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segunda-feira, 14 de setembro de 2015

MARIANNA LUZ


55 ANOS SEM SEUS MURMÚRIOS

Por: Jucey Santana
Este ano de 2015 a nossa maior poetisa completa 55 anos do seu falecimento, ocorrido em 14 de setembro de 1960.  Faleceu aos 89 anos, sempre escrevendo seus   poemas, sentindo o murmurar em tudo; na natureza, na chuva, na brisa, no canto dos passarinhos, nos risos das crianças, nos dobres do sino, nos gemidos dos carros de bois, nos balidos das ovelhas, no barulho do trem nos trilhos, no trotar dos cavalos, tudo era motivo de inspiração para sua mágica “pena”, que transformava em poemas. Nunca parou de escrever.
Marianna Luz foi uma mulher  na vanguarda  do seu tempo.  Ela  não temia quebrar as regras de uma sociedade preconceituosa para impor o seu   trabalho e talento. A exemplo de dedicar-se ao magistério por quase 80   anos, como a um sacerdócio; ajudar na educação de gerações e gerações de maranhenses; ser pioneira em trabalhos artísticos e artesanais; fundar escolas; ajudar na construção da igreja; fundar teatro; participar de grêmios literários; fazer parte dos principais acontecimentos históricos, culturais e sociais da sua cidade e se projetar como renomada poetisa,  angariando respeito em toda uma classe   literária, ao lado de gigantes da intelectualidade que criaram  o fenômeno da “Atenas Brasileira” no cenário estadual.
Sua história está vinculada na história da arte literária, no momento mais expressivo da memória da poesia maranhense, com um lastro de grande importância.
Registro o comentário do escritor e pesquisador João Carlos Pimentel, sobre a importancia da poetisa para os itapecuruenses: Embora Gomes de Sousa tenha sido infinitamente mais famoso, o seu legado para Itapecuru-Mirim, resume-se ao fato de lá ter nascido. Já Mariana, (...) dedicou toda sua vida à educação, a cultura e a igreja da sua terra. Para mim, ela é indiscutivelmente a filha/o mais importante, pois a sua contribuição foi concreta e efetiva e não apenas um famoso que ali nasceu e ainda criança migrou para São Luís/Rio de Janeiro/Europa como foi o caso de Gomes de Sousa. Não quero com isso diminuir a importância do gênio da matemática. E sim, dar o verdadeiro reconhecimento a Mariana Luz. Ele é o filho mais ilustre e ela a mais importante”.
Não parei de pesquisar Marianna Luz. Tento localizar algumas das suas famosas peças teatrais. Fui informada pelo professor Mauro Rego que poderia encontrar algumas em arquivos de antigos moradores de Anajatuba ou seus herdeiros, onde apreciavam muito o seu talento, quem sabe desenterre esses tesouros! Tenho também outros textos inéditos para uma próxima edição do livro “Marianna Luz, vida e obra”. Ela me surpreende a cada dia.  Recentemente encontrei um poema, que fez parte de um torneio literário do final do século XIX. Como não eram permitidas mulheres naqueles torneios ela assinou como homem e fez bonito. Os homens é claro, alardeavam a formosura de suas amadas, e Marianna Luz mostrou também que tinha uma diva que superava qualquer outra, levando o leitor a imaginar que se tratava realmente de um homem.

AOS POETAS DO TORNEIO
Hector Moret

Poetas, eu perdoo a ousadia,
Com que dizeis que vossas bem amadas,
São mais belas que as louras madrugadas
E mais encantos tem, que a poesia.

Mas forçoso me é um desagravo...
Não conheceis por certo minha diva,
Essa mulher, que ordena-me que viva,
De quem me orgulho em ser humilde escravo!

É longa e interessante a historia dela:
Despeitados um dia loucamente,
Porém os astros dizem ao onipotente:
Incomoda-nos o brilho desta estrela.

Manda-a daqui, não temos mais um seio,
Uma alma docemente enamorada,
Que em noite serena e perfumada
Por nós suspira em doloroso enleio.

E Deus, alma sublime e piedosa,
Apesar de sentir ausência sua,
- Eu vou manda-la, disse branca lua,
Vou transforma-la em purpurina rosa,

Então no prado, entre mimosas flores,
Entre lírios tão puros como a neve,
Beijou-a o colibri muito de leve,
Sentindo o peito borbulhar de amores.

Não mais o sol beijou as açucenas,
Não mais os arrebóis das madrugadas,
Banharam as corolas perfumadas,
Em que adejavam rutilas falenas.

Descoraram as flores de ciúmes,
E em precioso bando matizado
Elevaram ao céu todo anilado,
Suas queixas envoltas de perfumes.

E Deus tomando a flor tão peregrina,
Em suas mãos de pai, bom e perfeito,
Formou-lhe um coração dentro do peito
E lhe deu uma alma lirial divina.

Vai lhe disse: reinar, fulgir, vencer,
A todas essas que se julgam bela,
Domina-as com o olhar e diz a ela,
Que fostes, Estrela, Flor e hoje és Mulher!


O Norte, (Barra do Corda) 13.8.1899


3 comentários:

  1. Como seria bom se aqui estivesse repleto de comentários! Parece que o desejo pelo conhecimento e pela intelectualidade foi substituído pelo mero desejo por coisas. Que pena! Que saudade de nossa Itapecuru dos tempos idos da época de Mariana Luz, Natim Ferraz, João Silveira e tantos outros que eram apaixonados pelas letras... Pela poesia, etc.

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