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quarta-feira, 15 de março de 2023

MULHERES QUE FIZERAM A DIFERENÇA

     em minha vida.

                                                        *Alan Rocha

Sou Itapecuruense com muito orgulho.  Desde muito cedo comecei a trabalhar para ajudar a minha família.  Em 2017, minha história mudou.  Fui preso, lembro como se fosse hoje, foi um alvoroço na cidade, parecia até cena de filme de suspense.  Foi ali que iniciei uma nova história da minha vida, passei oito meses aprisionado na Unidade Prisional de Ressocialização de Itapecuru Mirim. Sempre por volta das 16 horas fazíamos nossas preces ao Altíssimo.

Dentro daquele lugar onde muitos não tem coragem de ir nem fazer uma visita a parente, pude ver uma outra perspectiva de vida, digamos que é o local onde você tem que decidir se vai querer abraçar as oportunidades ou se vai querer descer ao fundo do poço.

Lembro dos dias de choro e das lágrimas derramadas nas madrugadas; das vezes que pensei que iria morrer lá dentro; das vezes que os outros internos brigavam e todos éramos responsabilizados. Lembro das vezes que minha mãe não podia me visitar e das vezes que eu ia para enfermaria. Lembro do spray de pimenta que tirava a respiração e fazia pessoas desmaiarem. Lembro das vezes que outros colegas eram torturados e eu não podia fazer nada para livrá-los.

A sensação de impotência e de insignificância que havia sobre mim. Mas também me lembro o quanto a situação mudava quando se falava na juíza ... como os internos ficavam contentes com o trabalho da juíza Mirella Cézar. Ela tratava a todos com muita humanidade e solidariedades. Era querida por todos.

De repente, em uma manhã, chamaram meu nome, era um evento de inauguração da biblioteca. Lá, foi a primeira vez que tive contato com a Dra. Mirella, a juíza que presidia e até o hoje preside o Fórum da Comarca de Itapecuru Mirim. Naquele dia fiquei espantado com uma mulher tão jovem mas tão segura nas suas decisões. Vi o quanto se empenhava pela recuperação dos internos e o quanto lutava para transformar aquele lugar em um lugar mais humano.  

Após alguns dias fui convidado para participar da sala de leitura e também de uns cursos, os quais a Dra. Mirella havia conseguido para a Unidade. Mais uma vez me vi deslumbrado pela sua postura em trazer oportunidades para as pessoas que se encontravam naquele lugar. 

Fui convidado pela direção da Unidade para participar de um evento no qual interpretei uma canção de Alcione Nazaré. Percebi que eu estava sendo filmado pela Dra. Mirella, que postou em seu Instagram e marcou a queridíssima Alcione. Também notei que a Dra. Jucey Santana estava com lágrimas nos olhos e depois me abraçou.

 Passado o evento retornamos para nossas celas. Fui convidado a participar de uma oficina de artesanato. Pintei umas telhas.  Eu achei feias, mas incrivelmente a minha telha foi escolhida pela Dra. Mirella e se encontra no Gabinete da 2ª Vara da Comarca de Itapecuru.

 Ao perceber o quanto o seu trabalho é importante para a vida de outras pessoas e de toda a comunidade itapecuruense, eu me inspirei na mesma para dar início a minha carreira jurídica. No ano de 2019, no mês de agosto, um ano depois de ter conquistado a minha liberdade, eu fiz vestibular na Faculdade Maurício de Nassau (UNINASSAU), em São Luís. Dando início a um novo ciclo na minha vida, deixando para traz todo o meu passado, todos os erros anteriores, lutando para me tornar um advogado e posteriormente um defensor público.

Quando iniciei o meu curso de Direito, a Dra. Mirella foi uma das primeiras pessoas que eu quis comunicar, sei que ela ficou feliz. Se hoje eu tenho uma nova perspectiva de vida é graças ao empenho desta mulher chamada Mirella, que além de uma excelente juíza é uma verdadeira cristã. 

Hoje vendo balinhas nos ônibus para pagar o meu curso, muitas vezes até penso em parar por conta das humilhações que escutamos. Mas sei que um dia vai valer a pena. Se Deus Quiser, em 2023 eu vou passar na Prova da Ordem – OAB.

Quero agradecer a Dra. Jucey Santana por ter me estendido a mão quando eu saí da UPR e por ter me convidado para contar um pouco da minha história nesta obra literária. E ainda vou dar muito orgulho para minha família, para as minhas protetoras Jucey Santana e Mirella Cezar, para a comunidade do bairro do D.E.R e de todo o Vale do Itapecuru.

  O texto faz parte do livro, Púcaro Literário III (2021), organizado por Jucey Santana e João Carlos Pimentel Cantanhede

 

     


*Alan de Oliveira Rocha, ex-detento, nasceu em Itapecuru Mirim (MA), em 31 de julho de 1992. Filho de José de Lima da Rocha e Raimunda Nonata Garre de Oliveira, mudou-se para a cidade de Cantanhede (MA) onde concluiu o ensino médio daquela cidade, tendo se destacado como presidente do Grêmio Estudantil.   Ainda teve uma experiencia na política partidária se candidatando a vereador em 2012, sem êxito. Trabalhou na prefeitura como coordenador do projeto Pró-jovem aprendiz, ao término do contrato, trabalhou em uma panificadora como confeiteiro, retornou a prefeitura, como contratado normal   e em 2017 foi preso tendo cumprido sua pena na Unidade Prisional de Ressocialização – UPR de Itapecuru Mirim.  Atualmente cursa o quarto período de Direito na Faculdade Mauricio de Nassau.

2 comentários:

  1. Um exemplo de superação que deve servir de inspiração para outras pessoas. Associado ao elevado senso de gratidão e reconhecimento.

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