Pages

quinta-feira, 21 de maio de 2015

VIRA-BICHO

João Carlos Pimentel Cantanhede
A cidade de Itapecuru-Mirim estava silenciosa e escura naquela noite. Não me recordo agora o ano, o mês e nem o dia, mas sei que foi ainda na década de 1980. Eliene e Helena, filhas de Dico de Cipriano voltavam de bicicleta do Colégio Leonel Amorim.
Assim como a cidade, elas também estavam em silêncio, o único barulho percebido era o da velha bicicleta monark conduzida por Eliene, que trazia Helena na garupa. Desde que saíram da escola não trocaram nem meia dúzia de palavras, tudo o que elas queriam era chegar logo em casa, jantar e dormir.
Apesar da escuridão, a cidade não metia medo, não havia nela nenhum desertor, malfazejo ou coisa do tipo que pudesse tentar algo contra duas jovens, mesmo depois das 22h. Assim, elas mantinham essa rotina semanal indo e vindo de segunda à sexta de casa para a escola e da escola para casa.
A casa delas ficava cerca de um quilômetro de distância do Colégio Leonel Amorim, à direita da praça dos jegues, um pouco depois da grota. Mas elas não vinham pelo Caminho Grande, a sua rota era pela pista. Quatro ruas antes de chegar à subida do “D.E.R”, dobravam para a esquerda.
Quando elas estavam passando pela rua das mangueiras, um pouco antes do comércio do Baixinho, Eliene observa um vulto andando na direção delas, e logo é tomada por um grande pavor; sente um arrepio pelo corpo todo; e fica completamente dominada pelo medo.
 – Valha-me Deus! – suplicava em pensamento.
Enquanto isso, Helena nada percebia, pois estava na garupa, sentada de lado e olhando para outra direção.
Eliene pedalou tão rápido, que ao chegarem à sua casa, a bicicleta acabou subindo num monte de piçarra. Helena quase caiu, e até aquele momento não sabia o que estava acontecendo. Minutos depois quando já estavam em segurança foi que Eliene contou que havia visto um vira-bicho.
Os vira-bichos, conforme contam os mais velhos, são homens ou mulheres que à noite se transformam em criaturas quase do tamanho de um jumento e que roncam feito porco. Eles ficam vagando à noite procurando pessoas para passarem por cima. Quando o vira-bicho passa por cima de alguém, ele transfere a maldição para essa pessoa.

Eu nunca vi um vira-bicho, mas na dúvida, durmo sempre em rede alta para evitar que algum deles queira passar por cima de mim.
A ci

João Carlos Pimentel Cantanhede,escritor, pesquisador  é graduado em Educação Artística/Artes Plásticas    (Licenciatura) pela Universidade Federal do Maranhão  e tem especialização lato sensu em História do Maranhão pela Universidade Estadual do Maranhão .  Publicou os livros Cantanhede: memórias terceiras,Veredas estéticas: fragmentos para uma história social das artes visuais no Maranhão.

3 comentários: