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sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Levando Mariana à “Luz” do conhecimento acadêmico


               

*Luiza Marinho
A pesquisa em periódicos abre uma vastidão de horizontes para novas descobertas, nos ajudando  a resgatar aspectos socioculturais, literários e históricos de toda uma época. Mariana Luz foi uma das “descobertas” que eu, enquanto pesquisadora do Grupo de Estudos e de Pesquisa Literatura História e Imprensa (GEPELHI/UFMA), o qual iniciou suas atividades em setembro de 2015, pela Coordenação de Letras, do Campus Universitário Bacabal, da Universidade Federal do Maranhão, propondo pesquisas de campo e visitas aos acervos de fonte primárias em busca de documentos que trazem à baila aspectos literários, linguísticos, históricos, sociais e culturais do Maranhão do século XIX e XX para catalogação, análise e divulgação.

Em 2016 iniciei os meus trabalhos no grupo, investigando, primeiramente, textos literários no jornal O Rosariense, primeiro periódico da cidade de Rosário, que esteve em circulação de 1903 a 1905, contando com diversas publicações literárias, especialmente poemas de escritores do Estado, sendo a maioria deles desconhecidos do grande público. Dentre esses escritores, uma, em especial, me chamou a atenção: uma certa “Marianna Luz”, que teve diversos de seus textos publicados no jornal, sendo, a propósito, uma das mais publicadas, ficando atrás apenas do redator do periódico, Leslie Tavares, que também publicava ali seus escritos literários. Chamou-me a atenção não apenas pela frequência de suas publicações, mas, antes de tudo, por ser uma mulher, que, dentro de um contexto extremamente misógino e machista, no qual as vozes femininas dificilmente eram ouvidas e mais raramente ainda se faziam ecoar, ousou publicar os seus trabalhos intelectuais.

Decidi, então, aprofundar a pesquisa sobre a autora, e, em busca de informações biográficas sobre esta, encontrei o blog de Jucey Santana e tive uma boa surpresa: Santana, pesquisadora conterrânea da autora, havia lançado há pouco um livro sobre a vida e obra de Luz. Entrei em contato com ela, que, ao saber da minha pesquisa, prontamente se dispôs a presentear-me com um dos exemplares de seu livro. Soube, ainda, que Mariana Luz, era uma escritora negra. Por que isso é importante? Por ressaltar ainda mais o espírito de resistência da autora: mais uma vez lembrando o contexto do final do século XIX e início do XX, em meio à plena dominação social do patriarcado branco, Luz rompeu as correntes do preconceito e não se retraiu, sendo, além de escritora, teatróloga, musicista, professora, artesã, oradora e uma voz política ativa dentro da sua cidade.

A cada página lida de Marianna Luz: vida e obra e coisas de Itapecuru-Mirim, percebendo que Luz havia sido ainda maior do que eu imaginava, uma das escritoras mais ativas do estado na última década do século XIX e primeira década do século XX, publicando em diversos periódicos ao redor do estado e, até mesmo, de fora dele, me certificava de que valia a pena levar minha pesquisa adiante e escrever o meu Trabalho de Conclusão de Curso sobre esta autora, que teve rica e vasta obra literária, porém é ainda tão pouco estudada. E assim o fiz. O meu trabalho intitulou-se Mariana Luz: jornalismo literário na imprensa maranhense no início do século XX; foi um trabalho de natureza interdisciplinar, tal qual toda a minha pesquisa, no qual estudei e escrevi sobre o percurso histórico do periodismo dentro do país, de um modo geral, e dentro do Maranhão, mais especificamente, para, em seguida, falar sobre Luz, suas publicações periódicas e sua obra, mesclando jornalismo e literatura. Afim de delimitar a pesquisa, fiz um recorte temporal de 4 anos, estudando a obra da autora publicada entre os anos de 1902 a 1905, selecionando um jornal do interior do estado, que não poderia deixar de ser O Rosariense, não apenas por contar com diversas publicações da autora e por ser o meu primeiro jornal de pesquisa, como também por eu ter notado que este não estava catalogado dentre os periódicos dos quais Jucey Santana se valeu para reunir a obra da autora e, por isso, ali poderia haver algum texto inédito, ainda não republicado, o que de fato constatou-se com um dos poemas analisados, e um da capital, a Pacotilha, para demonstrar esse percurso de publicação de Mariana Luz por todo o Maranhão, e analisei, conforme a abordagem simbolista, corrente literária com a qual a autora mais se identificava, seus poemas neles publicados.

Posso atestar que esta foi uma experiência enriquecedora, para mim e para as Letras, dado o caráter inédito da pesquisa e a divulgação de tão importante autora maranhense, que impactou, até certa medida, a sociedade itapecurense e maranhense da época com sua obra literária e demais ofícios, podendo ser equiparada ou comparada até mesmo com Maria Firmina dos Reis, outra ilustríssima maranhense, que foi a primeira romancista do país, também mulher, negra e de origem humilde. Acredito que Mariana Luz ganhará cada vez mais espaço nos estudos acadêmicos nacionalmente, assim como Maria Firmina, que nos últimos anos vem ganhando grande notoriedade. Faz-se, portanto, de fundamental importância tirar tão importante autora do ostracismo, levando-a à “Luz” do conhecimento dos estudiosos da literatura e da sociedade em geral.



 Luiza Natalia Macedo Marinho, graduada em Letras/Português, pela  Universidade Federal do Maranhão – UFMA,  Campus de Bacabal, autora do projeto monográfico de formatura, intitulado,  MARIANA LUZ: Jornalismo Literário na Imprensa Maranhense no Início do Século XX, teve por orientadora: Profa. Dra. Cristiane Navarrete Tolomei


    

2 comentários:

  1. Meus parabéns, MARINHO, Luiza Natalia Macedo...que trabalho! Você conseguiu trazer algo a mais para o mundo das Letras!!!

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