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quarta-feira, 13 de maio de 2015

A ONÇA

Por: João Carlos Pimentel Cantanhede

          Certo tempo, um homem se dava com uma mulher, mas eles não eram casados. A casa dele ficava na beira do rio e a dela numa floresta. Os encontros eram marcados por ela que sempre dizia:
– Você só deve aparecer aqui dia tal. E não venha nunca à noite!
– Tá certo! – concordava ele, mas sempre ficava desconfiado.
        Pensativo, ele decidiu fazer uma surpresa a ela e descobrir o porquê de tanto mistério. Arrumou sua bagagem e seguiu viagem. Chegou já à noitinha. Entrou na casa, mas para sua surpresa a mulher não estava lá. Procurou em todo canto e nada. Olhou para cima e viu um jirau perto da cumeeira, subiu nele e ficou escondido.
A noite foi passando e nada dela chegar. De repente, entrou na casa uma onça arrastando um porco enorme. O homem ficou quietinho no jirau morrendo de medo da onça sentir o seu cheiro e querer devorá-lo.       
            Já era madrugada, os galos começavam a trazer a luz do dia quando a onça adormeceu e desvirou, voltando a ser mulher. Nesse momento, o homem desceu cuidadosamente para não acordá-la e foi saindo de fininho na ponta dos pés. Andou cerca de cem metros, olhou para trás e pensou:
– É melhor esperar o dia amanhecer para visitá-la. Caso eu vá embora, pode ser que ela sinta o meu cheiro e fique desconfiada.
Assim, quando os raios do sol já penetravam as copas das árvores, o homem bateu na porta da casa. A mulher despertou sonolenta e veio ver quem era o visitante indesejado que aparecia em momento tão inoportuno. Ao olhar seu namorado, ela levou um susto e reclamou:
– O que você faz aqui? Nós não havíamos combinado os dias de nossos encontros!?
– Eu sei! Mas estava com muita saudade. – respondeu, tentando evitar que a mulher desconfiasse de algo. Ela espertamente pediu que ele ficasse lá o dia inteiro.
Quando a noite abraçou a floresta, o homem montou no seu cavalo e partiu. Logo que se afastou da casa, carregou sua pistola e ficou atento a tudo. Passou sobre folhas secas que fizeram barulho, cerca de dois minutos depois ele ouviu o mesmo barulho de algo passando sobre as folhas secas.
– Ela está me seguindo. – pensou ele, sentindo um calafrio correr por todo o corpo.
O homem acelerou o passo até chegar a um pequeno lago cheio de sapinhos que coaxavam alegremente, mas interromperam quando ele passava.   Porém, logo que passou os sapinhos tornaram a coaxar.
Quarenta metros mais à frente, ele percebeu o silêncio dos sapinhos. – Ela está mais perto! – pensou o homem sentindo o seu medo aumentar. Olhou uma árvore bem à frente e subiu nela rapidamente. Do alto, com sua pistola em punho ele observava atentamente.
 Ao perceber a chegada da onça, o homem rapidamente focou a lanterna direto nos olhos do bicho, e no mesmo instante atirou: pááá!!!. Ouviu-se um esturro horrendo ecoando na floresta.
Somente quando o dia amanheceu é que o homem desceu da árvore. No chão, encontrou apenas sangue derramado. Nada de onça ou mulher. Ele ficou preocupado, porém um pouco mais à frente estava uma criatura horrenda estirada no chão, metade mulher, metade onça.
– Está morta! – exclamou o homem aliviado.
Adaptação livre de um conto transmitido por Raimundo Arcênio Cantanhede (meu pai)

João Carlos Pimentel Cantanhede,escritor, pesquisador  é graduado em Educação Artística/Artes Plásticas    (Licenciatura) pela Universidade Federal do Maranhão  e tem especialização lato sensu em História do Maranhão pela Universidade Estadual do Maranhão .  Publicou os livros Cantanhede: memórias terceiras,Veredas estéticas: fragmentos para uma história social das artes visuais no Maranhão.

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