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domingo, 24 de fevereiro de 2019

NEWTON NEVES

                        

                Professor, jornalista e escritor



Jucey Santana                

       Newton de Carvalho Neves nasceu em Codó no dia 14 de fevereiro de 1896, e faleceu no dia 16 de março de 1975. Filho de Raimundo Coriolano Ferreira Neves, pecuarista, comerciante e político e de Amélia Dejanira de Carvalho Cantanhede Neves.

Seu pai determinou que ele fosse o padre da família, e desde os 9 anos o encaminhou ao internato  Ateneu Piauiense, em Teresina; de lá foi para um Seminário em Fortaleza e  em  1917  para o Seminário Santo Antônio em São Luís (MA), onde se ordenou  em dezembro de 1918. Iniciou sua missão pastoral como capelão da Escola de Catequistas e Casa dos Expostos da Paróquia de São Pantaleão.  Foi vigário das paróquias de São João Batista; Itapecuru Mirim, Araioses e Tutoia. 

Em Itapecuru Mirim viveu o maior conflito pessoal de sua vida. Apaixonou-se pela jovem Guilhermina Nogueira da Cruz. E, para não trair seus votos sacerdotais, pediu ao seu confessor a transferência da paróquia, sendo encaminhado para Tutóia. Se se sentindo dividido entre o amor à sua igreja e à itapecuruense e pressionado pela família desta, retornou a Itapecuru Mirim em 1924, e em outubro de 1925 casa-se com jovem Gulhermina. Foi expulso da igreja, perseguido e excomungado.

Sofreu muito com o preconceito da população e a  rejeição por parte da Igreja tendo de suportar problemas de todas as ordens,  principalmente  financeiro. Graças a alguns comerciantes, especialmente os libaneses, com visão menos radical sobre a questão religiosa, os quais encaminharam seus filhos para estudar com o padre Newton.  Iniciou sua escola na casa do sogro Bento Nogueira da Cruz. Em 1925 fundou o teatro São José, e em 2 de abril  de 1926, fundou o  Instituto Rio Branco, que se tornou a maior referência educacional na região.   Em 1935 mudou-se para São Luís, transferindo a direção do  Instituto ao professor e jornalista João Rodrigues. Na Capital, fundou no mesmo ano o Instituto São José, internato e externato,  que dirigiu até 1942. 

Em São Luís, lecionou nos seguintes colégios:  Arimatéa Cisne, Ateneu Teixeira Mendes, Instituto Rosa Castro, Centro Caixeiral,  Academia do Comercio, Colégio de São Luís, Instituto Alves Cardoso e Liceu Maranhense. Foi professor das seguintes disciplinas: português, matemática, francês, literatura,  história, geografia, latim e filosofia. 

De 1942 a 1943 foi nomeado prefeito de São José dos Matões pelo interventor, Dr. Paulo Ramos.  Retornou a Capital para assumir a Diretoria do Serviço de Economia Agrícola onde ficou até 1945. E continuou lecionando em São Luís.

             Nomeado diretor de Educação de Estado, teve como   missão  a expansão da rede educacional em todo o Estado. Fundou e organizou muitas escolas da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos. Na Capital fundou o Colégio Getúlio Vargas e o Colégio Rio Branco;  em  Colinas o Instituto Paulo Ramos;  em Coroatá o Colégio Viriato Correa, em Itapecuru Mirim o Ginásio João Lisboa; em  Imperatriz o Ginásio Bernardo Sayão, e outros estabelecimentos de ensino em Rosário, Viana  e Dom Pedro. 

 A professora Ariceya Moreira Lima da Silva, diretora da Campanha Nacional de Escolas da ComunidadeCNEC, em seu pronunciamento durante a inauguração do Colégio Getúlio Vargas, no bairro  Lira, citou:

O Professor Newton Neves é um idealista, planta escola movido pela bondade e pela educação, deixando por onde passa, a sombra da cultura para abrigar os jovens do  hoje e do amanhã. Possui uma rara, autêntica e extraordinária   vocação de mestre.       

De 1953 a 1954, a convite do prefeito de São Luís, Eduardo Viana Pereira, foi secretario de Educação do Município, sempre tendo por meta a expansão e melhoria do ensino para,  preparar os jovens para o futuro, dizia o mestre.  

            Fez parte da equipe redacional dos jornais, O Globo, O Imparcial e O Combate, escrevendo inúmeras crônicas em defesa da educação, da família, da religião e crítica política. 

            No campo da cultura, além do teatro e literatura  dedicou-se também à música. Era exímio tocador de flauta,  deixando como legado   o livreto de cantos litúrgicos,  Lira Cristã, (1953),  e uma grande quantidade  de peças musicais resgatadas  durante o trabalho de pesquisa  do padre João Mohana que  teve como resultado a publicação do  livro A Grande Música do Maranhão, (1974).  Compôs músicas sacras e populares. Muitas das suas partituras se encontram tombadas no acervo do Arquivo Público do Estado do Maranhão. Deixou um livro inédito, Estudos de Português e Minhas Epístolas.

            Durante toda a sua vida escreveu a Roma, implorando que lhe fosse retirada a excomunhão e a liberação dos votos sacerdotais para enfim receber a bênção sacramental no seu matrimônio.  Somente em 1944 a igreja se manifestou, de forma radical, exigindo que o mesmo se separasse  da esposa, por estar “vivendo em pecado”.  Fiel à orientação dos dogmas eclesiásticos, separou-se da família que voltou para Itapecuru Mirim. Ele escreveu em seu diário: “Eu Newton de Carvalho Neves, em 6 de março de 1944, por motivo de ordem espiritual, me separei de Guilhermina Nogueira Neves”. Este episódio marcou a vida do grande mestre. Talvez por ser tão honesto e íntegro, entrou em grande conflito espiritual. Questionando seus valores morais, familiares e religiosos. 

            Viveu afastado dos familiares durante  cinco anos,  dedicado exclusivamente ao trabalho,   exilado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em São  Luís, onde viveu duras penitências, adquirindo uma grave enfermidade, sendo resgatado pela esposa e filhos, a conselho médico. A igreja retirou-lhe a excomunhão, permitindo-lhe o casamento somente em 1965, depois de 40 anos de espera. O consórcio religioso ocorreu  em 21 de outubro de  1965, em São Paulo. 

Teve onze filhos: José Raimundo, José Bento, José Cândido, José Trajano, José Edgard, José Newton, Maria Amélia, Maria Raphinha, Maria Rita, Maria Judith e Maria do Carmo.  Faleceu em 16 de março de 1975.

         O professor Newton Neves fez do ensino e da cultura um sacerdócio, iluminador de mentes. A AICLA reconheceu-lhe os méritos e o imortalizou como patrono da cadeira nº 36.    

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