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quinta-feira, 25 de abril de 2019

MULHERES NA LITERATURA MARANHENSE

    

O eco da palavra lírica e os embates femininos indispensáveis à vida no mundo humano
                                                                                                         *Dilercy Adler

MULHERES NA LITERATURA MARANHENSE é o tema maior da minha fala adotando, assim, o da própria Mesa. O eco da palavra lírica e os embates femininos indispensáveis à vida no mundo humano, elegi como um subtema que se firma como um esclarecimento a mais acerca da linha argumentativa que defini para esta manhã, neste belíssimo e marcante evento, nesta bela aniversariante cidade de Itapecuru-Mirim, na sua Primeira Feira de Livros, por isso um grande marco na história da cidade: a I FLIM!!! Além dos meus Parabéns a esta cidade, quero expressar o meu desejo de que a esta I FLIM, se sucedam infinitas feiras de livros nesta pródiga cidade.

Quero iniciar esta minha breve análise com palavras positivas e verdadeiras ,para dar alento ao coração das mulheres e aos homens de boa vontade, as quais se referem à quebra de paradigmas relativa a essa temática, afirmando que essa quebra está sendo feita há algum tempo, lentamente, mas quebrando sempre... numa viagem sem volta, e observa-se também uma quebra mais lenta inicialmente, mas com visíveis avanços que se fortalecem a cada dia.
Também com palavras de agradecimento a todas as mulheres, 

[...] deusas e humanas que ousaram quebrar os paradigmas opressores do seu tempo e, destemidamente, fizeram da fragilidade feminina a sua força, o seu escudo, a sua lança nos embates indispensáveis da vida, sem esquecer o amor e o erotismo, forças geratrizes de vida e criação (ADLER, 2001, p. 02).

Nesse sentido, temos coletado em diversas fontes que, historicamente, com raríssimas exceções, o homem tem marcado a sua existência por meio da sua supremacia sobre a mulher, em decorrência de que

O universo masculino é caracterizado por mais plasticidade e acesso a um quantitativo e maior intensidade de estímulos para o desenvolvimento das suas potencialidades do que o feminino.
Assim é que, também a arte, a exemplo da ciência, tem demonstrado um quantitativo maior de expressões, de obras masculinas do que de femininas. Ou seja, em todas as áreas do conhecimento, o pensamento adotado e divulgado socialmente é aquele que tem na sua base o modelo eurocêntrico, masculino, caucasiano e aristocrático (ADLER, 2016, p.230). 

Ao se ter acesso a qualquer manual de História da Literatura, nota-se a débil presença ou completa ausência de mulheres escritoras.
A lacuna no que diz respeito às mulheres, como sujeitos na História, é vasta. Nesse contexto, cabe à crítica literária feminina pesquisas e estudos, darem visibilidade às mulheres, tornando também audíveis suas vozes e discutindo o real lugar da autoria feminina no cânone literário, desconstruindo a visão predominante eurocêntrica, masculina, caucasiana e aristocrática, referida anteriormente. E esta mesa traduz e concretiza essa preocupação.
De forma prática traremos alguns nomes e situações de mulheres na literatura maranhense, tomando por fio condutor a inserção dessas mulheres em três Academias de Letras do Maranhão, mas tomando por base, inicialmente, a Academia Brasileira de Letras, de modo sucinto.
A Academia Brasileira de Letras-ABL foi fundada no Estado do Rio de Janeiro, em 20 de julho de 1897, por iniciativa de Machado de Assis, seu primeiro presidente, com o objetivo de preservar a língua e a literatura nacionais. A sessão inaugural foi realizada numa sala do Museu Pedagogium, na Rua do Passeio, com a presença de dezesseis acadêmicos.
Anteriormente, no dia 28 de janeiro de 1897, fora realizada a sétima e última sessão preparatória da fundação. Na ocasião foi apresentado o seu Estatuto com as assinaturas de: Machado de Assis, Presidente; Joaquim Nabuco, Secretário-Geral; Rodrigo Octavio, Primeiro-Secretário; Silva Ramos, Segundo-Secretário e Inglês de Sousa, Tesoureiro. E, no seu artigo 2º, preconiza:

Art. 2º - Só podem ser membros efetivos da Academia os brasileiros que tenham, em qualquer dos gêneros de literatura, publicado obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro de valor literário. As mesmas condições, menos a de nacionalidade, exigem-se para os membros correspondentes.
Ainda no início dos anos 50, o Regimento Interno da ABL ratifica a impossibilidade de elegibilidade feminina e altera o artigo: os membros efetivos serão eleitos, dentre os brasileiros, do sexo masculino, deixando mais claro ainda a prerrogativa excludente do gênero feminino.
A primeira candidatura feminina, Amélia Beviláqua, em 1930, foi rejeitada, sob a justificativa de que o vocábulo “brasileiros” restringia suas vagas apenas ao sexo masculino; ficou claro que a Academia relacionava valor literário a gênero.
A segunda mulher a tentar participar do círculo de literatos imortais foi Dinah Silveira Queiroz, cuja candidatura também foi rejeitada. Apenas em 1977 a instituição discutiu novamente a questão da mulher na Academia, para dar parecer favorável a Rachel de Queiroz (Cadeira 5).
Assim, durante as primeiras oito décadas de existência da Academia Brasileira de Letras, nenhuma mulher fez parte da instituição (grifo meu).
Só a partir dos anos setenta as mulheres ocuparam cadeiras na ABL. Em 1980, foi a vez de Dinah Silveira de Queiroz (Cadeira 7), que já tinha sido candidata anteriormente. A terceira mulher a ser membro foi a escritora Lygia Fagundes Telles, em 1985 (Cadeira 16); em seguida, Nélida Piñon (Cadeira 30), em 1989; Zélia Gattai, em 2001 (Cadeira 23); Ana Maria Machado (Cadeira 1), em 2003; Cleonice Berardinelli, em 2009 (Cadeira nº 8); e por fim, Rosiska Darcy (Cadeira 10), em 2013.
Mas outro fato digno de nota é que nenhuma mulher patroneia nenhuma Cadeira na ABL.
Outro fato digno de nota : A história da maior ausência dos 121 anos da ABL foi descoberta, por acaso, durante uma pesquisa em 2005. Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), foi o primeiro e mais emblemático vazio institucional produzido pela barreira de gênero", diz Michele Fanini.
 No livro de Michele Asmar Fanini A (in)visibilidade de um legado – Seleta de textos dramatúrgicos inéditos de Júlia Lopes de Almeida, lançado em março de 2017, pela Editora Intermeios e coedição da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), ela demonstra a importância da escritora e a redime de uma sociedade machista, cujas barreiras de gênero a relegaram ao ostracismo institucional.

Júlia era um caso raro: uma escritora que vivia com o dinheiro da própria escrita. Mãe de família, casada com o poeta português Filinto de Almeida, foi uma das primeiras romancistas do Brasil, metade do século 19. No papel de intelectual, que defendia o abolicionismo, assumia posições feministas e era sucesso de vendas, ajudou a criar a Academia Brasileira de Letras (ABL). Tudo para ver seu nome rejeitado a uma Cadeira dentro da instituição por ser mulher.
No Maranhão, vou me reportar à Academia Maranhense de Letras-AML, à Academia Ludovicense de Letras-ALL e à Academia anfitriã: a Academia de Ciências, Letras e Artes de Itapecuru Mirim- AICLA.
A Academia  Maranhense de Letras, fundada em 10 de agosto de 1908, por Antônio Lobo, Alfredo de Assis Castro, Astolfo Marques, Barbosa de Godóis, Corrêa de Araújo, Clodoaldo Freitas, Domingos Barbosa, Fran Paxeco, Godofredo Viana, I. Xavier de Carvalho, Ribeiro do Amaral e Armando Vieira da Silva, considerada de utilidade pública pelo Dec. Nº 92, de 19.novembro de 1918, do governador Urbano Santos da Costa Araújo. No seu quadro, 40 cadeiras patroneadas exclusivamente por intelectuais do sexo masculino. Nela existem três categorias de membros Fundadores: Fundadores pioneiros, num total de 12; Fundadores complementares, num total de 08 e Fundadores de Cadeiras, num total de 20. Nesta terceira categoria encontramos duas mulheres: Laura Rosa (Cadeira. 26) e Mariana Luz (Cadeira. 32). Nos seus quadros de membros, na qualidade de antecessores, apresenta três nomes femininos: Lucy Teixeira (Cadeira 7); Dagmar Desterro (Cadeira 24) e Conceição Neves Aboud (Cadeira 20), cuja sucessora e ocupante atual é Sônia Almeida. No quadro atual de ocupantes de cadeiras, existem mais três mulheres, além de Sônia Almeida: Laura Amélia Damous (Cadeira 6(Cadeira); Ana Luiza Almeida Ferro  (Cadeira 12) e Ceres Costa Fernandes (Cadeira 39).
A Academia Ludovicense de Letras-ALL, Casa de Maria Firmina dos Reis foi fundada em 10 de agosto de 2013.

Sabe-se que a Academia de Letras de São Luís, apesar de ter sido pensada por muitos intelectuais da cidade, só se concretizou no bojo de um Projeto proposto pela ocupante da Cadeira nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão-IHGM, Dilercy Aragão Adler, intitulado “Mil Poemas para Gonçalves Dias. Tendo sido aprovado o Projeto, a proponente convidou o Confrade Leopoldo Gil Dulcio Vaz, ocupante da Cadeira nº 40 do IHGM, para assumir conjuntamente a implementação do referido Projeto. A ideia da elaboração do Projeto veio do Chile, o primeiro dessa modalidade, “Mil Poemas para Pablo Neruda” que contou com a participação da poeta Dilercy Adler tanto com poemas como do lançamento no Chile. No projeto local a ideia proposta foi ampliada,  e, além de poesias, uma segunda Antologia intitulada “ Sobre Gonçalves Dias”, constituída de artigos e pesquisas sobre a vida de Gonçalves Dias e ainda  foram envolvidas três cidades: São Luís, Caxias  (onde Gonçalves Dias nasceu) e Guimarães (onde faleceu em um naufrágio na Costa dos Atins. Cada cidade tinha a sua programação e São Luís incluiu nas suas atividades a fundação da Academia de Letras da cidade: A Academia ludovicense de Letras- ALL.
 Vinte e cinco pessoas assinaram o livro ata da Fundação, juntamente com outras pessoas, como testemunhas, pertencentes a diversas instituições, nacionais e de outros países, presentes ao ato. Dentre esse total de assinantes tinha apenas 3 mulheres: Dilercy Aragão Adler, Ana Luiza Almeida Ferro e Clores Holanda Silva. Depois, o ingresso na Academia deu-se por indicação de nomes pelos membros fundadores e as demais cadeiras foram ocupadas por meio de eleições, de modo que as mulheres estão assim distribuídas dentre as categoria: Membros efetivos fundadores:  Dilercy Aragão Adler (Cadeira 8), Clores Holanda Silva (Cadeira 30) e Ana Luiza Almeida Ferro (Cadeira  31). Dos Membros efetivos indicados por Membros Fundadores: Ceres Costa Fernandes (Cadeira 34) e Maria Thereza de Azevedo Neves (Cadeira 13). Membros efetivos eleitos, sendo o 1ª. Ocupante da Cadeira: Miriam Leocádia Pinheiro Angelim (Cadeira 24) e Jucey Santos de Santana (Cadeira 35).
Um dado interessante é que das 40 Cadeiras, seis são patroneadas por mulheres, além do que a Patrona da Casa é uma mulher, negra, filha de uma mulata forra e pai negro. Patronas das cadeiras: Maria Firmina dos Reis (Cadeira 8), Laura Rosa (Cadeira 25), Maria de Lourdes Argollo Mello (Dilú Mello - Cadeira 29), Lucy de Jesus Teixeira (Cadeira 34), Maria da Conceição Neves Aboud, (Cadeira 37) e Dagmar Destêrro e Silva (Cadeira 38).
A ALL em 3 gestões já teve uma Presidente do sexo feminino: a Psicóloga, Escritora e Profa. Dra. Dilercy Aragão Adler (2016-2017.
No livro Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor, lançado em 2017, na página 76, Dilercy Adler expõe a seguinte inquietação:

[...] Embora a ALL tenha sido fundada 401 anos após a fundação da cidade de São Luís, talvez essa demora fosse em função da espera do tempo/destino do momento adequado para que Maria Firmina tivesse nela lugar de destaque. Às vezes me pergunto: Se tivesse sido fundada antes, seria ela a Patrona? Acredito que dificilmente.

A Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes-AICLA foi fundada em 9 de dezembro de 2011, por 34 Membros Fundadores. 

O seu quadro de Patronas apresenta 5 mulheres: Mariana Luz (Cadeira 1); Maria das Dores Cardoso (Cadeira 7); Graciete de Jesus Cassas e Silva (Cadeira 8); Maria José Lopes Martins (Cadeira 23) e Lili Bandeira (Cadeira 24). 

As ocupantes de cadeiras da AICLA são 5:
Maria da Assenção Lopes Pessoa (Cadeira13), Jucey Santos de Santana (Cadeira 17), Maria das Mercedes Sampaio de Menezes (Cadeira 33), Benedita Silva de Azevedo (Cadeira 34) e Terezinha Maria Muniz Cruz Lopes (Cadeira 36).

Membros Correspondentes.
De um quadro de 24 cadeiras, duas são patroneadas por mulheres: Blandina Santos (Cadeira 2), Teresinha Bandeira de Melo (Cadeira 15). Ocupantes Dilercy Aragão Adler (Cadeira 2), Mirella Cezar Freitas (Cadeira 5), Antonia Silva Mota (Cadeira 7), Maria de Fátima C. Travassos (Cadeira 14) e Maria Cecília Cantanhede Dutra (Cadeira  15).

Dentre os dois Presidentes na recente história da AICLA, nota-se com satisfação, a presença de uma mulher: a Escritora Jucey Santos de Santana, atual Presidente. 

Uma homenagem especial a uma mulher maranhense que traduz a palavra nos embates femininos indispensáveis à vida no mundo humano: Através da medicina, Maria Aragão entregou-se às causas sociais, lutando por uma sociedade justa e igualitária. Foi uma eterna defensora das bandeiras libertárias e continua a ser referência para a luta popular do Maranhão. A médica foi também Diretora do Jornal Tribuna do Povo e lutou contra a ditadura militar.    
                                               
Os dados apresentados ratificam as ideias iniciais, tanto de exclusão das mulheres como da quebra de paradigmas quanto à inserção da palavra feminina no mundo humano, e já se percebe o eco da palavra lírica e da palavra dos embates femininos de inserção em todas as áreas de saber, como também nos campos profissionais.

 Assim, nas academias de letras mais novas, já fundadas neste novo milênio, se observa na amostra pesquisada que, das quatro academias citadas, as duas centenárias ( ABL, 1897 e a AML, 1908) têm patronos, na sua totalidade, escritores do sexo masculino, enquanto as duas academias criadas neste novo milênio (ALL, 2013 e a AICLA, 2011) têm patronas e ocupantes de cadeira do sexo feminino, embora não seja ainda expressiva essa presença. 

Por isso, reafirmo que essa quebra está sendo feita, lentamente, mas quebrando, sim, paradigmas, superando exclusão... numa viagem sem volta. Percebe-se ainda, claramente, um movimento mais lento inicialmente, mas com visíveis avanços que se fortalecem a cada dia.
Evoé!

    
Nota:
Do latim evoe : Grito de evocação proferido pelas sacerdotisas que cultuavam Baco, pelas bacantes.
Por Extensão Grito de felicidade, de alegria; expressão de entusiasmo e exaltação.

REFERÊNCIAS
ADLER, Dilercy Aragão. Poesia feminina: estranha arte de parir palavras. São Luís: Estação Gráfica.2011.
ADLER, Dilercy Aragão. Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor. São Luís: ALL, 2017.
ADLER, Dilercy Aragão. Poesia Polarizada a partir do gênero: Condição real ou engendrada. Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil-AJEB: Palavras 2016. Porto Alegre: Evangraf, 2016.
SANTANA, Jucey Santos de. Mariana Luz: vida e obra. Itapecuru Mirim: editora, 2014.


            
*Psicóloga, Doutora em Ciências Pedagógicas, Mestre em Educação, Especializada em Sociologia e em Metodologia da Pesquisas em Psicologia. 12 livros publicados, organizou 12 antologias e integra mais de cem entre nacionais e internacionais. Membro fundador e Presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL (biênio 2016-2017), Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil, Delegada no Maranhão do Liceo Poético de Benidorm/Espanha, entre outras entidades Lítero- Culturais, e agraciada com várias premiações literárias.







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