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quarta-feira, 15 de julho de 2015

ITAPECURU-MIRIM

Memória, arte e religião na Matriz de N.S. das Dores.

Quando chegava o domingo, eu levantava cedo, aliás, eu sempre levantava cedo. Mas no domingo era especial, era dia de missa. As badaladas do sino me chamavam e alegravam o meu espírito.
Ao entrar na Matriz de Nossa Senhora das Dores, parecia que eu estava num sonho: o sino, os cânticos, a voz marcante do padre Benedito e a multidão de pessoas que gradativamente preenchiam todos os bancos da igreja.
Eu ficava em êxtase com tudo aquilo, meus olhos percorriam todos os espaços da igreja, os bancos de madeira, as paredes, o ladrilho do piso, o forro, e finalmente, os três altares: os dois laterais e o imponente altar-mor.

Durante esse passeio visual pelos altares, meus olhos normalmente se demoravam mais na apreciação de duas imagens: a de um anjo vestido como soldado segurando uma espada e uma balança; e uma santa com uma adaga enfiada no peito e uma coroa na cabeça. Eu era apenas um garoto, tinha acho que doze anos de idade, mas aquelas imagens nunca saíram da minha memória.
Décadas depois, investigando inventários do IPHAN descobri que o santo soldado é São Miguel Arcanjo e a santa é Nossa Senhora das Dores. Essas duas imagens, juntamente com as de Nossa Senhora do Rosário, São Francisco Xavier e Santa Rita de Cássia, todas localizadas nos altares da Matriz de Itapecuru-Mirim, formam um precioso conjunto de esculturas remanescentes do século XVIII, em madeira policromada, oriundas das antigas missões/igrejas jesuítas na região de Itapecuru.

Essas missões contribuíram significativamente para o desenvolvimento da nossa região construindo igrejas, colégios para colonos e indígenas, pacificando povos indígenas, fazendo lavouras e criando rebanhos, e unindo as pessoas pela fé em lugares e tempos tão adversos como era a Ribeira do Itapicuru trezentos anos atrás.

 

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