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quarta-feira, 15 de julho de 2015

CEMITÉRIO DO CHICO CIGANO



Por: Jucey Santana
O cemitério do Chico Cigano e seus fantasmas era história favorita, na minha época de criança, pelos mistérios que evocava.
Constantemente as caravanas de ciganos invadiam Itapecuru-Mirim, de acordo com sua natureza e cultura nômade, com homens negociando tudo: joias, cavalos, relógios, objetos e lembranças das outras regiões de suas andanças, enquanto isso as mulheres ciganas, abordavam as pessoas nas ruas, para ler as mãos, botar cartas e assim  prevê o futuro das moradoras mais crédulas.
 Eu tinha medo porque corria boato que roubavam crianças e tinham reza forte!
Dos muitos bandos que se arranchavam nos arredores da cidade, embaixo dos mangueirais ou taperas, o do Chico Cigano (Francisco José da Costa) era muito popular na cidade, tendo angariado muitas amizades. O bando possuía até um pequeno cemitério para enterrar os seus mortos. Segundo informes, na década de 30 o chefe faleceu depois de demorada enfermidade.
Como o misticismo faz parte dos hábitos dos ciganos, o assunto “morte” era sagrado e o morto chorado muitos anos. As viúvas raspavam os cabelos, se cobriam de preto e viviam em função da memória do esposo, trazendo suas relíquias junto ao corpo, (relógio, anéis, dentadura...).
A viúva, Raimunda Cigana assumiu o "Bando" e vinha anualmente, no aniversário da morte do esposo prestar homenagens fúnebres e segundo costume cigano, trazer oferendas e fazer a manutenção do cemitério.
Depois da sua morte a tarefa ficou a cargo da sua única filha, Aldenora e seu esposo Erasmo Cigano.  Com o desaparecimento desta, dona Mariquinha de Honorato e suas filhas assumiram a manutenção do local, que consistia em uma casinha caiada, com portão de ferro e no seu interior o túmulo com um orifício ao lado para receber as ofertas das promessas.
Segundo o costume, ele se tornou “milagreiro”, protetor dos viajantes e negociantes que vinham da zona rural negociar seus produtos isto, porque os ciganos eram excelentes estrategistas nas negociatas.
Também era protetor das famílias, por ser bom pai e querido líder, mantendo as tradições ancestrais, com justiça e sabedoria. Minha mãe era devota, do cigano. Como era oriunda da zona rural, tinha fé nas crendices populares, simpatias, parteiros, mandingueiros, benzedores e até no Chico Cigano.
Texto extraído do livro Marianna Luz Vida e Obra e Coisas de     Itapecuru Mirim, de Jucey Santos de Santana





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