Pages

sexta-feira, 10 de maio de 2019

SÁBIA MÃE


    

*Odarci Mesquita

Chove torrencialmente, o barulho da água batendo no solo e escorrendo ladeira abaixo era um espetáculo que me atemorizava. Fiquei lembrando que inicialmente, quando só chuviscava era bom sentir o cheiro de terra molhada, dando o verdadeiro sentido e de estar num lugar onde o verde predominava, a paisagem muito linda e certeza de que daquele solo fértil e abençoado nos proporcionaria todo o necessário para a subsistência de muitas pessoas e animais.

Sabendo da necessidade da chuva para a sobrevivência de todos, eu procurava, então, conter minhas lágrimas, controlar o meu medo e a ansiedade até que a chuva passasse e voltasse a minha serenidade para desfrutar o clima ameno de pós chuva.

Eu imaginava que aquele momento de solidão, demorava muito tempo, pois, na noite chuvosa, todos se recolhiam mais cedo do que o habitual e provavelmente seria uma noite mais longa. Quando ouvia os trovões, sentia muito medo e para me acalmar, mamãe dizia, que estavam arrastando a mesa e as cadeiras lá, lá lá ...no céu para organizar a casa do Senhor.- E os relâmpagos, que clareavam o mundo e parecia cortar o céu? – O relâmpago é rápido, serve para orientar alguém que ainda não chegou  em casa ou busca um abrigo seguro.


Assim, ela ficava conversando e me convencendo que tudo era normal, procurando me acalmar até que o sono chegasse e vencia.
No dia seguinte, a terra molhada não me permitia sair para jogar pedrinhas, cinco Marias, a calçada e o chão estavam muito frios e úmidos para eu sentar. Então, para brincar no chão a alternativa de mãe cuidadosa era colocar no chão uma esteira de palha trançada, de coco babaçu, que também chamavam de meia saba, à minha disposição. Mais tarde, quando o sol ficava mais intenso, tudo voltava ao normal, podia correr no quintal, ficar na calçada brincando, enfim a minha alegria se restabelecia.







*Odarci Mesquita de Sousa, escritora vargem-grandense, autora do livro Arquivo de Lembranças,  e membro fundador da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário