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terça-feira, 5 de setembro de 2017

CONVERSÃO ECOLÓGICA: Uma proposta de cuidado do planeta na laudato si


                                           
    Jean Carlos dos Santos


“A natureza, especialmente em nosso tempo, está tão integrada nas dinâmicas sociais e culturais que quase já não constitui uma variável independente” (Papa Bento XVI)

1.      Apelo do Papa Francisco

Na atualidade o mundo passa por uma transformação profunda. Essa se revela nos mais variados campos da existência, inclusive na perspectiva humana. As mudanças são inevitáveis e surgem como possibilidades de readequação na maneira do relacionamento do ser humano consigo mesmo e com o outro, o diferente. A dificuldade é grande para se ter essa compreensão, pois há mecanismos que interpelam o agir humano dificultando uma melhor reflexão sobre as consequências de sua ação. É necessário dizer que a economia, enquanto ação na perspectiva de acúmulo e lucro delineia uma nova ordem social e cria relações de domínio e poder exclusivista.
Nestes últimos tempos, por outro lado, tem-se desenvolvido uma consciência planetária de interdependência da vida, expressa em múltiplas formas, com o cosmo. Muitos grupos sociais têm se movimentado para que o planeta tenha um olhar sobre si mesmo e que surjam ações positivas que o ajudem a ser uma “casa comum”..
O Papa Francisco chamou a atenção do mundo em 2015 lançando uma Encíclica que volta sua preocupação para o nosso relacionamento com o meio ambiente, em especial com o planeta terra. Ele reflete que a nossa terra esta maltratada e que a causa de tudo isso é o nosso mau uso dela. Afirma Francisco: “Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos pensando que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la”[2].
Essa constatação de que somos responsáveis pelo mau uso do planeta em sua biodiversidade é o ponto de partida para compreender a urgência de uma tomada de consciência a respeito do nosso ser e estar no mundo. O Papa elenca duas motivações  importantes para que haja um debruçar-se sobre a nova consciência planetária.
Para isso ele menciona, em primeiro lugar, que o “urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral”[3]. Em segundo lugar, é aberto um convite para “renovar o diálogo sobre a maneira como estamos construindo o futuro do planeta”[4]. Estas duas motivações ajudam a criar um espaço de abertura para um debate mais proveitoso a partir da consciência de pertença do ser humano e este planeta e também do cuidado que o mesmo deve ter para com ele.

2.      Olhando a realidade do ambiente

Depois de se ter abordado sobre o convite do Papa Francisco para refletir mais a respeito do nosso agir no mundo dentro do aspecto do cuidado com a vida do planeta. É importante que se diga que esse clamor franciscano é unido às muitas vozes que ecoam seus gritos em defesa do meio ambiente pelo mundo inteiro. Já há muito suor derramado nesta luta. No entanto, devido a situação real de hoje, não é permitido que paremos os clamores e nas tentativas de ações promovam uma consciência ecológica.
Para isso devemos olhar mais quais os aspectos que são fortes e que incidem sobre a realidade no que diz respeito à agressão do meio ambiente. Entre tantos, pode-se destacar: a poluição que afeta diariamente as pessoas; a cultura do descarte, na qual não se aproveita nada do que já foi utilizado, mas apenas se descarta como lixo.
Tudo isso leva a uma série de consequências. Essas consequências se traduzem em mudanças climáticas que geram graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade[5]. O ser humano e as outras espécies fazem múltiplas imigrações e novas adaptações. Muitas vezes estas adaptações são com sucesso e outras vezes não. Isso ocasiona até extinção de inúmeras formas de vida do planeta.
Ademais, temos um aspecto relevante que gera disputas e confusões dentro dos recursos naturais. É o elemento “água”, tão fundamental para a vida. Na reflexão da Encíclica ao abordar a temática água, ela sustenta que a água potável e limpa é de suma importância porque é “indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos”[6].
Aqui entra um termo que revoluciona toda a ação humana no seu entendimento como parte integrante deste planeta e sua relação com o próprio meio. É a questão a da sustentabilidade. Ela mexe com a visão antropológica do ser humano como aquele que intervém saudavelmente na natureza, portanto com a mística do cuidado, ou como aquele apenas vê a natureza apenas como fonte de riqueza e lucro desenfreado.
A água é um desses recursos do qual se tem a visão que deve ser explorado na perspectiva micro e macro econômica, gerando lucro para alguns e deixando toda uma gama de pessoas a margem do uso desse recurso vital. Essas pessoas são os pobres que vivem diante do caos de não poderem usufruir da água boa para o consumo e tem que pagar até com as próprias vidas. São vítimas de várias doenças oriundas do manuseio da água não adequada para o ser humano[7]. Essa é uma realidade que afeta milhões de pessoas pelo mundo e que só agrava cada vez mais.

3.      Igreja do Brasil: perspectiva propositiva

A Igreja Católica no Brasil todo ano lança no período quaresmal a Campanha da Fraternidade a qual sempre reflete um tema que aborda uma temática social. Este ano ela fez eco à voz do Papa Francisco sobre o cuidado com a casa comum. O tema proposto para que os cristãos e cristãs, também os homens e mulheres de boa vontade, possam refletir sobre os “biomas brasileiros e defesa da vida”.
Essa Campanha da Fraternidade tem como objetivo: “Cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho”[8]. É uma preocupação para trazer à sociedade uma reflexão que ajude a olharmos e entendermos os nossos biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampas. Também ver qual é a nossa relação íntima com eles enquanto parte constitucional e relacional com os mesmo e, quais as influências que sofremos deles e temos sobre eles.
Nós aqui no Vale do Itapecuru estamos inseridos no bioma da “Amazônia legal”, embora sendo da região nordeste do país. As nossas preocupações com o bioma amazônico devem ser uma grande tarefa. A bacia amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo: cobre cerca de 6 milhões de km²  e tem 1.100 afluentes. Seu principal rio é o Amazonas, que corta a região para desaguar no Oceano Atlântico e lança ao mar cerca de 175 milhões de litros d’água a cada segundo. Ele carrega uma quantidade imensa de material orgânico e sedimentos  lançados no oceano. Isso gera uma biodiversidade marinha e contribui para o equilíbrio da temperatura do planeta[9].
Baseado nestes dados já se percebe toda a magnitude deste bioma e da extrema relevância que o mesmo tem como objeto de nosso cuidado. Cuidar deste e dos outros biomas é uma questão de necessidade e de sobrevivência para o capital da biodiversidade. Qualquer descuido ou negligência neste aspecto servirá como potencialização de consequências desastrosas e danosas para todos, como de fato já vem acontecendo no percurso histórico.

4.                      Breve conclusão

Tentando refletir um pouco sobre a questão da criação de uma consciência ecológica, a partir da perspectiva da Encíclica “Laudato si”, do Papa Francisco. Observou-se que a preocupação com a situação da casa onde moramos, a qual é denominada de casa comum é a fator motriz de tudo o que vem depois nesta abordagem.
Pode-se compreender que trazer essa reflexão para o meio social é relevante, mas também muito desgastante. Pois mexe com muitos poderes e interesses grandiosos. Mas se pode partir da própria realidade local. No caso, aqui em nossa cidade. Deve-se refletir, a princípio, analisando os fatores que possibilitam iniciativas que favorecem ações que mudam a nossa consciência sobre o mundo e nosso habitat.
Portanto, a preocupação com ecologia e, consequentemente, com os nossos biomas, devem criar um novo jeito de olhar e agir. Somos interdependentes com eles. 

                                  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENTO XVI. Carta Encíclica Caritas in veritate – Sobre o desenvolvimento humano na caridade e na verdade. Documentos do Magistério. 5ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2011
CNBB. Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016.
FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato si – Sobre o cuidado da Casa Comum. Documentos       Pontifícios 22. Brasília: Edições CNBB, 2015.



Do livro Púcaro Literário (2017) organizado por Jucey Santana e João Carlos Pimentel Cantanhede. 

           Jean Carlos dos Santos  sacerdote da Igreja Católica. Nasceu em 1977 em Cantanhede (MA) e foi ordenado em 2006. Desde então trabalha em Itapecuru Mirim como Vigário Paroquial. Estudou Filosofia no Iesma (São Luís-Ma) e Teologia no IFTESAM (União da Vitória-Pr). Pertence ao clero diocesano de Coroatá. É Representante do Clero atualmente.



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