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domingo, 7 de agosto de 2016

O Pacto das Catacumbas volta à luz do dia



Raimundo Gomes Meireles

Poucos católicos têm conhecimento do Pacto das Catacumbas na Igreja Católica. Recentemente a 10ª Semana Teológica do IESMA -- Instituto de Ensino Superior do Maranhão, que teve como tema “Fé e Política”, trouxe a lume o assunto ora mencionado.

Dom Antônio Batista Fragoso, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Luís (1957-1963), primeiro reitor da Universidade do Maranhão, juntamente com o arcebispo Dom José da Mota e Albuquerque, foram membros ativos signatários do Pacto das Catacumbas.

Na verdade, trata-se de um documento firmado em 16 de novembro de 1965, por quarenta bispos da Igreja Católica Apostólica, nas catacumbas de Domitila, em Roma, no período da realização do Segundo Concílio Vaticano, após celebrarem juntos a Eucaristia.

O papa João XXIII, “il papa buono”, como era conhecido pelo povo italiano, inaugurava a era de uma igreja “servidora e pobre”, distanciada de pompa e da identificação com os ricos avarentos, na tentativa de eliminar por completo a noção de “igreja triunfalista” deixada pelo Concílio de Trento.

Compromissos

O documento firmado contém os seguintes itens de compromisso:

• Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção;

• Para sempre renunciamos à aparência e à realidade da riqueza, especialmente no traje (fazendas ricas, cores berrantes), nas insígnias de matéria preciosa;

• Não possuiremos nem imóveis, nem móveis, nem conta em banco, em nosso próprio nome; caso necessário, poremos tudo no nome da diocese, ou das obras sociais ou caritativas;

• Cada vez que for possível, confiaremos a gestão financeira e material em nossa diocese a uma comissão de leigos competentes e cônscios do seu papel apostólico, em mira a sermos menos administradores do que pastores e apóstolos;

• Recusamos ser chamados, oralmente ou por escrito, com nomes e títulos que signifiquem a grandeza e o poder (eminência, excelência, monsenhor...). Preferimos ser chamados com o nome evangélico de padre;

• No nosso comportamento, nas nossas relações sociais, evitaremos aquilo que pode parecer conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma preferência qualquer aos ricos e aos poderosos (banquetes oferecidos ou aceitos, classes nos serviços religiosos);

• Evitaremos incentivar ou lisonjear a vaidade de quem quer que seja, com vistas a recompensar ou a solicitar dádivas, ou por qualquer outra razão. Convidaremos nossos fiéis a considerarem as suas dádivas como participação normal no culto, no apostolado e na ação social;

• Daremos tudo o que for necessário de nosso tempo, reflexão, coração, meios, ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos grupos laboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que isso prejudique as outras pessoas e grupos da diocese. Ampararemos os leigos, religiosos, diáconos ou sacerdotes que o Senhor chama a evangelizarem os pobres e os operários compartilhando a vida operária e o trabalho;

• Cônscios das exigências da justiça e da caridade, e das suas relações mútuas, procuraremos transformar as obras de “beneficência” em obras sociais baseadas na caridade e na justiça, que levam em conta todos e todas as exigências, como um humilde serviço dos organismos públicos competentes;

• Poremos tudo em obra para que os responsáveis pelo nosso governo e pelos nossos serviços públicos decidam e ponham em prática as leis, as estruturas e as instituições sociais necessárias à justiça, à igualdade e ao desenvolvimento harmônico e total do homem todo em todos os homens, e, por aí, ao advento de outra ordem social, nova, digna dos filhos do homem e dos filhos de Deus;

• Achando a colegialidade dos bispos sua realização a mais evangélica na ascensão do encargo comum das massas humanas em estado de miséria física, cultural e moral — dois terços da humanidade --, comprometemo-nos: a participarmos, conforme nossos meios, dos investimentos urgentes dos episcopados das nações pobres; a requerermos juntos ao plano dos organismos internacionais, mas testemunhando o Evangelho, como o fez o papa Paulo VI na ONU, a adoção de estruturas econômicas e culturais que não mais fabriquem nações proletárias num mundo cada vez mais rico, mas sim permitam às massas pobres saírem de sua miséria;

• Comprometemo-nos a partilhar, na caridade pastoral, nossa vida com nossos irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que nosso ministério constitua um verdadeiro serviço; assim: esforçar-nos-emos para “revisar nossa vida” com eles; suscitaremos colaboradores para serem mais animadores segundo o Espírito, do que uns chefes segundo o mundo; procuraremos ser o mais humanamente presentes, acolhedores; mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião;

• Tornados às nossas dioceses respectivas, daremos a conhecer aos nossos diocesanos a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por sua compreensão, seu concurso e suas preces.

Os bispos encerraram o compromisso alhures declarando: “Ajude-nos Deus a sermos fiéis”.

Dom Antônio Fragoso, um dos últimos remanescentes do Pacto das Catacumbas, foi fiel até o final de sua vida às prerrogativas do referido Pacto: sua postura foi sempre de um homem simples e humilde, morreu no sábado do dia 12 de agosto de 2006, pobre e despojado de bens materiais. 





               

4 comentários:

  1. Um importante texto informativo do confrade, Raimundo Meireles!

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  2. O nosso conterrâneo Padre Meirelles nos informa de importante acordo firmado nas Catacumbas de Santa Domitila. Não tinha conhecimento do PACTO.

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  3. Com certeza o nosso querido papa franciscano vai fazer valer o importante Pacto na igreja.

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