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quarta-feira, 28 de setembro de 2016

ITAPECURU-MIRIM




       


Por: Nascimento Araújo

Dentro do peito guardo a minha Terra,
Assim, como se guarda avaramente,
Insondável tesouro em que se encerra
A mais bela das gemas encontradas
Em meio às urzes – palmilhado  ingente –
Nas longas e difíceis caminhadas.

Na história dessa gente abençoada,
Há dramas, alegrias e comédias,
Como, também, há lutas e tragédias,
A contemplar-se em grande revoada,
Quais andorinhas, alto esvoaçando,
A festejar o tempo perpassando.

No ritmo de vidas esplendentes,
Há galardões imensos no arrebol
Dos muitos que passaram; dessas gentes,
Cuja honra tenaz ainda reboa,
Ora como o luzir de uma coroa,
Ora como o fulgir de um lindo sol.

Eis que um jorro de Luz – Luz ofuscante –
Da velha Europa as glórias eternais,
Ultrapassa o fulgor tonitruante.
Foi, com certeza, exuberante cousa,
O gênio, a fama, o brilho, colossais,
Desse filho ideal – Gomes de Sousa!

Na grandeza, de um astro, de primeira,
Que o jornalismo máximo apregoa,
Existe a voz impávida, altaneira,
Da pena modelar de João Lisboa,
No seu Tímon, que dardejando a luz,
A nossa geração ainda conduz.

Quando devo trazer à luz rima,
Os louros desse filho, também nato,
Da terra em que nasci tudo me anima,
A cantar e exaltar talento e veia,
Das Letras Brasileiras – Viriato
Que eternizou, em glórias, os Correia.

Ergo sublime a taça deste encanto,
A brindar com respeito e devoção,
O talento invulgar de um beletrista;
De um portento cultor – de um estilista –
Dessa Terra: é José Sampaio Simão,
O General, que me inspira este canto.

Todo um sonho de amor e de beleza
Houve sempre por bem enaltecer
O valor deste filho um – Menestrel –
Um doce sabiá do entardecer –
A rimar dessa Gleba a natureza,
Em versos magistrais – Hermes Rangel.

Tudo encanta o viver de minha Terra,
Através desses grandes que deixaram
Policromia réstia que conduz,
Ao mundo da poesia e ali descerra
Os belos versos que imortalizaram
A poetisa Mariana Luz.

Assim se multiplicam muitos filhos,
A honrar o fulgor de minha Terra.
É aqui Tiago Ribeiro, o professor,
De jovens; esperança que se encerra,
No paladino esforço promissor,
Rompendo a velha guarda dos empecilhos.

No magistério, tantas gerações,
Fluíram certo, um magno esplendor,
E quantas almas, de nobreza e amor,
Tenho a exaltar – e disto não me fujo
Na competência e grandes gerações
Das professoras  Santos e Araújo.

Nos pródomos dos grandes vicejaram
Muitas e muitas frondes farfalheiras,
Quando frutos  ótimos sazonaram
No sangue vigoroso dos Nogueiras.
E assim cresceram filhos dedicados,
Aumentando o valor dos já passados.

Dentre os vultos e nomes do alicerce
Desse Itapecuru-Mirim querido,
E de notar-se outro que merece
Engrandecer e honrar com mais um elo,
A esse povo jamais, nunca esquecido.
Ei-los quem são: os  Bandeira de Melo.

Recordo bem, eu era ainda mocinho,
Quando, em noites saudosas, a cismar,
Ouvia-se um cantor – não eram raros,
Era a voz tão bonita do Dominho,
Erguendo, em honras lindas de luar,
A simpatia e o nome dos Sitaros.

Os derradeiros sons – quanto se ouvira,
Ainda reboam longe, em soledade,
Do mavioso canto!... E foi Zulmira
Fonseca, alegre espirito de escol.
Recordo sempre... e sempre com saudades...
A voz desse bondoso Rouxinol.

É-me grato cantar a minha Terra,
Revendo a história e a fama desses sóis
Que tantos louros sua vida encerra.
Recordar é viver,  a recordar,
Sinto na alma o esplendor dos arrebóis
De tanta luz em lindo espadanar!

Perdoa, ó minha Gleba, se este canto,
Não corresponde ao tanto que devia;
Se porventura omisso, assim, pequei!
Tudo fiz, com certeza, entretanto,
Para dar-te o melhor que possuía,
De coração rimado o que rimei!

Há de bastar-me como ingente gôzo,
Ver tanta gente que te honrou profundo,
Eternizada nestes versos meus;
Há de ser minha voz, de alguém ditoso,
Ao menos pela sorte, neste mundo,
De ter sido menor dos filhos teus.


              Do livro CASTÁLIA ILUMINADA (1967) de autoria do poeta itapapecuruense Juvenal Nascimento de Araújo, patrono da cadeira nº 15 da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes  - AICLA




Um comentário:

  1. Eu, o segundo filho de Juvenal Nascimento de Araujo, em meu nome e dos demais meus seis irmãos, ficamos bastante comovidos pela sua publicação de um dos mais bonitos poemas do nosso pai. Nosso muito obrigado pelo reconhecimento.
    José Andrelino (joseandrelinocd@gmail.com)

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