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quinta-feira, 6 de setembro de 2018

SUSSURRO, BOATOS E FAKE NEWS



Benedito Buzar

O escritor Josué Montello costumava dizer, do alto de seu conhecimento sobre São Luís, que, nesta cidade, tudo se sussurra, por isso a boataria e a marocagem  (neologismo criado em função de uma novela da TV Globo) encontram campo para prosperar,  ganhar vulto e disseminar-se com espantosa facilidade.

Não à toa, nas décadas de 1940,1950 e 1960, havia em São Luís uma poderosa  organização, integrada por figuras ilustres ( comerciantes, políticos, intelectuais e servidores públicos), que se juntavam , no começo das noites, na Praça João Lisboa, para trocar figurinhas em torno de fatos, atos e episódios  que fervilhavam aqui e alhures.

Essa organização, de existência relativamente prolongada, chamava-se DIVA – Departamento de Informação da Vida Alheia,  perdeu a vitalidade com o falecimento de seus membros cativos.

Como sucessora do DIVA  surge outra organização, que se reunia em frente da igreja do Carmo,  com o objetivo, também, de comentar e passar em revista o que ocorria na sociedade maranhense e objeto  de especulação. Essa organização, conhecida por Senado da Praça, era presidida pelo advogado Michel Nazar, em torno do qual os assuntos de natureza  política pontificavam na pauta da discussão.

Lembrei-me do  DIVA e do Senado  da Praça João Lisboa no momento em que no Brasil a Justiça Eleitoral, preocupada com as mentiras, os boatos e  as falsas notícias, modernamente chamadas de fake news, veiculadas de modo assustador pela internet, chegam ao domínio da opinião pública de forma arrasadora e contribuem para a deformação da imagem das autoridades, dos partidos políticos e dos candidato aos cargos eletivos, majoritários e proporcionais.

Esses fake news , pela velocidade e contundência como são divulgados pelas redes sociais, estão sendo combatidos pela Justiça Eleitoral, com o fito de evitar a deturpação da campanha política  e o desvirtuamento do  processo eleitoral.

Com respeito à criação de boatos em tempos pré-eleitorais, o Maranhão, nesse quesito, deu show. Hoje, por meio da internet, ontem, pelos jornais, as mentiras e as intrigas sempre encontraram espaço em São Luís para se propagar e fluir de boca em boca.

A Praça João Lisboa, hoje, entregue às moscas, no passado e na fase que precedia às eleições, muitas  vezes serviu de palco para discussões acaloradas, quase sempre transformadas em cenas de pugilato, por causa de notícias falsas ou de mentiras deslavadas.

Essa boataria vicejou intensamente entre nós no regime ditatorial e teve seu momento de fastígio no Estado Novo, com Paulo Ramos no exercício do cargo de interventor federal no Maranhão.

Irritado com a boataria reinante na cidade, que se espalhava como um rastilho de pólvora da sua demissão pelo presidente Getúlio Vargas,  o interventor tomou uma providência autoritária, com vistas a acabar de modo fulminante com aquelas falsas notícias, que o incomodavam e quebravam a sua autoridade de governante.

Paulo Ramos ordenou o seu chefe de Polícia, coronel José Faustino, a desenvolver ações vigorosas para identificar o local de onde partiam tão fantasiosas notícias e prender os que se encarregavam de difundi-las  oralmente pela cidade.

A Polícia chegou ao extremo de organizar um cadastro com nomes dos que frequentavam a Praça João Lisboa, fonte que produzia os boatos. Se comprovado, pelos inquéritos, que os  intimados estavam a serviço da boataria, seriam presos  e  processados com base na Lei de Segurança Nacional.

Durante algum tempo, a população de São Luís viveu dias de apreensão diante das medidas repressivas anunciadas  pela Polícia, mas que não passaram de ameaças. Daquelas ações policialescas, apenas  a prisão de um funcionário público estadual, apontado como boateiro, mas solto à falta de provas.

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