Pages

domingo, 17 de dezembro de 2017

ASSENÇÃO PESSOA E A RETOMADA DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL EM ITAPECURU-MIRIM


    



 CRÍTICA LITERÁRIA
*Samira Fonseca
   A literatura infanto-juvenil é um dos gêneros literários mais importantes para a educação de uma criança e para a construção de leitores por excelência. Ponto. Isso faz com que o escritor seja muito mais pressionado pela crítica, tendo em vista o público que ele pretende atingir. Contar ou recontar histórias, criar ou recriar personagens infantis não se configura uma tarefa fácil na vida do escritor, crer-se que para isso, ele precisa ser tocado pelas varinhas de condão das fadas madrinhas e dosar sua narrativa, suas palavras, seu espírito, volvendo assim, pacientemente a tessitura textual para o mundo da criança. Em Itapecuru-Mirim, terra de tantos escritores, poucos se aventuraram por esta vereda literária. Foi com o grande escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, Viriato Corrêa, que a literatura infanto-juvenil se manifestou pela vez primeira, nestas plagas. Sobre ele, o crítico literário, José Neres escreveu em seu livro Na Pele da Palavra: O livro Cazuza de autoria do Maranhense Viriato Corrêa, escrito entre 1936 e 1937, é até hoje uma das obras mais lidas em todo Brasil [...] Além de ser uma obra de aventura, o livro de Viriato Corrêa desperta nos leitores uma criança adormecida que há em cada pessoa. Não é raro o leitor se identificar nas páginas do livro e se ver diante da própria influência contada pela sensibilidade de um dos maiores prosadores da metade do século XX (NERES 2015, p.59). Quem ler tal citação pode deduzir que o homem fez escola em sua terra natal, bem como a sua conterrânea, a poetisa Mariana Luz, que com seus poemas, despertou o espírito do Eu lírico em muitos itapecuruenses, ou mesmo do jornalista João Francisco Lisboa, que fez brotar neste solo vários nomes do jornalismo maranhense. Lamentavelmente isso não aconteceu com o escritor de Cazuza e durante muito tempo a literatura infanto-juvenil itapecuruense esteve na escuridão. Desde meados do século XX até o princípio do século XXI a cidade de Itapecuru-Mirim amargou a ausência de um escritor que se debruçasse sobre a literatura juvenil e passasse a produzir textos para os pequeninos. O que se configurava em algo ruim, pois “sabe-se que esse tipo de livro é essencial para a formação de leitores, tanto na escola quanto no convívio de amigos e familiares” (NERES 2015, p.57). Porém, nos últimos anos a escritora Assenção Pessoa vem tentando retomar esse gênero literário na cidade de Itapecuru-Mirim. Assenção Pessoa, professora e membro da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes, despontou para literatura com a poesia, seu primeiro livro intitulado: Recordações, e trazia em seu arcabouço poemas da época de sua juventude. Depois ela lançou dois livros infanto-juvenis: José e as Três mosqueteiras e A princesa Sarah e o Sapo. A autora também resolveu contribuir para a pesquisa histórica da cidade e lançou o livro didático, Itapecuru-Mirim: sua gente, sua história. E por fim, ela retorna a literatura infanto-juvenil com os livros: Os sonhos dourados de Amália e Mirella a Princesa que vivia sonhando. Percebe-se que a escritora já possui um trabalho relevante para as letras do município, todavia, Assenção não se limita a tais gêneros, seus trabalhos como teatrólogas continuam inéditos. Algumas dessas peças foram encenadas nas escolas do município e as mesmas possuem finalidades pedagógicas par  a a aquisição do conhecimento dos alunos. Peças como: Cordel das DSTs, Diálogos das vitaminas, Um zoológico especial e a lenda da serpente, são alguns dos seus escritos na área da dramaturgia.

UMA PARÓDIA DOS CLÁSSICOS DA LITERATURA UNIVERSAL

             É quase que impossível fazer com que uma criança de 04 a 11 anos, leia um clássico da literatura universal, isso porque, a linguagem utilizada é muito superior do que aquela que as crianças utilizam, por isso é que muitos escritores reescrevem os clássicos a fim de que a criança também conheça as grandes obras literárias que pairam sobre o mundo. A própria escritora Ruth Rocha, realiza bastante esse tipo trabalho, para que as crianças sejam futuros leitores das obras originais. Assenção Pessoa faz praticamente o mesmo, porém, ao invés de recontar, a escritora faz uma paródia dos clássicos da literatura; é exatamente isso que se percebe nos livros José e as Três Mosqueteiras e A princesa Sarah e o Sapo.
A famosa história dos Três Mosqueteiros, escrita pelo francês Alexandre Dumas em 1844, é transformada pelas mãos da escritora Assenção em José e as Três Mosqueteiras, pois narrativa itapecuruense, José, Mariah, Louise e Mirella, são os defensores da natureza e resolvem incorporar o espírito dos personagens D’Artagnan, Athos, Porthos e Aramis, logo após assistirem um filme. Ao contrário do enredo original onde os quatro guardas da elite do rei enfrentam grandes aventuras, a serviço do rei Luís XIII e da Rainha, Ana de Áustria, e travam batalha contra a guarda do cardeal Richelieu; em José e as Três Mosqueteiras, o leitor encontrará quatro crianças que se unem para enfrentar aqueles que prejudicam os animais. Aventuram-se desarmando as armadilhas feitas com o intuito de apanhar os animais silvestres. Ou seja, a escritora constrói uma narrativa onde a natureza é o ambiente que mais agrada as crianças. Sobre tal característica José Neres (2015, p.66) afirma:
A cidade, a natureza e a infância, são alguns dos temas recorrentes dos autores da literatura infanto-juvenil no Maranhão. Algumas obras têm cunho bastante didático e buscam claramente fortalecer os laços telúricos da juventude com suas origens, ou despertar para a preservação da natureza. No caso de José e as Três Mosqueteiras, o despertar pela preservação da natureza é o principal objetivo, já que a obra é feita para os pequeninos. Destarte, a história vai sendo construída no sentido de que a criança cresça tendo consciência da importância dessa preservação. Em a Princesa Sarah e o Sapo, Assenção Pessoa continua com a temática da preservação e ergue um ponto interessante que é a invasão do homem no ambiente que não lhe pertence. Sarah chega a ordenar ao sapo, que vive em seu habitat natural, que se retirasse para que ela pudesse tomar banho. Aqui é preciso salientar, que não apenas sapos, mas outros tipos de animais são forçados a se retirar de seu ambiente para que o homem venha a ocupar o espaço. Uma metáfora interessante nas entrelinhas da história.
Outro ponto importante da obra é que se observa é a chantagem advinda da parte do anfíbio para poder realizar seu desejo de voltar a ser humano. Por três vezes ele chantageia a menina, Sarah e por três vezes ela cede à intimidação do sapo. Ora, é necessário lembrar que mesmo sendo uma obra infantil, há em um texto literário, inúmeras interpretações e alusões a histórias, que muitas vezes, o escritor não percebe. Sendo assim, o sapo pode ser um estereótipo do homem que insiste até a mulher ceder aos seus desejos, ou do filho (a) que chantageia os pais para conseguir realizar suas aspirações. Todavia, deve-se salientar que a Princesa Sarah e o Sapo, repassa ao leitor a consciência da preservação dos animais por mais asqueroso que eles sejam. A própria escritora aconselha sobre isso: “o mais legal dos sapos é que eles são amigos do homem e da natureza. Alimentam-se de insetos que podem ser prejudiciais às plantas e ao homem. Nenhum sapo deve ser maltratado por mais esquisito que possa parecer”. (PESSOA 2012, p.03). Conselhos de alguém que tem conhecimentos sobre o reino animal, já que Assenção é formada em ciências biológicas. Princesa Sarah e o Sapo é uma paródia do conto dos Irmãos Grimm. Em sua versão original o sapo só se transforma em príncipe, depois que a princesa opera com violência arremessando o anfíbio na parede. Daí a importância de transformar a narrativa e assim como Walt Disney torná-la menos violenta. Assenção Pessoa com tais narrativas revisita os clássicos da literatura infanto-juvenil, fazendo com que os adultos revivam a infância e também com que os novos e pequenos leitores sejam incentivados a cultivar o gosto pela leitura.

 

 REFERÊNCIAS
NERES, José. Na trilha das palavras: Estudos literários. São Luís. Café e Lápis; Edições AML, 2015.
PESSOA, Maria Assenção Lopes. A princesa Sarah e o sapo. São Paulo. Gregory, 2015.
_________________. José e as três mosqueteiras. São Paulo. Gregory, 2015.
Referências
                               *Samira Fonseca, Romancista e dramaturga itapecuruenses.

Um comentário: