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quinta-feira, 11 de março de 2021

DIA DA MULHER MARANHENSE

                    Aniversário de nascimento de Maria Firmina dos Reis, Patrona da Academia Ludovicense de Letras

                                                                                                              * Dilercy Adler;

Introdução

É uma honra para os membros da Academia Ludovicense de Letras-ALL terem a sua Patrona, Maria Firmina, como símbolo da mulher Maranhense.
O dia 11 de março, aniversário de nascimento dessa ilustre escritora maranhense, é instituído por Lei como o “Dia da Mulher Maranhense”, por meio das Leis: de nº 3.754, de 27 de maio de 1976 e a de nº 10.763, de 29 de dezembro de 2017.

O primeiro Projeto de Lei é de autoria do Deputado Celso Coutinho, elaborado em 1975 e a Lei foi sancionada pelo Governador Nunes Freire, em 27 de maio de 1976 (era do conhecimento público que o nascimento de Maria Firmina era 11 de outubro de 1825).

No entanto, por meio de pesquisas recentes (ADLER, 2017) foi confirmada a data de nascimento de Maria Firmina como sendo, de fato, 11 de março de 1822.

A Presidente da Academia, à época, Profa. Dra. Dilercy Aragão Adler, pesquisadora da vida e obra de Maria Firmina dos Reis, encontrou no Arquivo Público do Estado do Maranhão-APEM, por indicação da também professora e pesquisadora Mundinha Araújo, documentos que comprovam uma nova data de nascimento de Maria Firmina dos Reis. Em seguida buscou atualizar a Lei que instituía o Dia da Mulher Maranhense, no tocante ao aniversário de nascimento da escritora. Nesse sentido, deu início ao processo de ajuste da referida Lei por meio no Gabinete do Deputado Eduardo Braide. Desse modo, hoje temos a Lei nº 10.763, de 29 de dezembro de 2017, sancionada pelo Governador do Estado Flávio Dino. Nela está alterado o art. 1º, que trata da atualização da data para 11 de março.

Assim, em 2017 foi a última comemoração do aniversário de Marias Firmina no dia 11 de outubro e este ano configura marco importante, no sentido de que é comemorado, pela primeira vez, o aniversário de nascimento de Maria Firmina e o Dia da Mulher Maranhense, neste 11 de março de 2018.

         Contexto da criação da Lei 1975 - ano Rosa de Jericó de Maria Firmina dos Reis:  ano de verdejar

O ano de 1975, foi o ano de verdejar para Maria Firmina, o marco que eu intitulei (ADLER, 2017) de o seu “ano Rosa de Jericó”. Essa rosa é também chamada de flor-da-ressurreição por sua impressionante capacidade de voltar à vida. As Rosas de Jericó podem ser transportadas por muitos quilômetros pelos ventos, vivendo secas, sem água, mesmo durante muito tempo e, ao encontrarem um lugar úmido, elas afundam raízes na terra e se abrem, voltando a verdejar!  

Vejo muita semelhança entre Maria Firmina e a Rosa-de-Jericó, senão vejamos: a Rosa de Jericó, tem aparência frágil, mas, concomitantemente, demonstra consistente defesa diante da situação adversa, neste caso, ausência total de chuvas. Nesse período, as suas folhas caem, seus ramos se contraem e se curvam para o centro, adquirindo uma forma esférica, capaz de abrigar as sementes e protegê-las da aridez dos desertos.  Mesmo frágil e ressequida, ela continua como “peregrina”, devido à quase inexistência das suas raízes, o que facilita o seu deslocamento, e, como “viajante incansável”, deixa-se levar pelo vento do deserto, que tem a força de arrancá-la do solo e arrastá-la por áreas distantes. Também nesse período, ela permanece seca e fechada, aparentando estar totalmente sem vida por alguns meses. No entanto, basta algum contato com a umidade para a Rosa-de-Jericó estender suas folhas, espalhar suas sementes e retornar à vida, mostrando a sua beleza.

Ainda no tocante às gotas d’água que deram a umidade necessária para Maria Firmina retornar ao cenário literário mostrando a sua beleza, Arlete Nogueira da Cruz, no seu livro Sal e Sol (2006) apud ADLER (2014), fundamentando-se no trabalho intelectual de Janilto Andrade, A Nação das Dobras da Ficção, explicita:

[...]. Não fosse José Nascimento Morais Filho, o nosso Zé Morais, este contumaz andarilho de trilhas nunca antes percorridas, Maria Firmina dos Reis não teria vindo à luz. E quando ele a trouxe (no momento em que também a trazia o escritor paraibano Horácio de Almeida), lembro bem, foram alvo de zombarias em São Luís: Zé Morais, Maria Firmina e o seu livro Úrsula; muitos considerando que era de pouca serventia aquele achado e exagerada a relevância que Zé Morais dava à sua descoberta. Pelos daqui, Maria Firmina dos Reis deveria permanecer onde se achava: no limbo. E a sua obra sob o tapete (CRUZ, 2006, p.265).

No limbo.... Sob o tapete... Expressões que retratam não apenas rejeição, mas desprezo, o que não deixa de retratar a alienação e falta de humanidade no trato com as pessoas e suas obras por aqueles que se julgam donos do saber e da verdade ADLER (2014, p.6).

Mas, antagonistamente, outros maranhenses, a exemplo de Josué Montello, reconhecem a importância de Maria Firmina. Montello escreve por ocasião do sesquicentenário de nascimento de Maria Firmina dos Reis um artigo intitulado A primeira Romancista Brasileira, que publicou no Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, em 11 de novembro de 1975 e na Revista de Cultura Brasileña, Madrid, Embajada de Brasil, 1976, jun., n. 41, p. 111-114.

Confesso que não resisti ao desejo de transcrever, nesta comunicação pequeno trecho da sua primorosa referência à Maria Firmina e a Nascimento de Morais Filho. No referido texto, Josué Montello nomeia outro maranhense, Antônio de Oliveira, juntamente com Nascimento de Morais Filho, como responsáveis pela ressurreição de Maria Firmina, e, desse modo, a eles se refere:

[...] o primeiro falando em voz baixa como é do seu gosto e feitio e o segundo, falando alto ruidosamente, com uma garganta privilegiada, graças à qual, sem esforço, pode fazer-se ouvir no Largo do Carmo, em São Luís, à hora em que se cruzam os automóveis, misturando a estridência das suas buzinas e de seus canos de descarga ao sussurro do vento nas árvores da praça.

Desta vez, ao que parece, Nascimento Morais Filho ergueu tão alto a voz retumbante que o país inteiro o escutou, na sua pregação em favor de Maria Firmina dos Reis.

Há quase dois anos, ao encontrar-me com ele na calçada do velho prédio da Faculdade de Direito, na Capital maranhense, vi-o às voltas com originais da escritora. Andava a recompor-lhe o destino recatado, revolvendo manuscritos, consultando jornais antigos, esmiuçando almanaques e catálogos como a querer imitar Ulisses, que reanimava as sombras com uma gota de sangue.

E a verdade é que, no dia de hoje Maria Firmina dos Reis de pretexto a estudos e discursos, e conquista, seu pequeno espaço na história do romance brasileiro – com um nome, uma obra, e a glória de ter sido pioneira.

 

Assim, Nascimento de Morais Filho, como um Sankofa, pássaro africano de duas cabeças, uma cabeça voltada para o passado e outra para o futuro, que, segundo a filosofia africana, significa a volta ao passado para ressignificar o presente, dedicou-se, incansavelmente, para dar novo significado à Maria Firmina dos Reis como mulher, como professora e como escritora, dando a ela o lugar que lhe é devido na literatura maranhense e brasileira.

E ainda seguindo a máxima de Morais Filho, mais pessoas, instituições, cidades e estados brasileiros têm se dedicado a estudos e homenagens a Maria Firmina dos Reis.

É constatado que o trabalho de pesquisa e resgate de Maria Firmina por Morais Filho, de fato resultou em muitos outros trabalhos acadêmicos. Renan Nascimento dá destaque para a tese sobre a romancista, defendida por Charles Martin na Universidade de Nova York.

Existem catalogadas várias Monografias de Graduação, Dissertações de Mestrado, Teses de Doutorado sobre algum aspecto de sua vida ou obras. O romance Úrsula encontra-se entre os objetos de estudo mais analisados.

Assim, em 1975, ano do sesquicentenário de Maria Firmina, em São Luís, foi publicada a edição fac-similar do seu romance Úrsula; inaugurado o busto da escritora na Praça do Panteon, em São Luís; foi criado um carimbo em sua homenagem, uma marca filatélica produzida pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos; na Assembleia Legislativa do Estado foi instituído o dia 11 de outubro, como Dia da Mulher Maranhense. Também foi criada em sua homenagem a Medalha de Honra ao Mérito, pela Prefeitura Municipal de São Luís.

Em Guimarães, também o ano de 1975 foi o marco do início de maiores homenagens a ela dedicada. Além do desfile em sua homenagem naquele ano, o Centro de Ensino Nossa Senhora da Assunção, desde o ano de 2007, passou a promover a Semana Literária Maria Firmina dos Reis. Também o dia do seu aniversário foi instituído feriado Municipal e comemorado o “Dia da Mulher Vimarense.”                                                    

 No ano de 2017, foi inaugurada, pelo Governo do Estado do Maranhão e Prefeitura de São Luís, uma praça com o seu nome e ela foi escolhida para Patronear a Feira do Livro de São Luís-FeliS, deste ano, em sua 11ª edição, de 10 a 19 de novembro, que resultou numa grande repercussão local, nacional e internacional.

A Academia Ludovicense de Letras-ALL desde 2013, ano de sua fundação, incorporou-se a esse projeto de consolidar a ressignificação dessa incontestável precursora da cultura e educação maranhense/brasileira, colocando-a como Patrona da Academia, tendo consciência também de que há muito ainda por fazer e para conhecer Maria Firmina dos Reis, fortalecendo esse trabalho que denomino de Missão de amor.

Em 2015, em comemoração ao seu aniversário de 190 anos, foram organizadas, por Dilercy Adler e Leopoldo Gil Dulcio Vaz duas antologias em sua homenagem: Cento e Noventa Poemas para Maria Firmina dos Reis e Sobre Maria Firmina dos Reis.

A ALL busca ocupar todos os espaços culturais locais, nacionais e internacionais, objetivando desenvolver e difundir a cultura e a literatura ludovicense, a defesa das tradições do Maranhão e, particularmente, de São Luís, também levando o nome de Maria Firmina dos Reis como missão precípua.

 Referências

ADLER, Dilercy Aragão. ELOGIO à PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS: ontem, uma maranhense, hoje, uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2014.

_____________. MARIA FIRMINA DOS REIS, uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2017.

ADLER, Dilercy Aragão e VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizadores). CENTO E NOVENTA POEMAS PARA MARIA FIRMINA DOS REIS. São Luís: ALL, 2015.

Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, Josué Montrello. 1975, 11 de novembro.

Revista de Cultura Brasileña, Madrid, Embajada de Brasil, Josué Montello 1976, jun., n. 41, p. 111-114.

MORAIS, José Nascimento Filho. MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA. São Luiz: COCSN, 1975.

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio e ADLER, Dilercy Aragão (Organizadores). SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS. São Luís: ALL, 2015.

 

          


 

 

 

 

 

* Dilercy Aragão Adler, escritora, cronista, antologista.

 

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