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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

OS SALVADORES DA PÁTRIA



     

Mauro Rêgo *

            O Brasil elegerá em outubro o seu novo Presidente, fato que promove muitos debates, divulga muitas ideias, permite que surjam novos salvadores da Pátria e nos coloca, e como, em situação de alerta. Como no futebol que transforma muitos brasileiros em técnicos, o momento histórico em que vivemos transforma muitos cidadãos em cientistas políticos, pois cada brasileiro julga conhecer os caminhos mais certos para tirar o País do caos em que vivemos. E eu, que já passei dos 80, coloco-me entre os que se julgam sabedores de “como” sair desta situação, arvorando-me de um conhecimento que nunca tive mas que julgava dominar.

            Quando Getúlio Vargas sucumbiu e foi levado ao suicídio, parecia o fim do mundo. Um dos personagens muito citados além de Carlos Lacerda, era Gregório Fortunato, que os jovens de meu tempo classificavam de traidor e eu falava com certa vaidade de tê-lo visto várias vezes no Bar do Hotel Central, em São Luís. E a comoção custou mas passou.

Veio a era de Juscelino, cujo “slogan” de campanha, quando candidato a Governador de Minas Gerais, era “governar é abrir estradas”. O povo viveu seu momento de glória com a inauguração de Brasília e as frases de efeito que pronunciava em várias ocasiões. Mas as denúncias de corrupção que desembarcaram Vargas do Poder, começaram a tomar conta do noticiário dos jornais.

Surgiu aí o grande salvador da Pátria na figura de Jânio Quadros, cujo símbolo era a “vassoura” que se opunha è “espada” do Marechal Henrique Teixeira Lott. O povo se entusiasmou com a vassoura, cujos efeitos dominaram até as musicas carnavalescas. E as vassouradas que se preocupavam até com as brigas de galo se celebrizaram por governar através dos “bilhetes” que eram enviados aos Ministros de Estado e terminaram por varrer o próprio Jânio Quadros que, segundo diziam, renunciou num dia de intensa ressaca.

Vieram os militares para moralizar o País. Sabemos dos muitos avanços que tomaram na modernização do País, mas o povo brasileiro pagou um preço muito alto com as torturas infligidas aos que eram taxados de comunistas, alguns dos quais nem sabiam o que isso significava; prisioneiros que desapareceram e nunca foram encontrados, o medo que tomava conta do povo diante de um simples “sargento” que se transformava no mais cruel dos representantes do poder e essas lembranças ainda nos deixa perplexos.

Um outro “salvador” de que me lembro foi Color de Melo, o caçador de marajás e que se revelou o maior deles e inaugurou o impeachment. Veio o “sociólogo” FHC, também grande esperança do povo, que instituiu a reeleição na área do Poder Executivo, responsável pelo declínio da administração pública já tão enfraquecida. Note-se que a corrupção que foi inaugurada antes da chegada de D. João VI, foi se alastrando pelo País e já era considerada “normal” no meio do Poder Público.  

Foi nesse contexto que surgiu outro “salvador da Pátria”: O metalúrgico Luís Inácio Lula da Silva que representava a ascensão do povo ao poder, representado pelo sobrenome “Silva” que era da maioria das classes populares do Brasil. Não se pode negar que muitos avanços sociais foram por ele implementados e que representaram muitas conquistas para a classe mais pobre, fazendo com  que, mesmo na cadeia, continue a ser um grande líder. Mais uma vez, entretanto, essas conquistas custaram muito caro ao povo brasileiro. Não foi a riqueza de origem duvidosa que o transformou no maior latifundiário da Amazônia, entre outras coisas, mas o maior desastre foi a “institucionalização da propina” que sujou todos órgãos públicos e atingiu até mesmo a nossa Petrobrás que era o orgulho do País e se tornou símbolo das falcatruas. E o governo que nos tirou do FMI, nos legou um déficit público sem precedentes.  

Atualmente o título de “salvador da Pátria” ameaça ser entregue ao Sr. Jair Bolsonaro, cuja tentativa de assassinato elevou a sua posição entre os presidenciáveis no primeiro turno e cujo discurso descomprometido está entusiasmando jovens e marginalizados que ele combate e ameaça, numa época em que o mundo inteiro clama por paz. É que o povo brasileiro desesperado procura uma situação de “fuga”. A mesma situação que fez Cacareco e Juruna serem eleitos. Alguns esperam a liberação de armas, outros a eliminação de homossexuais e negros, mas a verdade está no desabafo de um de seus eleitores: Não é para esculhambar? Então vamos esculhambar de vez”.

Mas o estado democrático de direito permite que ele assuma a Presidência, se for eleito. É mais um salvador da Pátria que ameaça concluir o lançamento do País no “abismo” anunciado em séculos de nossa história. Nos meus 16 anos, lembro de um outro “cientista político” do meu jaez, que dizia: Se o Brasil cair no abismo, coitado do abismo.
 
                                                           
                                                  






  Mauro Rêgo é escritor e membro da Academia Anajatubense de   Letras, Ciências e Artes (ALCA) e da Academia Itapecuruense de Cências,  Letras e Artes.  
 

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