e da Agência Intermunicipal de Consórcios da Região dos Lagos Maranhenses – Conlagos.

(Publicado no jornal O ESTADO DO MARANHÃO, de  São Luís (Ma), edição de 14 de dezembro de 2007 – Opinião)

( * ) - O Padre Clodomir deve ter se equivocado, pois segundo MARIA RAIMUNDA ARAUJO em seu livro EM BUSCA DO NEGRO COSME, Raimundo Gomes foi deportado e morreu em um navio).
Texto extraído do livro inédito  “As Crônicas de Anajatuba”

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