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sábado, 31 de dezembro de 2016

TERESINHA BANDEIRA



Por: Jucey Santana

Teresinha de Jesus Bandeira de Melo Marques  nasceu  em Itapecuru Mirim, no povoado Laranjeiras em 27 de outubro de 1927.  Filha de Boaventura Catão Bandeira de Melo Júnior, coletor federal e  Benedita Francisca Barbosa Bandeira de Mello. Caçula de uma prole de 18 irmãos entre eles a poetisa Lili Bandeira e o poeta Luís Bandeira de Melo.

Teresinha Bandeira iniciou seus estudos com a Professora Zulmira Fonseca e deu continuidade no Grupo Escolar Gomes de Sousa. Em seguida, ingressou  no renomado  Instituto  Rio Branco, sob a direção do professor João Rodrigues. Ao concluir o curso no Instituto já estava determinada a seguir a carreira de professora normalista. Na ocasião  o professor João Rodrigues aconselhou seu pai, o major Bandeira, que a encaminhasse  para os estudos avançados na capital, sendo reforçado pelo professor Newton Neves, que confirmara  os conhecimentos da aluna, em exame minucioso. 

No início de 1940  a aluna   seguiu para a capital estudar  na Escola Arimatéa Cisne.  No ano seguinte  ingressou no Ateneu Teixeira Mendes, sob a direção do Prof. Francisco Solano Rodrigues por orientação do prof. Newton Neves, tendo sido aluna  do professor itapecuruense Astor Serra.  Com o falecimento do pai em 1942, Teresinha Bandeira interrompeu os estudos voltando a Itapecuru Mirim.

Trajetória na Educação  de Itapecuru Mirim

 Ao chegar a Itapecuru Mirim, foi convidada pelo professor  João Rodrigues para ser auxiliar de professora no Instituto Rio Branco,  iniciando o seu sonho. Quando o prefeito de Itapecuru Mirim, Felício Cassas abriu concurso para professor público, Teresinha Bandeira mesmo sem ter maioridade, passou em 1º lugar, sendo lotada na escola Dr. Getúlio Vargas.

Apesar dos baixos salários com frequentes atrasos,  tendo de arcar com a despesa da família, por ter ficado viúva em 1961, e sofrer perseguições políticas,   nunca perdeu o ânimo para exercer a sua  profissão, alimentando a esperança de formar seus filhos e, também, de completar seus estudos. 

 O ilustre professor, João da Silva Rodrigues, na condição de prefeito Municipal, em seu segundo mandato, priorizou, entre outras coisas, a educação e, pela Lei Municipal nº 216, de 23 de setembro de 1966, transformou a Escola Agrupada Dr. Getúlio Vargas em Escola Mariana Luz.
Para melhor administrar e assistir as escolas municipais, o prefeito criou a Secretaria Municipal de Educação, nomeando-a desta vez, como a primeira Secretária Municipal de Educação de Itapecuru-Mirim.  Com apenas a 2ª série ginasial (hoje, 7º ano do Ensino Fundamental). 

Desempenhou com dignidade e respeito todas as funções exercidas, sendo seu trabalho reconhecido pelo público  e pelas autoridades políticas. A professora leiga, diretora de Escola e Secretária Municipal de Educação, aposentou-se  pelo Decreto Municipal nº 37 de 31 de dezembro de 1969. 

O novo Prefeito, Dr. Raimundo Nonato Coelho Cassas, substituindo a Secretaria Municipal de Educação, promulgou a Lei nº 337/70, de 27 de abril de 1970, criando o Setor de Educação e Cultura, nomeando, em 15 de junho de 1970, Teresinha  Bandeira de Melo  para exercer o cargo de chefe do Setor de Educação e Cultura, a qual deu continuidade ao seu trabalho nas escolas municipais, com satisfatória eficiência e destaque. Realizou entre outros empreendimentos, cursos de aperfeiçoamento para professores municipais,  concurso municipal para professores leigos. 

Dirigiu os trabalhos comemorativos dos 100 anos de elevação ao status de  cidade,  em 21 de julho de 1970. 

Neste evento foi cantado, oficialmente,  o Hino de Itapecuru Mirim,  por um coral formado por 100 professores municipais, música e letra do Maestro Sebastião Pinto, arranjos orquestrais de Feliciano Carlos da Costa Lopes e Joaquim Henrique de Araújo. Ainda em 1970, participou do I Encontro de Representantes dos Órgãos Municipais de Educação, promovido  pela Assessoria Técnica aos Órgãos Municipais de Educação - ATOME, e do Projeto RONDON, Coordenação Regional na Amazônia Oriental. Lecionou durante três anos pela Campanha de Alfabetização de Adultos, depois MOBRAL- Movimento Brasileiro de Alfabetização, no qual participou de modo expressivo nos trabalhos de instalação e atividades do mesmo, recebendo em 1972, Diploma da Comissão Municipal do MOBRAL, em reconhecimento ao seu trabalho realizado em Itapecuru-Mirim. Ainda em 1972, organizou no município, a Corrida do Fogo Simbólico da Pátria, da Liga da Defesa Nacional no Sesquicentenário da Independência do Brasil e recebeu Diploma de participação da tradicional corrida.

Terezinha Bandeira e a Família

 Em 1974, Teresinha Bandeira concluiu o ginásio, no Colégio Leonel Amorim, em Itapecuru-Mirim. O sonho, cultivado ainda em criança e adormecido pelas vicissitudes da vida, concretizou-se em 16 de dezembro de 1987, concluindo o  Curso de Habilitação Profissional de Magistério, no Colégio Henrique de La Roque, em  São Luís (MA). Na sua avaliação, se sente realizada  por ter sido professora.

Em 21 de março de 1945,  contraiu  matrimônio com  Raimundo Nonato da Silva Marques (Moizinho), na cidade de Rosário (MA). Do consórcio nasceram-lhes os filhos: João Boaventura e Maria do Socorro. Teresinha Bandeira é motivo de orgulho para os  familiares e conterrâneos  pelo exemplo de vida.

Dona Teresinha de Jesus Bandeira de Melo Marques, faleceu em  31 de dezembro de 2016, aos 89 anos ao lado dos filhos João Boaventura e Maria do Socorro.


    O texto faz parte da obra Itapecuruenses Notáveis (2016) de   autoria de Jucey Santos de Santana

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

MEIO SÉCULO DE FORMATURA




        

Por Benedito Buzar
 
No dia 22 de dezembro de 1966, há 50 anos, em solenidade realizada no auditório da Associação Comercial do Maranhão, eu colava grau em Ciências Jurídicas e Sociais, pela antiga Faculdade de Direito de São Luis, estabelecida e funcionando na Rua do Sol, onde ingressei em 1962, época em que existiam apenas as Faculdades de Direito, Farmácia e Odontologia, mantidas pelo Governo Federal, a Escola de Enfermagem São Francisco de Assis, a Faculdade de Serviço Social e a Faculdade de Ciências Médicas, integrantes da SOMACS ,– Sociedade Maranhense de Curso Superior, criada por Dom José de Medeiros Delgado, que originou mais tarde a Fundação Universidade do Maranhão até transformar-se em 1967 em Universidade Federal do Maranhão.

Em 1962, com 22 anos, obtive duas brilhantes vitórias. A primeira, resultado do exame vestibular ao curso de Direito, com provas escrita e oral, sendo sabatinado pelos temidos professores Fernando Perdigão e Pedro Neiva de Santana. A segunda, decorrente do teste das urnas, eleito deputado estadual à Assembleia Legislativa, pelo Partido Social Progressista.

Da turma que colocou grau junto comigo, lembro de Ana Maria Jorge, Antônio Carlos Neves, Eulina Maranhão, Ilná Vasconcelos, Jorge Gonzalez, José de Arimatea Fonseca, Caldas Góis, José Francisco Lobato, Guilherme Fecury, José Orlando Lima, Maria de Jesus Sousa, Maria de Jesus Nogueira, Murilo Messeder, Nelson Reis, Petrônio Sá, Reinaldo Carneiro, Sidney Ramos, Walter Castro, Wilmar Sá e Yolanda Neves.

Alguns, como Antônio Carlos Neves, José de Arimatea Fonseca, Guilherme Fecury, José Orlando, Petrônio Sá e Sidney Ramos já partiram para a eternidade; outros, contudo, não sei o que fazem e por onde andam. Dos que exercem a profissão de advogado, restam José Francisco Lobato e José Caldas Góis, este, chegou à presidência da Ordem dos Advogados do Brasil, no Maranhão.

De minha parte, confesso o arrependimento de não ter militado na advocacia, mas conforto-me e orgulho-me de ostentar na minha biografia o título de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Quem sabe se tivesse optado pela profissão, não seria hoje um desembargador ou um promotor aposentado.

Se não cheguei a ser um profissional da advocacia, não foi por deficiência do curso ou incompetência dos professores da Faculdade de Direito. Nada disso. O curso, além de bem estruturado e com disciplinas ajustadas à realidade jurídica brasileira, era ministrado por um elenco de mestres em sua grande maioria preparados e capazes intelectualmente de atuar na docência de grau superior.

Não posso esquecer e até hoje guardo na memória o nome de professores daquela magnífica Congregação, que ajudaram, pela sua grandeza moral e intelectual, a iluminar o meu caminho e de outros bacharéis, com ensinamentos que nortearam as nossas vidas para o Direito se impor como Ciência.

Para homenageá-los, com respeito e admiração, os nominarei individualmente: Fernando Perdigão, Pedro Neiva de Santana, Antenor Bogéa, Doroteu Soares Ribeiro, Mário Santos, Domingos Vieira Filho, José Joaquim da Serra Costa, José Maria Ramos Martins, Clodoaldo Cardoso, Tácito Caldas, Orlando Leite, Wady Sauaia e Helena Caldas.

Coincidentemente, em 1966, Maria Célia, minha irmã, também colou grau pela Faculdade de Ciências Médicas do Maranhão. Quem conheceu o meu pai, Abdala Buzar, sabe que ele era um tremendo festeiro. Para comemorar aquela dupla formatura familiar, ele promoveu uma festa de arromba em Itapecuru, no dia 25 de dezembro de 1966.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

ETNOCÍDIO



          

Daniel Ribeiro

Noutra Nau chegam os infectos
Violentam a atmosfera dessas matas
Ouçam o canto de lamúria Tupinambá
Deleita-se sobre as retinas a agressão.

Noutras virgens procriavam Kayapós
Às fêmeas efêmeras dessa Terra
Cunhadas aos montes se infectam
Dão a luz aos seres mamelucos.

Gozam de tuas praias
Os pés doutro mundo
A vos capturar em massa.

Resistem os guerreiros Guaikuru
Fogem Xavantes, Kaingang, Yanomami
A dor é transmitida em Nheengatu.

A dominação falada em Tupi
Compõe a liturgia do extermínio
Celebrada em ritos jesuíticos.

Essa gente não é ameríndia
Nem tão pouca o deus Maíra
São uma insígnia epidemia.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

ORIGEM DE ITAPECURU MIRIM OU FÁBULA DOS ANIMAIS ITAPECURUENSES



João Carlos Pimentel Cantanhede 

Existem muitas versões para narrar a origem de Itapecuru Mirim, mas poucos sabem qual delas é a verdadeira. Segundo alguns, a nossa cidade surgiu do esforço comum entre bichos e humanos para a criação de uma pequena povoação às margens do rio. 

Vários animais faziam parte da população e sociedade itapecuruense, exerciam, inclusive, cargos importantes. Algumas raposas e toupeiras chegaram a exercer o cargo de prefeito. Em Itapecuru Mirim, não somente os homens e seus parentes eram homenageados dando nomes a logradouros, existe a famosa “Praça dos Jegues”, em homenagem ao mais trabalhador dos animais de nossa cidade; temos também as localidades “Vaca Branca” e “Morro do Burro”, em homenagem à vaca e ao burro, respectivamente. 

Todos viviam em harmonia até que, incomodados com o status atingido pelos bichos, os humanos tramaram uma maneira de expulsá-los. Em Itapecuru, quando algo estava errado, a culpa, amiúde, recaia sobre algum animal. Buscaram nas características de cada um, a maneira de acusá-lo: o porco foi acusado de sujar as ruas; a toupeira, de cavar e destruir tudo; a traíra, de não ser confiável; o lobo, de ser malvado; a cascavel, de ser perigosa e traiçoeira, o burro e o jumento foram considerados ignorantes e incapazes; o gato e a raposa, de serem ladrões; e a preguiça, de lentidão e comodismo. Assim, todo bicho sofreu algum tipo de acusação. 

No julgamento, os humanos conseguiram de forma ardilosa condenar todos os outros habitantes da cidade. Como punição foram definidas a submissão ou desterro. Dos animais que escolheram o desterro, o bagre foi para Igarapé do Jundiaí, a vaca foi para o brejo, e a égua foi para a baixa, hoje conhecida como baixa da égua.

Mas quisera o destino que, com o passar dos anos, os homens itapecuruenses perceberam que eram eles os possuidores daquelas características atribuídas aos bichos. Era observada  diariamente em Itapecuru Mirim, gente com todo tipo de comportamento nocivo, que logo passou a receber adjetivos associados aos bichos: porcos, raposas, traíras, cascavéis, preguiças e tantos outros. Estava a cidade habitada somente por bichos. Não mais os antigos e inocentes. Eram estes agora, chamados  bichos-homens.