terça-feira, 20 de setembro de 2016

JOSÉ CÂNDIDO DE MORAIS – O Farol



Por Jucey Santana

            O jornalista José Cândido de Morais e Silva, nasceu aos 21 de setembro de 1807 no Sítio Juçara, da Freguesia de Itapucuru Mirim, atual município de Itapecuru Mirim. Filho do farmacêutico português Joaquim Esteves da Silva e de dona Maria Querubina de Morais Rego

            José Cândido  foi um mártir do jornalismo.  Em sua curta trajetória fundou o primeiro órgão liberal do Maranhão. Foi defensor da constituição, da cidadania e da educação.   Denunciou, criticou,  e sofreu perseguições pelos seus artigos,  em consequência perdeu a vida  cedo.

            Aos nove anos ficou órfão com cinco irmãs.   As irmãs foram morar com o avô, em São Luís e José Candido recebeu a proteção do Comendador Antônio José Meireles, rico comerciante português que  o encaminhou  para estudar na  França, na cidade de Havre, em 1818, onde ficou até 1821. A  intenção do português era de faze-lo um grande negociante, porém ele demonstrou  tendência para as letras; então  seu protetor o encaminhou à  Coimbra  para forma-lo  médico.

            Nos dois primeiros anos se saiu bem, porém os estudantes brasileiros, em Portugal estavam agitados com as notícias dos movimentos libertários do país com a  independência brasileira, e as dificuldades na província maranhense ainda sob o jugo português. O jovem acadêmico abandonou os estudos em julho de 1823 e retornou à sua terra.

            Ao chegar ao Maranhão, em 1823, José Cândido encontra o Brasil iniciando o processo da sonhada liberdade. O seu protetor mudara-se para o Rio de Janeiro, deixando à frente dos seus negócios o português José Gonçalves Teixeira, a quem tinha recomendado o seu pupilo. Infelizmente o administrador não recepcionou José Candido à altura do seu merecimento submetendo-o ao servilismo. Ele voltou à Itapecuru Mirim  onde ficou   dois anos   administrando os bens deixados pelo pai.

            Em maio de 1826 com o falecimento do avô, José Cândido  voltou a São Luís para cuidar das irmãs órfãs.

Luta pela educação

Na época enfrentou sérias dificuldades financeiras e resolveu abrir uma escola em sua casa para dar aulas de primeiras letras, geografia e francês. Também ensinava nas casas  e no quartel para os cadetes. Com o amigo Manoel Pereira da Cunha transformou a escola  em pequeno internato.

No Maranhão, os professores eram mal pagos e pouco valorizados.  Inconformado passou a manifestar-se  sobre o assunto redigindo uma série de artigos críticos sobre  a educação pública,  apontando  como o único meio de alcançar a prosperidade e  a liberdade.  Questionava que saber ler e escrever não bastava   porque a educação precisava  ser cuidada com um “bem sagrado”. Segundo ele: − O pai que não promovia a educação de seu filho roubava-lhes o melhor dos bens, negava-lhe a verdadeira felicidade, merecendo a execração pública, por não desejar o progresso  do seu país.  (O Farol Maranhense, 23.5.1828) Acaso desconhecem os pais da nossa Província a utilidade da instrução? (O Farol Maranhense, 16.3.1830).

Também foi defensor  da educação feminina, que dizia ser “inimiga do servilismo”.  Ele denunciava os pais que se negavam a encaminhar suas filhas  à escolas  por serem “zeladores de suas famílias”.  Ou “Deus me livre de mandar ensinar a ler a minhas filhas”. (O Farol Maranhense,30.5. 1828).

Na avaliação do jornalista, as jovens  maranhenses, embora  causadoras de uma “boa impressão”,  decepcionavam  em uma conversa;  Sim, a conversação das maranhenses é desgostosa, porque elas não podem tratar daquilo de que nunca ouviram falar.  Como podem entender qualquer conversação séria e instrutiva, se jamais passaram da leitura da Cartilha do Padre Inácio. Segundo ele,   A mulher sendo atraente, mas alheia a um conhecimento educacional, é motivo de grande descontentamento ao seu marido e lhe diminuía a felicidade [...]. O homem que recebeu uma boa educação ama a conversação (...), e a ignorância de sua mulher, dificulta o prazer! (O Farol Maranhense, 30.5. 1828).

A história favorece o itapecuruense José Cândido como fundador da segunda escola da Capital do Maranhão , em 1826.

Na época ele  fundou uma tipografia. Foi um orador, que entusiasmava as multidões, principalmente da juventude.

Trajetória jornalística

 Apaixonado pelas questões  libertárias, ao lado  das funções  de professor,  José Cândido em dezembro de 1827,   fundou  o jornal Farol Maranhense.   O  órgão  divulgava    e  repudiava  os excessos contra a Constituição,  a segurança individual e a propriedade dos cidadãos”, passando  a sofrer perseguições  do Governo  que tentava  impedir  a sua  circulação, movendo uma série de processos contra o  jornalista.   Segundo o escritor e crítico literário Paulo de Kock: “Folha de grande influencia pelo  seu patriotismo e ideias adiantadas que professava, discutia as questões no tom de             tribuno ardente, era um oráculo no seio das massas populares. (Pacotilha, 18.1.1884).

José Candido denunciou os opressores, criticou os desmandos na administração pública nos artigos  do Farol, como consequência, sofreu  perseguições.           
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Usava a seguinte epígrafe  que  baseava a sua doutrina:

            De circunlocução eu nada sei,
            O caso conto; como o caso foi,
            Na minha frase da constante lei,
            O ladrão é ladrão, o boi é boi!

            O Farol, denunciava o presidente da Província, contra a “indolência e maldade dos  ministros, que ultrapassavam  as atribuições de seus cargos”. (O Farol Maranhense, 27.5. 1828). Avesso a críticas, o presidente  o  processou   por infringir o Artigo 6º da Lei de Imprensa.  O Governo do presidente  Costa Pinto,  cometeu o  que foi, no entendimento de Odorico Mendes,  um dos maiores atentados, contra os direitos cívicos”.

 Preso e seviciado, recebeu a solidariedade dos amigos  que comungavam com as suas ideias, entre os quais o escritor Odorico Mendes, que veio do Rio de Janeiro, para apoiá-lo. O jornalista foi solto em janeiro de 1829, após  cinco meses de prisão, pelo novo   presidente do Maranhão, o Marquês de Sapucaí. Livre, José Candido voltou a fazer circular o Farol com as mesmas características independente.

             Em abril de 1831, com a abdicação de D. Pedro I, em São Luís, veio à tona um movimento revolucionário, motivados pela  instabilidade econômica da Província, cujos produtos de exportação perdiam valor no mercado externo.   Foi desencadeada  o movimento denominado  Setembrada,    encabeçado por José Cândido de Morais e Silva e Frederico Magno Abranches.

Foi elaborado um documento com o apoio dos militares e do povo, exigindo a destituição dos funcionários  lusitanos, de acordo com a Constituição do Império,   a suspensão dos desembargadores e a demissão  de padres contrários à causa do Brasil. O presidente da Província, Araújo Viana, mandou prender os líderes. José Cândido fugiu da prisão  e escondeu-se nas matas do Itapecuru Mirim. Depois, voltou a São Luís, homiziando-se na casa de Sotero dos Reis. O amigo João Lisboa,  tomou a iniciativa de substituí-lo no  Farol Maranhense, para que  não deixasse de circular. Doente e sem recursos financeiros  o jornalista   faleceu  em 18 de novembro de 1832, aos 25 anos.

Ele deixou viúva Mariana Emília da Cunha, com quem casara a 15 de outubro de 1831.  Ela era irmã da esposa de João Lisboa, seu conterrâneo e amigo.

O jornalista José Cândido de Morais e Silva é patrono da cadeira 13 da Academia Maranhense de Letras e da cadeira 11 da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes ambas ocupada por outro jornalista itapecuruense,  Bendito Buzar. 

 Texto do livro ITAPECURUENSES NOTÁVEIS (2016), de autoria de Jucey Santana.

Um comentário:

  1. Sou uma admiradora e estudiosa da trajetória deste jornalista que eu considero o mártir da imprensa maranhense, o redator do jornal O Farol Maranhense, o intelectual revolucionário José Cândido de Morais e Silva.

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