*César Borralho
Nenhuma alegria ganhou asa na vida
e voou mais que um dia até virar felicidade.
É preciso estar atento, notar a melancolia, compreender
a regra do boêmio, rascunhar na pele o coração
em toda profundidade que dura o pensamento,
enquanto a angústia fuma quatro maços de alma por dia.
O passarinho traça no ar um único desenho quando
levanta frágil asa e cresce fora do próprio ninho.
Até o vazo mais bonito murcha a beleza da rosa
e o perfume esvai sozinho...
pela tarde mais feia de toda a primavera.
O tempo de um homem é mais que fevereiro
e quando a noite vem, o travesseiro recebe o peso
de um vazio que se acumulou.
É a tecedura de uma essência forte, porém escura,
que tange como gado a vontade de morrer.
A criança escondida deixa entrar o carteiro
e a carta requer da alma o desespero de um peito infeliz.
E de repente a vida do poeta seja isto,
a obra inacabável de algo que nunca se consumiu.
Entrar nela é desvendar o mecanismo do trinco,
sair dela é sair dum labirinto.
*César Borralho, (Codó-MA, 1979) é poeta, professor, pesquisador, graduado em Filosofia, especialista em Filosofia Estética e mestre em Cultura e Sociedade. Recebeu prêmios em concursos de poesia estaduais e interestaduais. Possui poemas publicados em diversas antologias e está organizando seu primeiro livro de poesias. Para o autor, "escrever poesia é dar ritmo às imagens que cria na eterna luta para que o papel não fique obscuro e nem tão vazio. Poesia é o vento que leva o barco quando barco não há”.
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