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sábado, 5 de dezembro de 2015

– E FAÇA-SE A LUZ...




Por: Josemar Lima
SÉRIE CRÔNICAS – ANO II/nº 24/2015

Desde a pré-história, a evolução está ligada à utilização da iluminação natural e artificial. O desenvolvimento do cérebro está relacionado às funções da visão, desde as formas de vidas mais primitivas até a espécie humana. As tribos indígenas existentes às margens do Rio Itapecuru, presume-se há mais de 10 mil anos, utilizavam a luz solar durante o dia e o fogo das fogueiras, abastecidas com galhos e troncos de madeira, para iluminação noturna.

Os franceses e, posteriormente, os portugueses chegados aqui no Maranhão no início de século XVII, trouxeram na bagagem os lampiões abastecidos principalmente com óleo baleia, entretanto essa inovação não era privilégio de todos. Os casebres que iam se formando utilizavam-se da lamparina pré-histórica baseada no modelo encontrado na gruta de Lascaux, na França, formado por um reservatório que contém o combustível e um orifício onde se ateia fogo; emprega-se um pavio de fio de algodão para conduzir o combustível à área externa do equipamento, denominado bico.

A escolha do tipo de óleo variava de acordo com a disponibilidade de materiais em cada região. As cidades do litoral sul do Brasil, pelo fato de estarem próximas às rotas migratórias de baleias, empregaram o óleo desses animais como combustível para iluminação pública e doméstica.

No Maranhão, há registros do uso da gordura do peixe-boi, no início dos tempos coloniais. Mais tarde, o óleo de mamona tornou-se o combustível mais utilizado, dada a abundância da planta nas diversas regiões do estado.

Famílias mais ricas preferiam usar óleo de gergelim ou de oliva, este último importado, por conta de proporcionarem chamas mais brilhantes e produzirem menos fumaça. Utilizou-se também álcool na iluminação pública de São Luis a partir de 1854.

Na baixada maranhense, obtinha-se óleo para iluminação a partir de pequenos peixes denominados “piabas”, que apareciam em grandes cardumes em determinadas épocas do ano, fenômeno que se observa ainda durante as primeiras chuvas do inverno em alguns municípios daquela região. Lembro o festival da piaba, realizado anualmente na cidade vizinha de Miranda do Norte.

Não se pode esquecer o uso, principalmente na região do Vale do Itapecuru, da gordura de bovinos, chamada sebo, que era empregada na fabricação de velas. A cera produzida por abelhas também serviu para produzir velas, mas a exploração desordenada provocou o desaparecimento do produto das áreas próximas às vilas e cidades.

No final do século XIX, por conta do desenvolvimento da indústria química, surgiram novos combustíveis que substituíram os antigos óleos vegetais ou animais. O mais popular deles, o querosene, alimentou e ainda alimenta lampiões e as lamparinas nos rincões maranhenses aonde a energia elétrica ainda não chegou.

Os candelabros e castiçais que amparavam as velas eram feitos de materiais diversos. Nas casas mais nobres, existiam candelabros e castiçais de bronze e até de prata.

No século XIX, com o advento da Revolução Industrial, apareceram equipamentos sofisticados, como os lampiões a querosene e as luminárias que, além de serem ricamente decorados, permitiam a regulagem da intensidade da chama, guarnecidos por mangas de vidro, podiam ser usados em áreas abertas, pois não temiam o vento. Vi muito em Itapecuru Mirim, residências de pessoas ricas ou remediadas que, considerando a inconsistência da luz elétrica, possuíam lampiões da marca alemã denominada petromax. Era um luxo para poucos!
A lamparina pré-histórica e
A iluminação pública tem como provável origem a Inglaterra no ano de 1415, quando comerciantes solicitaram alguma providência dos governantes para o combate ao crime.

A iluminação artificial dos espaços públicos com lampiões iniciou-se no século XVIII no Brasil. A cidade do Rio de Janeiro, então capital do reino, foi a primeira a contar com o serviço, que surgiu no ano de 1794.

No Maranhão, o serviço de iluminação pública foi implantado em 1825, por meio de lampiões abastecidos com óleo de mamona. Em 1854, passou-se a usar o álcool como combustível. Só por volta de 1863 a capital do Maranhão passou a ser iluminada por combustores a gás. Tal sistema exigia a existência de uma fábrica, o gasômetro, que destilava gás do carvão mineral, produto importado da Europa, e o distribuía pelos postes mediante tubulação subterrânea.

A cidade de Itapecuru Mirim, um ao após a implantação do sistema de iluminação pública com lampiões a gás em São Luis, também recebeu esse serviço então revolucionário em termos de prestação de serviços públicos e também de tecnologia.

No dia 2 de julho de 1864, conforme consta no livro O Dia a Dia do Itapecuru Mirim, de autoria do nosso conterrâneo Benedito Bogea Buzar, o desembargador Miguel Joaquim Ayres do Nascimento, vice-presidente do Maranhão, autorizou a colocação de seis lampiões à base de gás liquefeito, o mesmo sistema de São Luis, na Vila de Itapecuru Mirim. Assim, Itapecuru Mirim, passou a ser a segunda cidade do Maranhão a contar com um serviço de iluminação pública a base de gás liquefeito. Antes, em 1846, Alcântara teve instalados vinte lampiões, mas todos tendo como combustível o óleo de mamona.

Não há informações sobre onde foram instalados os seis lampiões a gás em Itapecuru Mirim, mas tudo indica que eles iluminaram antiga Praça do Mercado, onde se localizavam os principais prédios da cidade – a Cadeia Pública e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e a Casa da Câmara.

Passaram-se oitenta e cinco longos anos para que fosse dado o primeiro passo rumo à luz elétrica, que já se instalara em São Luis desde 1924. Foi em 14 de novembro de 1938 que o interventor federal Paulo Ramos autorizou que o Departamento Municipal publicasse no Diário Oficial do Estado o edital de concorrência pública para instalação de luz elétrica em Itapecuru Mirim.

Mais onze anos se passaram até que em 30 de dezembro de 1949, na presença do governador Sebastião Archer da Silva, do secretário de Interior, Justiça e Segurança, Alfredo Duailibe, de autoridades estaduais e municipais, o então prefeito Miguel Fiquene inaugurasse a usina de energia elétrica da cidade, composta de um poderoso motor CATERPILLAR a diesel, e um gerador também de alta potência acoplado, conforme visualizado na foto autêntica e atual do equipamento.

As linhas de distribuição se estendiam pelas principais avenidas e ruas da cidade, com fiação de cobre, postes de madeira lavrada e em cada um deles uma lâmpada de cem volts, protegidas por um pequeno abajur fixado na parte superior do poste. O sistema permitia também a extensão de ramais para abastecimento residencial.

Foi uma revolução para uma cidade que um dia contou com apenas seis lampiões a gás como serviço de iluminação pública.

A chegada da energia elétrica alterou profundamente a rotina dos então moradores da cidade, mesmo com as limitações ainda existentes. A usina começava o seu funcionamento às dezoito horas e funcionava, quando o motor não sofria nenhuma pane, e isso acontecia constantemente, até às vinte e duas horas; mas antes, faltando quinze minutos, era dado um sinal – apagavam-se todas as luzes por alguns segundos e depois ela retornava.

Lembro-me do desespero das pessoas que estavam assistindo filmes e a luz “piscava” e ficavam torcendo para o filme terminar antes da energia ir embora. Isso aconteceu comigo várias vezes, mas o pior mesmo era quando o filme era de terror e terminava junto com a despedida da luz.

Corríamos, eu e meus amigos da Rua da Boiada, de olhos fechados e com a lembrança das cenas do filme na memória, passando pelo largo da igreja, naqueles tempos era um areal só e lugar preferido para dormida das vacas. Os atropelamentos dos meninos medrosos com a vacas eram constantes e ai não tinha como manter os olhos cerrados.

Só na década de 70, na administração do prefeito Raimundo Nonato Coelho Cassas, chegou a energia da Usina Hidrelétrica de Boa Esperança, com posteamento de cimento armado, fiação de alumínio, lâmpadas mais potentes e, o mais importante, disponível durante as vinte e quatro horas do dia.

Um fato inusitado e tragicômico aconteceu quando a chegada da energia de Boa Esperança ainda era apenas especulação: Numa noite de inverno chegou um individuo na residência do então prefeito, Professor JOÃO DA SILVA RODRIGUES, dizendo-se engenheiro da CEMAR e que teria vindo para preparar as avenidas e ruas para a colocação dos postes que estavam chegando na semana seguinte.

A Prefeitura Municipal deu todo apoio logístico ao “engenheiro” e ele começou a cortar todas as árvores que ornamentavam a cidade e até aquelas que ficavam em quintais particulares, mas ele entendia que iam prejudicar a passagem da fiação. Foi um verdadeiro desastre – ruas e avenidas entulhadas de cadáveres de mangueiras, sapotizeiras, amendoeiras, etc...

Terminado o massacre, o indivíduo desapareceu da cidade e depois se descobriu ser um deficiente mental, um impostor, e não tinha nada de postes chegando. Foi um choque muito grande para a cidade!

Fui testemunha ocular do sofrimento do nosso honrado e querido prefeito JOÃO DA SILVA RODRIGUES com os desdobramentos políticos e oportunistas desse trágico episódio, mas a energia chegou e novas árvores nasceram na cidade...

E o motor Caterpillar, como um gigante adormecido lá na Casa de Cultura, continua sonhando que seu Chico Chofer, Nonatão ou Zé Domingos, por muitos anos responsáveis pela sua manutenção, adentre num final de tarde por aquela porta larga, apanhe a manivela e o faça roncar novamente como nos velhos tempos... Mas, também, tem pesadelos de que algum desses gestores loucos, que sempre aparecem de quando em vez, resolva um dia ter a brilhante ideia vendê-lo como ferro velho...

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