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domingo, 21 de abril de 2019

PADRE FRANCISCO JOSÉ CABRAL




Padre Cabral em Itapecuru Mirim – 1861 a 1871

Jucey Santana 
 
Em dezembro de 1861 assumiu a Freguesia de Itapecuru Mirim o vigário Francisco José Cabral, que se mostrou um empreendedor revolucionário. O padre chegou a Itapecuru Mirim com um histórico de construtor, haja vista que as duas vilas em que estivera antes, São João de Cortes (Alcântara) e Guimarães, ganharam igrejas novas e lamentaram sua transferência. 

Ao chegar a Itapecuru Mirim padre Cabral encontrou a igreja prestes a desabar. Mobilizou todos os fiéis com campanhas para angariar fundos para a construção e pagamentos de débitos anteriores. Reorganizou os novenários dos festejos de Nossa Senhora da Conceição, de São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e São José. Reorganizou e registrou as Irmandades (São José e Nossa Senhora do Rosário), ativou e otimizou a fábrica da igreja (velas e acessórios de limpeza), atualizou as taxas de enterros na igreja, administrados pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário.

           Reconstrução da Igreja de Nossa Senhora do Rosário
O incansável padre iniciou o trabalho desde a estrutura da edificação que estava comprometida, e no final de 1862, foi concluída a capela do Bom Jesus da Cana Verde, construída em um dos consistórios da igreja, com um altar decente e as obras gerais estavam bem adiantadas, sem dinheiro público, declarou o padre.

Os habitantes dirigiram um abaixo assinado ao padre Cabral, manifestando gratidão: constando os abaixo assinados apresentar solene e espontânea estima e apreço por preservar do aniquilamento certo a única igreja que possui esta vila, sem auxilio pecuniário dos cofres públicos. (Publicador Maranhense, 20.5.1862).

Como precisava refazer o frontispício, que ficara desaprumado e incapaz, correndo o risco de um desabamento, o padre Cabral solicitou ao Tesouro Provincial, em ofício de 10 de março de 1864, uma urgente ajuda, no que foi atendido com o valor de 600$000 (seiscentos mil reis), depois mais 200$000 (duzentos mil reis), que favoreceram a conclusão da obra (Arquivo Público do Estado do Maranhão: Vigários e Freguesias – 1857/1872).

Depois da reconstrução pelo padre Cabral a igreja ficou com as seguintes divisões: as peças principais (corpo e capela-mor de Nossa Senhora do Rosário), um consistório ao lado que servia de capela de Bom Jesus da Cana Verde e reuniões das irmandades, a sacristia do outro lado, um coro grande e um coreto por cima da sacristia. Também foram construídos os altares laterais, rebocada, pintada e forrada, só estava faltando conclusão de uma ampla varanda do lado esquerdo do nascente (A Coalizão, 3.1.1863).  
   
Em 1868 a igreja recebeu uma substanciosa ajuda da falecida viúva Aurora Benvinda Madail (herdeira do Engenho Bebedor), que deixou em testamento a vultosa quantia de 4.689$818, que propiciou ao padre Cabral a compra de paramentos, um novo sino, recuperação de dois sinos antigos (enviados à capital para consertos) e a conclusão dos seus novos projetos mais arrojados: a construção de um cemitério com capela.  
  
Cemitério Padre Cabral

    A prática de sepultamentos nas igrejas passou a ser contestada por sanitaristas, médicos higienistas e governantes que defendiam o fim dessa prática por considerá-la insalubre à saúde pública diante das pestes que acometiam a população e, consequentemente levar as mazelas para o interior das igrejas. 

 O padre Cabral com o seu espirito inovador resolveu o problema construindo um amplo cemitério distante da igreja Nossa Senhora do Rosário e fora do conglomerado urbano, que era o local onde ficava a Câmara, Cadeia Pública e o centro comercial. No local o operoso padre construiu uma simpática capela para os ofícios fúnebre. O local ficou conhecido como Cemitério Padre Cabral ou Cemitério do Areal, que atendia a toda população cristã. 

    O Cemitério Padre Cabral continuou sendo administrado pela Irmandade Nossa Senhora do Rosário e a renda auferida com os enterros era empregada na manutenção do próprio cemitério e da igreja. 

 Em documento no Arquivo Publico de 1867 ao clero, padre Cabral relaciona as obras realizadas, citando a reforma da igreja e a construção do cemitério 8.000$000 (oito contos de reis), sendo que a Província havia contribuído apenas com 1.100$000 (um conto e cem mil reis): sendo tudo com a proteção dos paroquianos e com o limitado rendimento da fabrica da matriz.

Secularização dos Cemitérios

A Constituição de 1891, do regime Republicano,  com a separação formal entre a Igreja e o Estado, implantado desde então, o laicização no país. Entre muitas mudanças que surpreenderam os cidadãos uma delas foi secularização dos cemitérios, determinando a transferência obrigatória da administração   para a municipalidade. 

    A prática não foi recepcionada imediatamente pela população e pelas irmandades religiosas.

    Depois da mudança o Cemitério Padre Cabral ainda ficou sendo dirigido pela igreja durante 28 anos. Em um ato do prefeito José Lúcio Bandeira de Melo de 12 de novembro de 1929, determinou: 

Atendendo, a Constituição Política da República que estatuiu a secularização dos cemitérios;
 Atendendo, que pela expressão usada nas leis que nenhuma exceção referente a posse ou propriedade dos cemitérios;
Atendendo, que mesmo para aqueles que opinam pela conservação aos direitos particulares ou comunidades religiosas o poder público tem o direito e o dever de intervir a bem da moral e da higiene;
Atendendo, que o cemitério, pertencente a uma Associação Religiosa esta carecendo de melhoramento e eficiente administração;
Decreta: Fica o cemitério desta cidade incorporado ao patrimônio Municipal, revogadas as disposições em contrario

O Cemitério Padre Cabral, no local  da atual Praça Albino Campos, ao lado da Igreja Matriz, continuou com as práticas de enterramentos até os anos 40, quando foi construído um novo Cemitério Municipal. Em 1945 o governador do Estado Clodomir Cardoso liberou a quantia de Cr$ 5.000,00 para remoção dos destroços do antigo cemitério e a construção  de um novo.  A partir de 1947 o antigo cemitério ficou completamente  desativado.

              Morte do padre Cabral em Itapecuru Mirim

Pelos registros encontrados, o padre Cabral deixou a igreja reformada e ampliada e a fábrica da igreja otimizada e produtiva, os bens e a documentação em ordem e a construção do novo cemitério com capela concluídos e ainda iniciou a construção da capela de Santa Cruz. 

O padre Francisco José Cabral faleceu em Itapecuru Mirim, em 19 de novembro de 1871, e foi sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. 

Depois da morte do padre Cabral poucas informações foram localizadas sobre reformas da igreja, somente pequenos reparos e padres com pouco tempo de permanência em Itapecuru Mirim.

Do livro, Sinopse da História de Itapecuru Mirim, pags: 164 e 203 (2018), de autoria de Jucey Santos de Santana.

Um comentário:

  1. Meu avô faleceu em 1940 e foi enterrado no atual cemitério, onde está até hoje. Como pode ser?

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