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domingo, 11 de agosto de 2024

DO PAI GONÇALVES DIAS, SÉCULO XIX

                                            a experiência de ser pai no século XXI

*Hilton César Neves da Silva

Gonçalves Dias, viveu no século XIX, e ao escrever um dos seus mais belos poemas, o dos Tamoios, no seu primeiro verso, faz a narrativa de uma mensagem de pai ao seu filho, revelando, principalmente, seu desejo de não vê-lo chorar, pois, segundo ele a vida é luta sangrenta, cruel, porém, para se viver é necessário lutar, pois ela é um combate e somente os fracos ela abate, e os fortes, valentes, bravos só poderá exaltar.

                                                   “Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida

É luta renhida:

Viver é lutar.

A vida é combate,

Que os fracos abate,

Que os fortes, os bravos

Só pode exaltar” (Gonçalves Dias).

 

Segundo, relatos, Ele teve apenas 01 (uma) filha Joanna, que falecera aos 02 anos de idade. Percebe-se, porém, que ele, ao escrever em seu poema, sobre os conselhos que o pai daria ao filho, alguns elementos importantes, como o cuidado que o pai tem com os filhos e que este deveria ter com a vida. Revelando assim a missão que ele via que o pai tinha que ter para com a sua cria, não apenas de prover, mas de cuidar. 

Hoje, ao falar da missão de ser pai, parto da minha experiência particular do exercício da paternidade, tive a graça de ter a responsabilidade do cuidado, da criação, da educação de 04 filhos, Hilton César Junior, de 25, Lucas Daniel de 24, Ana Beatriz  de 18, e Mateus Henrique de 15 anos.

Nunca foi fácil exercer esta árdua missão de ser pai, porém, neste momento é muito mais difícil. No meu caso concreto, sou um pai, que vem de uma experiência familiar paterna, de adoção, e querendo ou não esta realidade tem uma influência muito forte na formação da personalidade.  

Atualmente, constata-se, uma realidade que mais de 5,5 milhões e meio de crianças, matriculadas, não consta na Certidão do Registro de Nascimento o nome do pai. Então, enquanto pais, com esse dado, da falta de reconhecimento e do dever do cuidado, da criação, da educação, é triste dizer que não estamos cuidando da nossa prole, dos nossos filhos.

Uma das ações mais recorrentes na Justiça, através de Advogados, Promotores, Defensores Públicos e até do atendimento no Conselho Tutelar, são de Investigação de Paternidade e de Alimentos, uma pra descobrir quem é o Pai e a outra pra obrigar o Pai dar alimentos para suprir uma necessidade básica de sobrevivência, que é a de alimentos. Então, afirmo, sem medo de errar que muitos pais estão piores que os outros animais, porque estes não negam comer para a sua cria, até ele ter condições, de se alimentar por conta própria. Todos nós somos sabedores que não precisamos somente de alimentos para sermos felizes e ajustados, precisa-se de outros fatores, como o afeto, o carinho, a atenção, o cuidado. Padre Zezinho, na canção Utopia, dizia: “E há tantos filhos, que bem mais do que um palácio, gostariam de um abraço e do carinho entre seus pais”.

De outro passo somos pais de um milênio e século passados e nossos filhos, na sua maioria, são deste século e milênio, de uma era tecnológica e nós de uma era analógica. Sempre digo que vivenciei até agora três grandes momentos ou três gerações, sendo uma geração da rua, da sala e agora a do quarto e tenho a audácia de dizer que é a mais difícil. A geração da rua, do meu tempo de criança era de passar a maioria do tempo na rua, brincando de bola, de bandeirinha, de pular cancão, de pular elástico, jogar pedra, etc. A da sala foi a era da universalização da TV, a televisão na sala dominava todos os momentos de encontro na frente da telinha, para assistir as novelas, os desenhos animados, mudou paradigmas, mudou o local das refeições da mesa do jantar, para o prato na mão, na sala, estabeleceu modas, normas, modelos de famílias. O tempo de hoje, do quarto, aproximou os distantes, conectou os desconhecidos, deu voz a um grupo de imbecializados, afastou-se os próximos, trocou-se o dia pela noite, vulnerabilizou as relações e criou uma geração de sensíveis ao extremo e de insensíveis a dor do outro, de disseminação de ódio, intolerância e violências.

Segundo a doutrina e orientação de algumas religiões, dentre elas a católica, os Pais receberam a Vocação, o chamado e a Missão de ser protagonistas na continuação da Criação. Diante desta afirmação, ouso em dizer, que nós pais, não estamos assumindo esta Missão de sermos protagonistas da Criação. E isto vai de encontro com uma frase que diz: “Pai não é o que faz e sim o que cuida”.

              Tive a experiencia de ter tido 03 (três) pais, o biológico, o que criou e cuidou e o que registrou. O que registrou foi meu avô paterno, tenho poucas lembranças, pois morreu tinha apenas 03 (três) anos. O Pai biológico, foi aquele que participou da procriação, que participou da geração, este faleceu em 2019, e estava comigo, sob meus cuidados. O que adotou, e cuidou, faleceu em 2011, repentinamente. Cada um deles deixou suas marcas na minha vida e na minha personalidade, porém, indiscutivelmente, o que mais me marcou foi o que cuidou e educou, que me ensinou a falar, que me ajudou a banhar, que me ajudou a comer, que me botou no colo, que me fez sorrir várias vezes.

Como pai, longe de ser o melhor, mas entre os erros e acertos, tenho buscado dentro das limitações de ser humano, de pessoa cheia de defeitos e qualidades também,  educar, cuidar, ser presença, ouvir e tento dialogar. Não existe receita, é um aprendizado diário, ainda, mais quando se tem filhos idades diversas. Tenho 02 (dois) do milênio e século passado e 02 (dois) desse milênio e século 21, que vivem a influência dos seus tempos, dos seus momentos. Cada um com suas belezas, com suas qualidades, seus defeitos e seus acertos.

O que precisamos fazer, pais, para sermos mais responsáveis, mais amorosos, mais cuidadosos com nossos filhos para que possamos ter mais dias dos pais celebrativos, festivos, lembrados, etc? Augusto Cury, em seu Livro: Inteligência Socioemocional – Ferramentas para pais inspiradores e professores encantadores, nos indica, algumas técnicas para formar sucessores ou mentes brilhantes, elencando técnicas educacionais. Destaco, porém, dentre elas as seguintes: Deixe que sua vida sirva de exemplo, nutra a personalidade de seus filhos com sua história, não superproteja, proteja a emoção de quem foi agredido, ensine o valor da liberdade e negocie limites, pratique a arte da gratidão, agradeça seus filhos por existirem, seja tolerante, dê o que o dinheiro não compra e acima de tudo ame o seu filho.

Milton Nascimento, na sua música Coração de estudante, diz: E há que se cuidar do broto, Pra que a vida nos dê flor e fruto”.

Parafraseando, Legião Urbana, “É preciso amar as pessoas, como se não houvesse amanhã, por que se você parar pra pensar, na verdade não há...”.

Em 2021, infartei nunca imaginei que chegasse em 2023, sobrevivi, cheguei, chorei, sorri, e aqui estou, vivendo cada dia como se ele fosse único, como senão houvesse amanhã. Não sou nem otimista, nem pessimista, mas realista esperançoso.

Sou Grato a Deus pelos pais que tive e pelos filhos que tenho e Almir Sater, expressa bem este sentimento, ao dizer: Ando devagar porque já tive pressa, E levo esse sorriso, porque já chorei demais. Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe, Só levo a certeza, de que muito pouco sei, Ou nada sei...”

 Papai, pais, é preciso cuidar, é preciso amar para que a paternidade seja, festa,  alegria, encontro e acima de tudo de expressão de gratidão e amor, porque senão, daqui uns dias, somos nós pais, que estaremos precisando do Carinho e do Afeto dos nossos filhos.

Por isso, minha prece de Pai, invocando, Pe Zezinho, é que “Meus filhos sejam felizes”, sem esquecer que a “vida é combate”.

E possamos invocar Gonçalves Dias, que ser pai é para os “Fortes e Bravos”.

 

   Hilton César


 

 *Hilton César Neves da Silva, Pedagogo, com Especialização em Gestão Escolar integrada com habilitação em Administração, Inspeção, Orientação e Supervisão e em Psicopedagogia com ênfase em Educação Inclusiva, Professor dos Anos Iniciais; atual Secretário de Educação de Itapecuru-Mirim, Coordenador do Arranjo de Desenvolvimento Educacional Território dos Balaios – “ADE Balaios”, Membro das Academia Vargengrandense de Letras e Artes – AVLA, e daAcademia de Ciências, Letras e Artes de Presidente Vargas – ACLAPREV, membro correspondente da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA, da Academia Zedoquensse de Letras – AZL, e da Academia de Ciências Letras e Artes de João Lisboa – ACLAJOL, Membro da Diretoria da UNDIME/MA.

 

 

 

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