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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O VULTO


João Carlos Pimentel Cantanhede

            Zefirino, Bastião e Dica eram três irmãos que moravam em Boca do Campo, um descampado que ficava perto do Igarapé do Borocotó, cerca de uma légua depois dos Campos de Guaribas. Eles não tinham parentes nem aderentes, eram só eles nesse mundão de meu Deus. Vizinhos também não havia, pois eles rapidinho enjoavam da cara das pessoas.
            Estavam os três irmãos sentados num velho banco de madeira, na porta de casa. Era final de tarde, seisorinha, e eles ali fumando cachimbo e ouvindo a cantiga das cigarras.
            Aquela era a hora de não se fazer nada. Todos ficavam com medo, pois seis horas da tarde é a hora das almas. Zefirino tinha que tirar palmito para os animais, mas não foi; Dica não quis ir tomar banho e buscar água no Borocotó; e Bastião desistiu de sair para caçar. E assim ficaram os três olhando o descampado até onde a vista podia alcançar. Ah siô, de repente os três avistaram um vulto vindo da direção do Borocotó.
– Será que é alma?! - indagou Dica.
            Eles entreolharam-se assustados e, zilados, entraram em casa. Fecharam a porta com a meaçaba de pindoba e ficaram brechando pelos buracos na parede. Mas deixa que o vulto se aproximasse cada vez mais. “Valha-me Deus!”, suplicava Dica.
            Eles correram até o velho oratório, acenderam uma vela e começaram a rezar. Enquanto eles estavam rezando, ouviram uma voz chamando:
– Oh de casa! – Oh de casa! – Oh de casa! – chamava alguém insistentemente.
Zefirino, Bastião e Dica, mesmo tremendo de medo, abriram a meaçaba e mal acreditaram no que viram, o vulto que tanto pavor havia causado neles era apenas um velho caixeiro-viajante que procurava uma casa para passar a noite.

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