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quinta-feira, 4 de agosto de 2016

VALLE DE CARVALHO

   

Por: Jucey Santana

            Raymundo Alexandre Vale de Carvalho nasceu no povoado de Cantanhede pertencente à Vila de Itapecuru Mirim em  17 de abril de 1831. Filho do Major Antônio Lourenço de Carvalho, abastado lavrador da região e  de  Anna Maria Duarte do Valle, de importante família maranhense. Ele notabilizou-se como professor, político, magistrado, delegado e poeta.

            Apesar das perdas sucessivas da mãe em  5 de março de 1840 do pai em 28 de abril de 1851 e de alguns irmãos  nunca desanimou, sendo sempre o maior ponto de equilíbrio e apoio da família e exemplo aos irmãos menores. 

            Estudou no Colégio Dr. Perdigão e no Liceu Maranhense. Ao concluir o curso em 1848, recebeu o prêmio de primeiro lugar, outorgado pela Inspetoria de Instrução Pública do Maranhão. (Publicador Maranhense, 14.2.1849). 

            No inicio de 1849 partiu para Recife para cursar Ciências Sociais e Jurídicas. No terceiro ano do curso de Direito, em 20 de dezembro de 1852, foi premiado por deliberação unânime  da Congregação da Faculdade, com o melhor  aproveitamento acadêmico. Colou grau em 22 de novembro de 1854.

                                              Atuação Profissional

            De volta ao Maranhão em 23 de julho de 1855 foi nomeado promotor público da Capital pelo presidente da Província e por Decreto Imperial de 28 de setembro do mesmo ano foi nomeado Juiz de Órfãos e Ausentes, mesmo em meio a duras críticas da  oposição que alegava  inconstitucionalidade do ato pelo fato do jovem magistrado ainda não ter completado um ano de formado  (Publicador Maranhense, 28.12.1855). Como juiz, foi  brilhante em seus despachos, sendo admirado  até pelos colegas mais antigos e experientes.

            Afastou-se da magistratura em 1856, por ter sido eleito para Assembleia Provincial.  Serviu a legislatura até 1857. Como deputado teve uma brilhante atuação como presidente de diversas comissões      de importantes projetos como:  

       − Criação de uma fazenda Modelo ou Escola Prática de Agricultura para o aperfeiçoamento agrícola de jovens  maranhenses; 
      − Autorização à Santa Casa de Misericórdia para construir o Cemitério do Gavião (O Observador, 16.7.1856);
        − Concessão a particulares ou empresas  da construção de uma estrada de ferro de Caxias à Teresina (PI);
     − Elevação do número de estudantes na Escola de Artífices, Asilo de Santa Teresa e Recolhimento de Nossa Senhora da Anunciação e Remédios mantidos pela Província.
     − Confecção de uma lápide de mármore para o jazigo de Eduardo Olímpio Machado, presidente da Província (1851-1854),  falecido 14 de agosto de 1855.
         − Projetos para melhoria do salário do médico dos presos e dos alunos dos Asilos.

            Foi professor de gramática do Liceu Maranhense.
            Pertenceu a Associação Bancária Mercantil Maranhense (Diário do Maranhão, 26.6.1857).

            E como acionista da Companhia de Navegação à Vapor Maranhense, fez parte do projeto em 1856, da construção do canal Lajem Grande no rio Mearim, para melhoramento da navegação, tendo sido incumbido pelo presidente da província Antônio Cruz Machado para executar a obra  o engenheiro francês  Visconde  Henrique Saint-Amand. Através do Dr. Valle de Carvalho, foi recrutados mais de mil homens (escravos e libertos), na ribeira de Itapecuru para o trabalho no canal.  Sabe-se que a obra ficou inconclusa. 

            Em 4 de abril de 1858, foi nomeado delegado de polícia da capital, em substituição à outro itapecuruense, Antônio Marcelino  Nunes Gonçalves o Visconde de São Luís, por ocasião da retirada deste para assumir a província do Rio Grande do Norte (Vr. Nunes Gonçalves). 

            Em 26 de maio de 1858 reassumiu a função de Juiz de Órfãos e Ausentes, justificando que seu  estado de saúde não lhe permitia exercer as funções de chefe de policia  da Capital. 

            Em 1857 concorreu a uma vaga de deputado geral. Ficou na suplência, não chegando a assumir o mandato.       Casou-se em 12 de dezembro de 1857 com a prima Clementina Rita Bayma de Carvalho. O casal não teve filhos.

                                           Atuação Literária

         Valle de Carvalho era apaixonado pela poesia desde os bancos escolares. Ele foi membro e presidente de diversas instituições literárias,
            Foi  fundador da Sociedade Vinte e Oito de \Julho, criada em 30 de setembro de 1858, com o principal objetivo: de sempre tornar lembrado a data da Adesão da Província  a causa da  Independência do Brasil e inspirar a mocidade a um patriotismo verdadeiro. 

            Por ocasião do falecimento do amigo e conterrâneo  Lisboa Serra, ele dedicou-lhe uma  crônica biográfica, “Uma lágrima à memória do Exmo. Senhor Conselheiro João Duarte Lisboa Serra  publicada originalmente  no Observador de Lisboa em 14 de maio de 1855,e transcrita, na seção  Necrologia do Pantheon. Valle de Carvalho nos meios jornalísticos e literários era comparado à Lisboa Serra (Vr. Lisboa Serra).

            No folhetim Parnaso Maranhense, do jornal  A Imprensa de 2 de novembro de 186i foi dedicado ao ilustre itapecuruense:

O nome  do Dr. R, Valle de Carvalho, (mais um maranhense  distinto e morto em flor) ocupa o lugar honroso nas páginas do Parnaso. São duas poesias que lá aparecem ambas  muito apreciáveis. O soneto parodiando o de Bocage que diz: Se é doce no recinto ameno  estio – está perfeito e estabelece verdadeiras antíteses nas suas imagens tristes e imagens risonhas do autor da “Saudade Materna”...

            O jornalista Francisco Nunes Cascaes, amigo do magistrado assim se expressou depois do precoce falecimento do amigo que disse conhecer desde a infância:

... Magistrado ainda no albor da idade, encarregado dos órfãos ele se fez provecto. A mocidade não perdeu um juiz, foi mais um pai e protetor dos órfãos. (A Imprensa, 20.3.1859).

                Faleceu em 18 de março de 1859, aos 28 anos  de idade de febre tifoide, causando grande comoção em toda a sociedade maranhense. Foi sepultado no cemitério Senhor Bom Jesus dos Passos.  Na ocasião faleceram dois escravos da sua propriedade com a mesma moléstia: Jesuína e Virgulino.

            Abaixo um texto de sua autoria:

                         O Imortal 7 de Setembro

Alça a fronte gentil e soberana,
Exulta, ó meu Brasil idolatrado!
Maldito o filho teu, que não s ufana
De saldar este dia abençoado.

Os tiranos julgaram-te um escravo,
E eras um gigante que dormia:
Despertastes afinal do ono ignaro,
E por terra caiu a tirania!

Neste dia surgistes radiante,
No banquete dos livres  te sentaste;
E o destino bradou-te avante, avante!
E avante seguro caminhaste.

Eia, pois, meu Brasil, rico, opulento,
Não temas exaurir a tua vida,
Um brilhante passado te sustenta,
Um risonho futuro te convida.

Roma foi o teatro de um guerreiro,
E depois a nação os reis do mundo!
O teu Rômulo foi Pedro Primeiro,
O teu Numa será Pedro Segundo.

Ergue-te vasto Império Americano,
Avulta então as nações, és grande, és forte,
O teu povo é um povo soberano,
Liberdade é razão – eis o teu norte.

Ganhaste com teu sangue a liberdade,
Ganha  com a liberdade a fama e glória;
Teu nome viverá na eternidade,
O porvir passará na tua história.

Alça  a fronte gentil e soberana,
Exulta, ó meu Brasil idolatrado!
Maldito o filho teu que não se ufana
De saudar este dia abençoado.

Jornal do Comércio, 7.9.1858.

     Do livro ITAPECURUENSES NOTÁVEIS (2016) de autoria de Jucey Santos de Santana

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