Padre, professor e empreendedor
Jucey Santana
O cônego
José Albino Campos Filho, conhecido na infância
como Zequinha, nasceu em 4 de
fevereiro de 1922, em São Vicente de
Ferrer, cidade da Baixada Ocidental Maranhense. Filho de José Albino Campos e
Maria Sodré Campos. Tinha três irmãos: Geraldo, Maria Emília e Dinorá.
Cursou até
o 4º ano do primário, na Escola Agrupada
de São Vicente de Ferrer, e concluído no
Grupo Escolar Mota Júnior em São Bento (MA), dirigido por frades Capuchinhos.
Demonstrando
inclinação religiosa, seus pais resolveram, em 1935, encaminhá-lo ao Seminário de Santo Antônio em São Luís, com
13 anos de idade. Concluiu o curso de Humanidade em 1941, o de Filosofia em
1943 e Teologia em 1944.
Recebeu a
primeira tonsura no dia 25 de abril de
1944, sendo oficiante Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, então Arcebispo
do Maranhão. Em nove de dezembro de 1945 recebeu as ordens menores do Ostiriato e Leitorato, das mãos do bispo de Caxias, Dom Luís Gonzaga
da Cunha Marelin; as segundas ordens
do Subdiaconato foram ministradas a 11 de setembro de 1947 por Dom Adalberto Acioli
Sobral; em 26 de outubro, de Diaconato e
em 11 de novembro do mesmo ano recebeu o
ministério de Presbiterato.
Ordenou-se
no dia 8 de dezembro de 1947 na Catedral Metropolitana, sendo o bispo ordenante
Dom Adalberto Acioli Sobral. Foi seu companheiro de seminário e ordenação José
Ribamar Carvalho, (reitor da UFMA). Celebrou sua Primeira Missa na Igreja de
Santo Antônio, em 9 de dezembro de 1947 e celebrou a "Missa Nova" na
Matriz de São Vicente de Ferrer, sua terra natal, a 1º de janeiro de 1948 com a
presença de todos os familiares e amigos.
Em 1948,
foi celebrada a 1º provisão de Vigário Coadjuntor da Paróquia de Nossa Senhora
da Conceição, no bairro Monte Castelo, em São Luís, depois designaram-no Capelão
do Hospital Geral, instituição hospitalar dirigida por religiosas,
permanecendo por cinco meses.
Em seguida,
foi transferido para a Catedral Metropolitana como Vigário Cooperador onde
trabalhou durante sete meses, até ser removido para a Paróquia de São Vicente
de Ferrer, em substituição ao Monsenhor José Bráulio Nunes. De lá foi para
Itapecuru-Mirím, com 29 anos, em
substituição ao padre Alteredo Soeiro, que havia sido transferido.
No dia 12
de dezembro de 1950, chegou a Itapecuru-Mirím, recebendo a provisão de Pároco
das mãos do arcebispo Dom Bacelar Portela, recepcionado pelo padre Alteredo
Soeiro e grande número de paroquianos.
Imbuído de
entusiasmo e temperamento extrovertido,
conquistou logo de início a cidade e o seu povo. Em Itapecuru Mirim viveu 19 anos, dirigindo como bom Pastor o seu
rebanho, desenvolvendo atividades, não
só no campo espiritual, como também, no
âmbito social e educacional.
Movimentava-se
bem em todas as classes sociais. Foi apaixonado pela educação. Deixou para Itapecuru Mirim um legado
imorredouro de ações concretas e necessárias.
Hino da Padroeira e Queda
da Torre
Logo que
chegou a Itapecuru Mirim, Padre Albino
reorganizou o coro recrutando mais pessoas para o grupo e introduzindo novos cantos. Encomendou
também um novo a Padroeira Nossa Senhora das Dores. Em 15 de setembro de
1956 foi cantado pela primeira vez o
hino, com a letra de Luiz Gonzaga Madureira
(vigário-geral Spiritualibus) e a música do Padre Videi (superior da prelazia
de Pinheiro). O novo hino substituiu o antigo “Hino de Nossa Senhora das Dores”
, de autoria da poetisa Mariana Luz.
Em 21 de
janeiro de 1961 a cidade foi abalada por um temporal que, fez desabar a cúpula da torre da igreja e em consequência ruiu também o
coro e parte do teto, trazendo prejuízo e tristeza, escreveu Padre
Albino. Com campanhas comunitárias,
adesão de voluntários e ordens religiosas, ele conseguiu além da reconstrução
da torre e do coro, fazer uma reforma total
na igreja que foi pintada a óleo e forrada, para
livrar das andorinhas e morcegos. Em
1º de janeiro de 1965, na festa de São Benedito, houve a bênção da nova torre
da Igreja na presença da população, padres das cidades vizinhas e autoridades
convidadas especialmente para o evento .
Os grupos religiosos da época eram: Apostolado
da Oração, Confraria de São Vicente de Paulo,
Irmandade de Nossa Senhora das Dores, Zeladoras do Coração de
Jesus, Zeladoras de São José e
Associadas Filhas de Maria.
O sino era um
dos meios de comunicação atuante, badalado pelo sineiro e sacristão Clóvis
Cordeiro Mendes, amigo e companheiro do Padre Albino, nas diversas desobrigas.
O sino anunciava, nascimento, morte, as chamadas das missas, e repicava por ocasião
festivas servindo de referência para os hábitos da comunidade.
Escola Paroquial
Padre Albino
reabriu em 1952 a escola iniciada por Padre Alteredo Soeiro de Mesquita e o professor Natinho Ferraz, em 1º de março
de 1947. A escola havia funcionado pouco tempo. A
direção foi entregue a Teresinha Aragão
filha da professora Cotinha Lima. Em 1953 com o casamente de Teresinha com o
empresário Benedito Bráulio Mendes assumiu em seu lugar a normalista Maria
Galileia Rodrigues filha do prefeito João Rodrigues. O padre e a nova professora passaram a organizar várias
companhas comunitárias para aquisição de carteiras e material didáticos com
vistas ao crescimento da escola. Três anos depois a escola já havia se
expandido para todos os cômodos da Casa Paroquial.
Houve a
necessidade de contratar novas professoras e fazer campanhas maiores com alunos, pais e grupos religiosos, para construção da sede
própria da escola. Recebiam doações,
faziam vendas em barracas, leilões, bailes beneficentes etc. No início de 1957
foi iniciado a construção do prédio na
Avenida Brasil. A Escola Paroquial São Vicente de Paulo foi inaugurada no final de 1958, com um programa de educação aprimorado.
Pouco tempo depois parte da escola desabou.
Fala-se que a estrutura lateral foi construída em cima de um poço antigo, sem o
aterramento apropriado, sendo logo reerguida não sofrendo descontinuidade em
seu programa. A festa de entrega de
diploma da 1ª turma do antigo primário aconteceu em 15 de novembro de 1960, com
nove concludentes.
No ano de
1960, Padre Albino, foi elevado, por merecimento, à dignidade de Cônego na
Catedral Metropolitana.
Irmãs Josefinas
O padre Albino intermediou junto ao arcebispo Metropolitano Dom José Medeiros Delgado, a vinda das Irmãs
Josefinas, para atuar na administração
da Escola Paroquial e nas ações de evangelizadoras de Itapecuru Mirim.
A fundação
e instalação da Casa das Irmãs Josefinas aconteceu em 28 de julho de 1963, com
a presença do arcebispo Dom José Medeiros Delgado, que mesmo já
transferido para Fortaleza, esteve no
evento. Na solenidade estiveram
presentes a Madre Superiora e fundadora da instituição, Irmã Rosita
Paiva; a mestra das noviças, Irmã Maria Luiza Fontenele, padre Hélio Paiva,
mais cinco irmãs da congregação, que vieram para ficar em Itapecuru Mirim.
A casa foi
adquirida do telegrafista (guarda-fio) Euclides Zoca e doada pela Prefeitura,
na gestão de Abdalla Buzar Neto.
A bênção da
casa foi acompanhada por grande multidão, autoridades e convidados de outros
municípios, com a banda musical
executando o Hino da Padroeira Encerrou-se com um almoço na casa
paroquial, oferecido por padre Albino.
Ginásio Bandeirante
Com a criação do projeto “Ginásio
Bandeirante,” em 1967, a professora Ana
Maria Patello Saldanha, coordenadora do
projeto informou que Itapecuru Mirim
tinha sido contemplado com uma unidade. Como
a Prefeitura Municipal não recepcionou de imediato o programa, o Padre Albino cadastrou a Escola
Paroquial no convênio do Estado, em caráter de urgência e apresentou toda a documentação em tempo
hábil para não perder o beneficio. Em 14
de março de 1968 sob intensa chuva, foi
oficialmente instalado o Ginásio Bandeirante com 41 alunos matriculados. O Jornal Pequeno publicou:
Importante iniciativa do
governo através da Secretaria da Educação
e Cultura em convenio com a Paróquia Nossa
Senhora das Dores (...). além da presença a professora Ana Maria
e Padre Albino, estiveram presentes e
Dr. Benedito Bogea Buzar, Doutor
Antenógenes médico da cidade, Dra Elite Promotora da Comarca, o corpo
docente e discente do estabelecimento, benfeitores e amigos, que no final do evento
foram recepcionados com um jantar na
Casa Paroquial. (Jornal Pequeno, 3 de abril de 1968).
Ele contou
com muitos colaboradorescomo, Teresinha Aragão Mendes, que organizou o Ginásio,
e teve um corpo docente de primeira
linha: Maria José Valquitã, Nonato Lopes, Ozanan Coelho, Astor Serra, Maria das
Dores, Alzir Carvalho, João Silveira e outros. Embora já doente, o padre Albino
foi o seu primeiro diretor até a sua morte.
Também
foram diretores: Padre Benedito, Dr. Fernando Wellington, professor Raimundo
Nonato Lopes. Em 1979, o Ginásio Bandeirante
foi transformado em CEMA, outro programa do Governo. Também auxiliou na
fundação da Escola de Regentes de Educação por Leonel Amorim em 15 de fevereiro
de 1955, e lecionou voluntariamente
música e latim.
Missões Populares e
Estrada do Tingidor
Das quatro grandes missões, ao estilo
antigo em Itapecuru Mirim, duas delas se realizaram a pedido de padre Albino.
Em agosto de 1955 os padres da Congregação Redentoristas efetivaram uma grande cruzada de evangelização, quando
colocaram o cruzeiro em frente ao DER,
antigo Morro do Diogo, em 29 de agosto.
Como os missionários desejavam visitar o povoado Tingidor, e o acesso
era precário, Padre Albino estimulou os lavradores a abrirem uma estrada de
emergência para passar o caminhão das Missões Volantes, cedido por Geraldo Vasconcelos residente do DER local.
Os antigos
moradores lembram-se da população rural
de machado, foice e outros instrumentos agrícolas, tendo à frente o
padre comandando o trabalho. − A estrada
do Tingidor, é uma providencia de grande alcance para a economia do vale do
Iguará e Munim, principalmente, para facilitar o escoamento do arroz, com
grande demanda na região, dizia o
padre. Aquela estrada foi usada até no
início dos anos 70, quando foi compactada pelo prefeito Miguel Fiquene.
Outra
Missão foi em 1962 pelos missionários
Lazaristas.
Agricultores e
Associações de Classes
Padre
Albino foi um dos fundadores da Cooperativa Industrial e Agrícola, em 24
de maio de 1953 com a finalidade
de fazer funcionar a Usina de Álcool de Mandioca e amparar os
operários, agricultores e pequenos empreendedores com financiamentos.
Tendo como presidente José Alexandre
de Oliveira, fazia parte também da sua diretoria: Padre Albino, Abdala Buzar, João Rodrigues, Orlando Mota,
Benedito Bráulio Mendes e Sebastião Bandeira.
Em 28 de dezembro de 1957, foi
inaugurado o Coreto da Matriz, doado pelo Dr. Rui Mesquita, diretor do DER.
Principais Festas
Religiosas
As festas
religiosas na época do Padre Albino ainda eram de responsabilidade das famílias
influentes. A de São Benedito, realizada no final de dezembro tinha como
responsável o Sr. Abdala Buzar, que emprestava grande brilhantismo ao
festejo.
A segunda
festa em importância no calendário litúrgico, a Festa da Santa Cruz, em meados
de outubro, sob a responsabilidade da família Nogueira, tendo na pessoa de
Francisco Nogueira (Chico Nogueira), o
seu maior ícone.
A terceira,
a Festa do Divino Espírito Santo, era de
responsabilidade de Raimundo Francisco
Veras.
A
quarta festa em importância, era de
Nossa Senhora das Dores, a Padroeira, ficava a cargo de Eudâmidas e Cirene Sitaro e outras famílias
influentes e finalmente a Festa de São Vicente de Paulo de responsabilidade dos
Vicentinos.
Com o
desaparecimento dos seus mantenedores e do padre Albino estas festas entraram
em declínio.
Grandes Acontecimentos
Grandes
eventos marcaram a administração de Padre Albino em Itapecuru Mirim. O golpe
militar de 1964 que instalou o regime ditatorial no País e a reforma religiosa.
Com a ditadura militar e a igreja
fazendo a opção pelas classes oprimidas surgem novas práticas de evangelização,
para estabelecer contatos diretos com os fiéis como, as Comunidades Eclesiais
de Base, Comissão de Justiça e Paz, Conselho Indigenista Missionário, Comissão
Pastoral da Terra e outras ferramentas para o intercâmbio entre Igreja e o
homem do campo, os “ Sem Terra”.
Padre
Albino implantou no município a nova
orientação eclesiástica. Criou grupo de pastoral da terra, organizou a Semana
Ruralista em Agosto de 1957, com a presença do governador, José Matos Carvalho,
comandante do 24 BC, do arcebispo dom José Delgado, Secretários de Estado e médicos. Com fórum de
debates sobre problemas da região como: saúde, educação, transportes,
assentamentos, cooperativismo etc. Ao final
houve desfile dos lavradores pelas ruas, ostentando as suas ferramentas
de trabalho.
Organizou o curso de
Líderes Rurais de 15 a 29 de março de 1961. Para jovens de Itapecuru e Vargem
Grande, dirigido por técnicos agrícolas de São Luís e outros eventos
ruralistas.
Outro
acontecimento importante na época do padre Albino foi a reforma religiosa,
que alterou a estrutura da igreja, o Concílio
Vaticano II, que mexeu nos dogmas da Igreja com mudanças radicais. Para
citar algumas: a missa em latim passou a ser celebrada na língua pátria, a mudança da postura do celebrante, nos
rituais eucarísticos, passou a ser de
frente para os fiéis, também houve mudanças
na aplicação de alguns sacramentos, retirada de ícones entre
outras.
As
modificações implantadas a partir de 7 de março de 1965, trouxeram à comunidade católica expectativas e incertezas, quanto ao rumo da Igreja. O padre conduziu com
sabedoria metodológica, passando tranquilidade à população.
. Agência do Banco do
Brasil
Antiga
reivindicação da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Itapecuru
Mirim, a instalação de uma agencia do Banco do Brasil na cidade, teve na pessoa
do padre Albino um patrono importante no processo.
O Banco do
Brasil planejava instalar uma agência em
Chapadinha ficando a de Itapecuru Mirim em segundo plano. O padre, sendo primo do diretor Regional do
Banco, Sr. Agenor Fernandes, intermediou trazendo a agencia imediatamente para
o município e intercedendo para que os gerentes fossem itapecuruenses. Pleito atendido em 18 de maio de 1964, em
acontecimento festivo foi inaugurada
a agência tendo Astor Cruz Serra e Wallace Mota designados
gerente e sub-gerente, ambos itapecuruenses.
Outras Informações
Padre Albino fez parte do grupo de itapecuruenses composto por Joaquim Araújo, Feliciano Costa
Luis Bandeira que resgatou em 1953 o
hino de Itapecuru, de autoria do maestro Sebastião Pinto. Como ficou
descontente porque no texto não citava a palavra Itapecuru, o padre criou o seu
estribilho “ Terra de amor, Itapecuru”
, sem prejuízo da música. (Vr. Sebastião Pinto).
Para atender a
tantas comunidades, as desobrigas
(visitas pastorais às comunidades
rurais), em lombo de burro, que
muitas vezes duravam semanas sem voltar
à Casa Paroquial. Sobre esses
eventos contam-se muitas histórias
pitorescas de situações difíceis que ele vivenciou, como uma viagem, em
época de chuvas ao saltar o riacho
Ipiranga, caiu cavalo e cavaleiro na enxurrada, sendo salvo por intervenção de
lavradores, e outras situações, enfrentando atoleiros. Ele se sentia à
vontade com os caboclos, gostava das
roças.
O Padre Albino era considerado quase como um
membro de cada família. Deixou centenas
de afilhados e compadres de “alma”. Muitos pequenos itapecuruenses receberam na
pia batismal o nome Albino, em sua homenagem. Ele
sempre dizia, “A casa paroquial deve ser
a primeira a abrir e a última a fechar, porque é a casa do povo”.
Quando do
translado do seu corpo de São Luís para Itapecuru Mirim, foi decretado feriado
local. Houve comoção geral no acolhimento do corpo que foi
sepultado na Igreja, com
autorização de Dom Mota Albuquerque por
intermédio de Dom Medeiros Delgado, de
Fortaleza (CE). Faleceu em
São Luís, no dia 24 de Janeiro de 1970.
A missa do sétimo dia foi concelebrada por
três cônegos, amigos: cônego Gerson Nunes Freire, cônego
José Ribamar Carvalho (amigo de ordenação) e cônego Raimundo Carvalho.
(de Vargem Grande).
José
Albino Campos é patrono da cadeira 17 da Academia Itapecuruense de Ciências,
Letras e Artes tendo como ocupante ,
Jucey Santos de Santana.