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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

PRAÇA BENEDITO LEITE

     

Os nomes antigos desse logradouro público foram: largo do Joao Velho do Val ou do Vale, praça da Assembleia e Jardim Publico 13 de maio. Diz Ruben Almeida que em tempos recuados havia nesse terreno casebres que abrigavam mulheres de vida airada e que para desalojá-las sugeriu-se a Corte a criação no local de um Jardim botânico. Veio a ordem, informa aquele autor, em 1804. Mal se aplainava o terreno, recebeu contra-ordem de Portugal que em guerra com a França temia ataque. E, mandava sustar as obras para melhorar as fortificações. Coube a presidência Eduardo Olimpio Machado, em 1857, fazer um ajardinado, chamado 13 de maio.

O mesmo presidente Machado em seu relatório de 1854, no capitulo de obras publicas , consignava sob a rubrica Praça da Assembleia o seguinte :

´´Deve concluir-se dentro em breve o aformoseamento desta praça, com a qual despendeu-se ate o fim de março a quantia de 9:055S025 réis´. E o ano subsequente informava;

´´Praça da Assembleia; Concluíram-se os trabalhos do seu aformoseamento, faltando apenas a plantação de arvores, de que vai se tratar. Importaram em 14:786S255 réis´´

Da Assembleia chamou-se porque nessa praça funcionou desde 1829 ate  o ano de 1884 , quando mudou-se para a ´´Escola 11 de Agosto´´, na rua do Egito , a Assembleia Legislativa Provincial, que ocupava uma dependência da Catedral , onde atualmente encontra-se a Curia Metropolitana. As sessões eram realizadas no pavimento superior a que da acesso uma escadaria com barras revestidos de lindos azulejos policrômicos.

É ainda o citado Ruben Almeida que traça uma espécie de roteiro da evolução do largo do Joao do Vale, louvado em Cesar Marques .

´´Melhoraram-na : Bernardo Pinto da Silveira ,1820, com um gracioso jardim , fronteiro a Palácio : Antônio  Joaquim Alvares do Amaral [48] , com a primeira arborização: Benevenuto Augusto de Magalhaes Taques[87], com a segunda, Benedito Pereira Leite [1906], sob planta do dr. Anísio Palhano de Jesus , com a arborização de fiqueira de Benjamin , formoso e completo ajardinamento onde, em relevo, em trevo de duas cores, se lia o nome em letras verdadeiramente artísticas, e 12 espaços destinados ao Panteon Maranhense, isto é, aos bustos de filhos ilustres da terra. Foi a sua idade de ouro.

´´Administradores subsequentes modificaram-no para pior ´´. ´´Até que um dia , esse dia nefasto das historias de mouras maléficas, sob pretextos pueris, insubsistentes, se começou uma obra vandálica de destruição. E dos Jardins de Benedito Leite e do seu arvoredo, basto, sonoro, simétrico, elegante, umbroso, resta o que se vê …´´[ A Cidade de São Luís ´´, 46 ].

Na praça de João do Vale realizavam-se animadas retretas, como se depreende de uma deliciosa crônica de Eloy, o Herói, que outro não era se não o nosso Arthur Azevedo, incerta nas colunas do seu jornalzinho ´´ O Domingo ´´, aqui editado. Anotando a raiva quase vandálica dos alcaides insensíveis ao verde que sombreava o velho largo, escreve o cronista, com a graça de sempre:

´´O nosso jardim das plantas está quase desplantado com a derrubada que nele fizeram que foi por demais cruel e exagerada. Graças , porém ao comandante Azevedo, o largo do João do Vale não é mais um matagal como era dantes, e, graças ao presidente da província, a música dos grilos e cigarras já ali não faz praça como fazia, porque a banda do 5 tem levado de vencida toda aquela malta bravia por meio de notas afinadas e por afinar ´´ [ Ed. De 26-5-1873].

Na verdade, de tempos a esta parte perderam nossos prefeitos o sentido do valor e utilidade da vegetação nas praças e ruas de São Luís, que tanto impressionou Roy Nash quando nos visitou. O arguto escritor norte-americano que tão bem soube ver o Brasil, chegou a escrever isso : ´´ Desde que deixamos o Rio esta é a primeira cidade que reconhece a utilidade dos arvoredos para sombrear os logares batidos pela soalheira´´. Se hoje o autor de ´A Conquista do Brasil ´ visitasse novamente São Luís haveria de sofrer funda decepção.

Na gestão do prefeito Alcides Pereira os maus fados de que fala o professor Rubem Almeida desabara sobre a praça Benedito Leite. O denso arvoredo, nemoroso e acolhedor, foi abatido impiedosamente e retirado o gracioso gradil de ferro que contornava, sendo substituído por solido e feio paredão de concreto,

Remodelada, sem as arvores primitivas, nua e pelada, com uma ou outra palmeira solitária, deixou de ser lugar de aprazimento nas formosas e frescas tardes de verão na ilha.

Em 1911 foi erigida uma estátua no centro da praça perpetuando no bronze a figura de Benedito Pereira Leite , estadista do Maranhão no Senado da Republica . Assenta num pedestal de mármore branco e é obra do escultor francês Emile Decorchement . Na face anterior do pedestal, em um livro aberto sobre uma palma, lê-se a inscrição: ´´Prefiro cortar a mão a assinar a supressão da Escola Normal ou da Modelo ´´, palavras atribuídas a Leite num assomo de revolta e sobranceria quando lhe alvitraram a possibilidade de fechar essas duas escolas.

 

Breve História das Ruas e Praças  de São Luis  (1971), Segunda Edição,   pag. 45  Domingos Vieira Filho

 

 

 

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