Por: Benedito Buzar
A Feira do Livro, criada na gestão do prefeito
Tadeu Palácio, foi o evento mais marcante de sua administração e realizada com
êxito no segundo semestre de 2006 e repetida com o mesmo empenho em 2007 e
2008.
Nos três anos da gestão de Tadeu, o palco da Feira
foi a Praça Maria Aragão, onde tudo funcionou maravilhosamente, graças a uma
coordenação que organizou e executou caprichosamente o evento, fazendo-o ganhar
repercussão dentre e fora do Maranhão.
Os convidados – escritores nacionais de vulto e os
estaduais de reconhecido valor- se encarregaram de mobilizar as atenções da
sociedade maranhense, que marcou presença nas palestras, conferências, mesas
redondas, noites de autógrafos e lançamentos de livros.
Pela abrangência e localização da Praça Maria
Aragão, o público se movimentou com facilidade, os veículos puderam estacionar
à vontade, sempre protegidos por um eficiente esquema de segurança, garantindo
assim a presença de um grande número de pessoas, inclusive do prefeito Tadeu,
que, às noites, ali, dava expediente e acompanhava o desenrolar da programação.
O êxito da Feira do Livro, nos anos de 2006, 2007 e
2008, repercutiu local e nacionalmente, tornando-a uma iniciativa irreversível
no calendário cultural da cidade, fato que levou o substituto de Tadeu, João
Castelo, a assumir o compromisso público de promovê-la no seu mandato.
A FEIRA DO LIVRO NO MANDATO DE CASTELO
O novo prefeito da cidade, tomando por base o
notável feito da administração de Tadeu, disse que daria prioridade ao evento
para fazê-lo igual ou melhor do que o anterior, razão pela qual criou um grupo
de trabalho especialmente para cuidar do assunto.
A coordenação, nomeada pelo novo gestor da Capital,
se teve o discernimento de manter a Feira na Praça Maria Aragão, pois circulava
a notícia de possível transferência para outra área da cidade, não a teve para
assegurar recursos no orçamento do município, fato que quase compromete a
montagem dos stands, o pagamento de cachês aos escritores e outras atividades
inerentes à promoção cultural.
Mesmo com as dificuldades operacionais e os
problemas financeiros, aos trancos e barrancos, o evento aconteceu no mandato
de Castelo, mas aquém da gestão de Tadeu Palácio, especialmente pela ocorrência
de imperdoáveis falhas e reiteradas improvisações.
Lembro que no último ano, por coincidir com o
processo da sucessão à prefeitura, a Feira por pouco não caiu no poço.
A FEIRA DO LIVRO NA ERA EDIVALDO
Antes de assumir o comando da prefeitura de São
Luis, Edivaldo Holanda Júnior, manifestou apoio irrestrito à Feira do Livro,
por considerá-la imprescindível à cultura da cidade.
Mas ao tomar posse no cargo, não se empenhou para
dar à Fundação Municipal da Cultura condições operacionais e orçamentárias para
o evento chegar a bom termo.
Como primeiro impasse, um espaço adequado para
instalação da Feira, já que a Praça Maria Aragão estava literalmente
interditada. Depois de buscas pela cidade, a Praia Grande aparece como
solução, mesmo com os problemas nela encontrados, a exemplo, da precariedade de
ambientes propícios às conferências e mesas redondas, realizadas em prédios
distantes um do outro.
Como se isso não bastasse, eclode o veto do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, através da
superintendente, Kátia Bogéa, não permitindo a montagem dos stands na Rua
Portugal, para não afetar o cenário do centro histórico.
Depois de controvérsias e desencontros entre as
partes, as arestas são parcialmente removidas, a Feira consegue sinal verde
para instalar-se, àquela altura dos acontecimentos, sob o pessimismo de
livreiros, escritores e do público.
No ano seguinte, em 2014, para evitar problemas do
ano passado, a Fundação Municipal de Cultura descarta sumariamente a Praia Grande
para palco da VIII Feira do Livro e acerta com a Fundação da Memória
Republicana a cessão das instalações do Convento das Mercês.
Imaginava-se que naquele espaço, o evento se
reencontrasse com as suas origens. Ledo engano. Do primeiro ao último dia, notou-se
a ausência de público, sob alegação da insegurança no bairro do Desterro e do
precário estacionamento. Nem com o reforço da mídia, o evento melhorou.
Esses dois fatores assustaram a população, que, sem
a sua presença, fez o evento perder força, cair no marasmo, e comprometer a
comercialização e lançamento de livros, as palestras dos escritores e as mesas
redondas, algumas até canceladas.
Para não repetir o quadro de frustração de 2014, a
coordenação da Feira de 2015 pensava descobrir outro espaço, de modo a
reabilitá-la e dar-lhe a credibilidade de outrora.
Embalde. À falta de alternativa, a Praia Grande é
mais uma vez escolhida para cenário do evento, que se auspiciava mais
revigorado pela ajuda financeira do governador Flávio Dino, mas, por ser limitada,
não conseguiu levantá-la e fazê-la renascer das cinzas.
Resultado: novamente o evento deixa a desejar e as
esperanças se projetam para 2016, que, por ser um ano eleitoral, com o prefeito
Edivaldo candidato à reeleição, a X Feira do Livro transformar-se-ia numa
vitrine, capaz de catalisar votos para mantê-lo no cargo.
Quem sonhou com isso, caiu da cama, pois à medida
que se aproximava a realização da Feira, a vulnerabilidade financeira da
prefeitura era patente e mostrava-se impotente para bancá-la, fato que a mídia
diariamente explorava e cobrava, mas sem resposta.
Por conta desse transtorno financeiro e da
irresponsabilidade das autoridades municipais, a Feira engessou-se. Quando tudo
levava a crer que nada aconteceria para alavancá-la, uma empresa comercial de
São Luis, como patrocinadora de última hora, aparece no horizonte da
incredulidade, estende a mão à prefeitura e evita um vexame maior.
Com aquela receita inesperada, mas o suficiente
para a Feira não ser vergonhosamente sustada, foi montada às pressas, mas
sofrendo corte na sua estrutura física, na duração do evento – de dez para seis
dias – e na redução e participação de livreiros e escritores. Não à toa,
o evento deste ano foi considerado o mais fraco dos dez anos de vida da
Feira.
.
RECEITA PARA A FEIRA NÃO TER UM TRISTE FIM.
Para não se dizer que só critiquei, apresento
esta singela sugestão para tentar reerguer a Feira do Livro: em vez de anual,
transformá-la em bienal, como nas principais cidades brasileiras.
Rio de Janeiro e São Paulo, os dois maiores
mercados editoriais do país, com dezenas de livrarias e milhões de leitores,
não se dão ao luxo de fazer Feiras anuais. São realizadas de dois em dois anos,
tempo suficiente para avaliações e planejamentos.
Comenta-se que a Feira de São Luis é anual por
causa da lei que a criou. Pura falácia. Alterar uma lei ordinária (no bom
sentido da palavra) é algo fácil e sem trauma. Se o prefeito e os vereadores
quiserem ela muda rapidamente.
UM ELOGIO MERECIDO.
Não posso terminar esta coluna sem esquecer o
trabalho insano de Rita de Oliveira, coordenadora do evento. Trata-se de uma
mulher de fibra e de coragem que em momento desistiu ou deu demonstração de
vencida. Lutou desesperadamente e ultrapassou as vicissitudes que se antepunham
à realização da X Feira do Livro. Palmas, pois, para Rita de Oliveira, pela
obstinação e força de vontade.