terça-feira, 20 de dezembro de 2022

FESTA DA CULTURA EM VARGEM GRANDE

                 Com encontro  de instituições literárias do Maranhão.

Dia 17 de dezembro, corrente, a Academia Vargem-grandense de Letras e Artes – AVLA,  reuniu os seus membros e  convidados,  para uma calorosa confraternização natalina. A primeira parte  do evento, foi dedicada  a culminância da segunda edição do concurso literário “AVLA na Escola, descobrindo talentos” com o tema Pandemia. Estiveram presentes além dos gestores das unidades escolares, parceiras, os 5 estudantes finalistas de cada categoria: Cordel, Poemas e Contos, que receberam prêmios e homenagens.

Houve ainda a presença de representantes de várias instituições literárias  do Maranhão, que receberam títulos de Membros Correspondentes, outorgados pela Academia Vargem-grandense de Letras, a saber: Dilercy Aragão Ader, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Aline Nascimento, Coordenadora da Biblioteca Pública Benedito Leite, Maria de Fátima Cordeiro Travassos, presidente da Academia Vianense de Letras, Maria da Assenção Pessoa, da Academia Itapecuruense de Letras e Artes, Carlos César Brito, da Academia Matinhense de Letras, João Francisco Batalha da Academia Ludovicense de Letras, Lígia Almeida da Academia Maranhense de Trovas, Marcia Luz, da diretoria da Academia Maranhense de Trovas, Nilma Sodré da futura Academia de Urbano Santos, Emerson Araujo Silva, da Academia Piauiense de Poesia.

O evento encerrou com animado momento cultural com troca de saberes musicais e poéticos.

 





 




 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

NATAIS PASSADOS EM ITAPECURU

*Benedito Buzar

Machado de Assis, o maior escritor brasileiro, em um de seus conhecidos sonetos, deixou eternizada esta dúvida: “Mudei eu ou mudou o Natal?”

A indagação machadiana toca-me e remete à minha terra, onde nasci, vivi a infância e a adolescência, tempos em que o Natal não era conduzido pelo desenfreado consumismo, fator que transformou a maior festa da cristandade numa farra gastronômica e permuta de lembranças e presentes.

Se atualmente o sentimento material preside as festas natalinas, no passado, o sentido da espiritualidade reinava como principio básico do evento cristão.

Lembro-me da comemoração do Natal, em Itapecuru, quando as famílias não se preocupavam com a ornamentação das residências e nem as autoridades com a decoração e iluminação das ruas. Tudo girava em torno da vinda ao mundo do Salvador.
Naquela época, decoração natalina, à base de luzes e enfeites nem pensar, pois a cidade ainda não estava servida por energia elétrica. Mesmo com a inauguração da usina de eletricidade, em 1949, pelo prefeito Miguel Fiquene, em nenhuma casa, fosse de rico, remediado ou pobre, via-se esse apetrecho feérico, que surgiu, anos mais tarde, como resultado do processo de modernização da sociedade.

Por isso, no Natal, a comunidade itapecuruense só pensava cumprir e manter aquela tradição que se arrastava ao longo do tempo: os presépios, os quais, depois de instalados, viravam atrações na cidade, com as imagens que representavam o nascimento de Jesus Cristo.
Na manjedoura, confeccionada e armada com palhinhas e plantas domésticas, as presenças simbólicas e idolatradas do Menino Deus, da Virgem Maria, de São José, dos Reis Magos, Gaspar, Belchior e Baltazar, de anjos e pequenos animais.

Os presépios pontificavam na cidade e não eram numerosos. Alguns se apresentavam bem arrumados e enfeitados; outros, contudo, mais humildes e simples, como a maioria da população. Ouso afirmar que o principal e mais visitado era organizado por Raimundo Coelho, mais conhecido por Mundico Rifiri, que residia numa casa localizada na antiga Rua Deserto, depois virou Paulo Ramos, agora é Mariana Luz.

Havia também o presépio da igreja, montado no interior da nave e cuidadosamente preparado pelas irmandades religiosas. O de Mundico Rifiri recebia os caprichos do próprio dono da casa, que o cuidava com esmero e o apresentava com prazer a todos quantos fossem visitá-lo, com a prática de um ritual que acontecia todas as noites. Ali, as famílias e os curiosos se acotovelavam não apenas para admirar aquela obra de arte, mas também participar das ladainhas, entoadas sob fervorosas preces e cânticos religiosos.
Os presépios só eram desmontados a 6 de janeiro, dia consagrado aos Reis Magos, com a queima das palhinhas. O anfitrião oferecia aos convidados mesas com doces e bebidas não alcoólicas. A banda musical da cidade não deixava de comparecer ao evento, que alternava toques profanos e religiosos.

Outra atração também marcante nos dias dedicados ao nascimento do Menino Deus: as apresentações teatrais, chamadas de autos natalinos, que se realizam no quintal da casa do Sr. Tinoco, num palco onde as crianças, vestidas a caráter, protagonizavam cenas que lembravam a chegada de Cristo. Os ensaios ficavam sob a responsabilidade das filhas do dono da casa, Zainha e Dorinha.

Na noite de Natal, o ponto alto se dava com a celebração solene da Missa do Galo, que começava rigorosamente à meia-noite e ministrada pelos padres da época: Alfredo Bacelar, Alteredo Soeiro e José Albino Campos.

Praticamente toda a população comparecia ao ofício religioso, para reverenciar e louvar o nascimento do Filho de Deus. Terminada a missa, os fiéis aglomeravam-se em frente à igreja e se abraçavam fraternalmente, como mandava a tradição cristã. Nesse instante, os sinos repicavam e os foguetes pipocavam no ar.

Poucas famílias, geralmente só as mais abastadas, se davam ao luxo de preparar ceias natalinas, não servidas na véspera do Natal, mas no almoço do dia 25 de dezembro, que não chegavam perto das de agora. Caracterizavam-se pela frugalidade, até porque os produtos natalinos, a maioria sofisticada e importada, só podiam ser vistos na mesa dos mais afortunados e também escassos no mercado. Os pratos que formavam a ceia eram triviais e tradicionais, pontificando peru e leitão assados ao forno, galinha ao molho pardo com ervilhas, fritada de miúdos, vatapá e outros iguarias, sem esquecer as deliciosas farofas.

Não posso esquecer um festejado costume, que dominava a cidade na noite de Natal. Após a Missa do Galo, a prática do roubo de galinhas dos quintais dos incautos. Essas operações não eram de grande risco, pois os lesados não corriam atrás dos prejuízos e nem davam queixas à polícia. Eram praticadas com o sentimento da aventura e com objetivo de proporcionar um bom jantar no correr da madrugada. As vítimas dessas ações, muitas vezes participavam desses rega-bofes.

No tocante aos mimos natalinos, só crianças tinham o privilégio de recebê-los e aquelas que faziam parte da elite local. Não eram brinquedos sofisticados e caros como os atuais. Os pais compravam em São Luís, pois o comércio de Itapecuru não vendia artigos dessa natureza ou refinados.

Os presentes, escondidos ou guardados a sete chaves, só chegavam às mãos dos filhos na madrugada do Natal, depois de colocados debaixo das redes ou ao lado das camas. Lembro da minha ansiedade e de meus irmãos para descobrirmos, ao acordar, o que Papai Noel nos trouxera.

O troca-troca de presente entre adultos não existia. Essa brincadeira, inventada por imposição do marketing empresarial, através dos conhecidos “amigos ocultos” ou “amigos secretos”, só apareceu anos depois, para incrementar o faturamento da indústria e do comércio. 

 

   *Benedito Buzar, nasceu em Itapecuru Mirim. Jornalista, advogado, escritor, professor universitário (aposentado). Ex-deputado estadual. Ocupou cargos no setor público, dentre os quais, chefe de gabinete e secretário municipal de Educação e Ação Comunitária, presidente da Maratur, presidente do Sioge, secretário da Cultura do Maranhão, presidente do Conselho Estadual de Cultura, membro do Conselho Universitário da Universidade Federal do Maranhão, gerente da Gerência de Desenvolvimento Regional de Itapecuru Mirim. Membro da Academia Maranhense de Letras, da qual é o atual presidente. Publicou vários livros.

 

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

125 ANOS DO MAESTRO CARLOS BEZERRA

Homenageado da V FLIM

(Festa Literária de Itapecuru Mirim – 2022)

                                       Jucey Santana

Carlos José Bezerra nasceu em Itapecuru Mirim em 04 de novembro de 1897, filho de Aníbal Bazileu Bezerra e Malvina Pereira Bezerra. Estudou em Escola Pública tendo concluído apenas o primário. O seu pai foi tabelião do 2º ofício e Alferes da Guarda Nacional, além de alfaiate de prestígio na sociedade itapecuruense. Aníbal Bezerra também foi músico  tendo sido sócio da  “Sociedade Musical Beneficente de Amigos” de Itapecuru Mirim, criada no inicio do século vinte  para patrocinar a Escola de Música


local e a recriação da Banda de Música com a nova denominação de “Despertadora” itapecuruense, que chegou a contar com mais de 40 integrantes, entre os quais, Carlos Bezerra.

Ainda criança Carlos Bezerra, demonstrou vocação para a arte musical sendo encaminhado pelo pai para estudar na escola de Música da “Associação”, tendo por mestre o músico Sebastião Pinto.  Foram seus colegas na Escola de Musica  os futuros profissionais:  Joaquim Araújo, Feliciano Lopes, o Barão, Patrício Araújo,  Martiniano Araújo, Eudâmidas Sitaro (o Dominho), Juca Damasceno, Raimundo Tinoco,  Gustavo e muitos outros.

Carlos Bezerra  começou tocar apenas com uma flauta, com o apoio do  pai e familiares, se aprofundou nos estudos da arte  musical  se tornando um dos renomados mestres local. 

No final dos anos 20 do século passado, Carlos Bezerra  criou uma banda, a Lira Ideal, em parceria com os seus alunos, dentre eles, Raimundo Cardoso, conhecido como Mundico Cardoso, e Raimundo Pereira Nogueira, conhecido como Seu Dico. A banda era contratada para animação dos festejos nos diversos povoados do município e cidades vizinhas. Os músicos se dirigiam ao local a cavalo e toda a renda recebida era divida igualmente entre os membros.

Além de tudo, a banda marcava presença em passeatas, solenidades políticas, alvoradas e eventos cívicos.

O ponto alto da Banda Lira Ideal eram as apresentações nos festejos da Matriz de Itapecuru Mirim, A festa da Padroeira Nossa Senhora das Dores, no mês de setembro, de  São Benedito no final do ano e a  Festa da Santa Cruz, organizada pelas famílias Nogueira e Bezerra. Naquelas ocasiões a Lira Ideal  fazia parceria com outras bandas locais  como a Despertadora   e a banda de Joaquim Araújo, para maior brilho nos eventos religiosos. Apresentavam-se nas procissões, nas chamadas “retretas” no coreto do largo da igreja e ao final nos vesperais e  grandes bailes  da elite social.

. Com a competência de saber tocar todos os instrumentos de sopro, manteve-se com o projeto de ensinar música gratuitamente. “Mestre Carlos”, como era chamado por seus alunos, compunha várias partituras, dentre as mais conhecidas a “Valsa Lana”, hoje já perdida assim como as demais devido a ação do tempo.

            Carlos Bezerra foi diretor da Secretaria da Câmara Municipal de Itapecuru-Mirim, ocasião que instituiu a obrigatoriedade do uso de ternos e roupas adequadas pelas autoridades do legislativo da época, medida moralizadora com efeito positivo na época.

Também foi exímio alfaiate, requisitado em toda a região, ofício que aprendeu com o pai. Em sua casa mantinha oficinas para aprendizes de alfaiataria e de música assim contribuindo com a preparação de jovens para o mercado de trabalho  deixando um rico legado as novas gerações  de uma cidade que se orgulha do seu passado cultural.   .

            Em 13 de setembro de 1921 casou-se com Francisca Correa Bezerra. Juntos tiveram 14 filhos: Wilson, Francisco, Otávio, Edmar, Carmem, Terezinha de Jesus, Cacilda, Ana Maria, Maria José, Malvina, Antônio José, Conceição, Francisca de Jesus e Carlos Aníbal

Carlos Bezerra morreu aos 71 anos no dia 03 de junho de 1969 em um acidente automobilístico, próximo ao povoado Cigana. Pelo mérito foi escolhido patrono da cadeira nº 12 da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA.

 

Do livro Itapecuruenses Notáveis (2016) de autoria de Jucey Santana