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sexta-feira, 24 de julho de 2020

SE A LUA SAÍSSE MAIS TARDE

     *Mauro Rego

Queria que hoje
A lua saísse mais tarde,
Depois que a cidade se acalmasse,
Depois que as casas se fechassem,
Depois que todos dormissem
E a paz reinasse sobre os campos!

Queria que hoje
A lua saísse mais tarde
Para que, livre de todas as distrações,
Eu pudesse contemplá-la surgindo atrás dos morros
Espargindo sua luz sobre o campo
Espalhando cores sobre o espelho das águas!

Eu navegaria na calma desse campo imenso
Procurando encontrar os fantasmas,
Querendo conviver com os espíritos!
E tu, canoeiro de outras águas,
Navegarias comigo em busca do impossível,
Em busca do cabrunco que tu nunca viste,
Ouvindo os tambores de um passado distante
Que tu não conheces!

E tu silenciarias, canoeiro de longe,
Para que eu pudesse ouvir a voz das coisas,
Gemidos de almas penadas,
O grito de Raimundo Gadeiro,
As caixas do Divino subindo os morros
E o rufar surdo dos tambores de crioula
As caixas do Divino subindo os morros
E o rufar surdo dos tambores de crioula
E de São Benedito!

E se os seres sobrenaturais quisessem navegar conosco,
Invisíveis como tu, canoeiro encantado,
Eu te entregaria a vara de angico
Para que tu levasses o viajante
Até a enseada verde
Onde ele saltaria para sua morada escura!

Sentirias comigo as bênçãos do infinito,
Afastarias as maldições errantes
E conhecerias, como eu, os mistérios do campo...
As estrelas esmaeceriam
Sob o brilho da lua que chegou mais tarde,
Até que os galos cantassem
Desfazendo os mistérios,
Mandando que tu também partisses,
Canoeiro de outras águas!

Queria que hoje
A lua saísse mais tarde
Para ofuscar as luzes caminheiras
Que espantam os viajantes da noite;
Para que eu cavalgasse o cavalo encantado
Que passa pela Rua do Fio
E se perde na distância
Retinindo seus arreios de moedas antigas
Se a lua saísse mais tarde! 




*Mauro Bastos Pereira Rego nasceu em Anajatuba (MA) no dia 15 de fevereiro de 1937, filho de Anastácio Pereira Rego e Maria Bastos Rego. Licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em Letras, pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e com especialização em Língua Portuguesa pela Universidade Salgado Oliveira (SC). Professor, poeta e pesquisador. Fundou em Codó (MA), em 1966, o Instituto Magalhães de Almeida, mantenedor do Colégio Magalhães de Almeida, primeiro estabelecimento de nível médio daquela cidade, hoje desativado, do qual foi Diretor durante vários anos. Cidadão Codoense e Cidadão Itapecuruense. Membro da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil (Rio de Janeiro), da Academia Anajatubense de Letras, Ciências e Artes (ALCA), da Academia Maçônica Maranhense de Letras (São Luís - MA) e da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes (AICLA). Patrono do Colégio Prof. Mauro Rêgo, em Governador Archer (MA), hoje desativado. Publicou as seguintes obras: Taça Vazia (1982) e Ganzola (1987) -poesias; Santa Maria de Anajatuba (1999); Os Fantasmas do Campo – Vol. I (2004); Os Fantasmas do Campo - Vol. II (2009). Pretende publicar brevemente As Crônicas de Anajatuba e Melodia dos Meus Sonhos (poesias).  

8 comentários:

  1. O meu respeito e admiração ao poeta Mauro Rego por toda a sua literatura, mas em especial por esse poema que me toca profundamente. É como se o poeta juntasse memórias, sonhos e natureza e moldasse com o coração uma obra prima. É extremamente sensorial e intensamente sensível. É a poesia existindo antes mesmo de ser materializada.

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  2. Meu mestre Mauro Rego e sua poesia encantada e encantadora!❤

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  3. O professor Mauro Rego, agradasse e se sente honrado com os comentários dos dois professores, Pimentel e Nico ao tempo que informa que se encontra em recuperação do Covid 19.


    Amigo Mauro, comungo com os dois comentaristas as minhas homenagens!

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  4. Um poema encantador. Pleno de emoções e sentimentos esteticamente trabalhados. Meus respeitos ao poeta Mauro Rego.

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  5. Hoje a lua saiu mais tarde, somente e após a poesia de Mauro Bastos Pereira Rego refletir o belo na gente como satélite humano natural. Poeta que transita entre os astros e se torna amigo das estrelas – solitário na multidão de suas palavras e reluzente. (César Borralho)

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  6. Caro prof. Cesar Borralho, seu comentário sobre meu poema.me deixou envaidecido. Muito obrigado.

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  7. Cara Anely. Guardo boas recordações.de Pedreiras. Agora seu comentário sobre meu poema acelerou minhas lembranças com mais essa gratio
    gratidão pela sua bondade

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