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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

O CARTEIRO

   *César Borralho

 

Nenhuma alegria ganhou asa na vida

e voou mais que um dia até virar felicidade.

 

É preciso estar atento, notar a melancolia, compreender

a regra do boêmio, rascunhar na pele o coração

em toda profundidade que dura o pensamento,

enquanto a angústia fuma quatro maços de alma por dia.

 

O passarinho traça no ar um único desenho quando

levanta frágil asa e cresce fora do próprio ninho.

 

Até o vazo mais bonito murcha a beleza da rosa

e o perfume esvai sozinho...

pela tarde mais feia de toda a primavera.

 

O tempo de um homem é mais que fevereiro

e quando a noite vem, o travesseiro recebe o peso

de um vazio que se acumulou.

 

É a tecedura de uma essência forte, porém escura,

que tange como gado a vontade de morrer.

 

A criança escondida deixa entrar o carteiro

e a carta requer da alma o desespero de um peito infeliz.           

 

E de repente a vida do poeta seja isto,

a obra inacabável de algo que nunca se consumiu.

 

Entrar nela é desvendar o mecanismo do trinco,

sair dela é sair dum labirinto.

   


*César Borralho,  (Codó-MA, 1979) é poeta, professor, pesquisador, graduado em Filosofia, especialista em Filosofia Estética e mestre em Cultura e Sociedade. Recebeu prêmios em concursos de poesia estaduais e interestaduais. Possui poemas publicados em diversas antologias e está organizando seu primeiro livro de poesias. Para o autor, "escrever poesia é dar ritmo às imagens que cria na eterna luta para que o papel não fique obscuro e nem tão vazio. Poesia é o vento que leva o barco quando barco não há”.

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