quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

JOAQUIM DE JESUS DOURADO

  
                                                                           
Capitao e Arcipreste J.J. Dourado


    Padre,  militar  e escritor

 Jucey Santana

            Joaquim de Jesus Dourado  nasceu em Beberibe (CE), em 25 de   fevereiro de 1905. Filho de Manoel Martins Dourado e Ana Martins Dourado. Batizou-se em 6 de março do mesmo ano.

            Mudou-se para São Luis,  a convite do seu tio e tutor, o padre Joaquim Martins  Dourado, em 1915, aos 10 anos e em 1916 ingressou no Seminário Santo Antonio, aos 11 anos de idade.  Em 19 de março de 1925 recebeu a primeira Tonsura, pelas mãos do arcebispo  Dom  Otaviano Pereira de Albuquerque  e as ordens de Ostiariato e Leiturato em 29 de maio de 1926. O Exorcizato e Acolhitato  em 5 de junho de 1927 e o Subdiaconato,  Diaconato e Presbiterato,  respectivamente, nos dias 11, 12 e 29 de junho de  1927  quando contava apenas 22 anos de idade.
 
Palestra a seminaristas em Fortaleza
            Na mesma data da ordenação foi nomeado pároco coadjutor da Igreja de Nossa Senhora da Vitoria, na Sé, onde permaneceu  até dezembro do mesmo ano.  Em 17 de janeiro de 1928, seguiu para Caxias com a provisão de padre cooperador, ficando nesta condição até  12 de dezembro de 1933.  Em 21 de janeiro de 1934 voltou para Sé, por nomeação do arcebispo Dom Otaviano de Albuquerque. E em 1º de agosto do  mesmo ano foi designado pároco da Matriz de São Benedito em Codó. Em janeiro de 1937 vigariou outra vez a paróquia de Nossa Senhora da Vitória, na Cadredral da Séaté o inicio do ano de 1941. 

            Em 2 de junho de 1941 foi nomeado vigário de Vargem Grande e em março de 1942 foi nomeado pároco de Itapecuru Mirim, permanecendo à frente das duas paróquias até setembro de 18944.
 
Capitao /Conego Joaquim de J. Dourado
Quando o governo brasileiro solicitou capelães para acompanhar o exército brasileiro  na segunda Guerra Mundial, padre Dourado foi um dos primeiros a se apresentar, integrando-se  voluntariamente em  outubro de 1944,  levando mensagem de esperança,  caridade e paz  aos jovens da Força Expedicionária Brasileira – FEB, como capelão militar nos  campos de batalha, da 2ª Guerra Mundial. no meio a desolação e morte.

                                     

Padre Douradinho em Itapecuru Mirim
            

           

A gestão do padre Douradinho na paróquia  de Itapecuru Mirim foi concomitante à administração de Bernardo Thiago de Matos, que arquitetou o maior projeto de urbanização da cidade. 


 Ao chegar a Itapecuru Mirim em final do mês de março de 1942, em substituição ao padre Alfredo Bacelar, que havia organizado uma grande campanha comunitária para construção da igreja matriz, deixando inconclusa a parte frontal do templo, sem porta e sem torre. O Padre Bacelar deixou a paróquia de Nossa Senhra das Dores insatisfeito com a populaçao, depois do carnaval,  porém deixou  uma folga no caixa para a conclusao das obras;

 Entre os anos 1942 e 1944, o padre Douradinho  contratou a construtora  Nunes&Bayma, para o serviço. Coube ainda ao padre Dourado a aquisição da atual Casa Paroquial, depois do falecimento, em 1942, do seu antigo proprietário o Major Bandeira, (Boaventura Catão
Jovem padre Douradinho
Bandeira de Mello Júnior);

Como músico, reorganizou, juntamente com a escritora Mariana Luz, o coral da igreja matriz;

 Foi durante a sua estada em Itapecuru Mirim que recebeu das mãos do general Hastímphilo de Moura, ex-governador de São Paulo, a doação  das terras de Guanaré, para a paróquia, herança da família Moura. 

Joaquim Dourado, popularmente conhecido como padre Douradinho, para estabelecer diferença entre ele e conego,  Joaquim Martins Dourado, seu tio e tutor. 


   O padre intelectual em Vargem Grande

O padre Douradinho, sendo escritor e grande pesquisador, era apaixonado pelo Maranhão e sua história.  Antes mesmo de sua transferência para a região do Iguará, ele já pesquisava  a Balaiada e  o fenômeno da fé  do povo  ao santo vaqueiro,  São Raimundo dos Mulundus, como faz prova o  seu romance regionalista,  Sumaúma, publicado em 1939,  ambientado entre  os anos de 1924 a 1926, entre a região de Boa Vista no Mearim a Mulundus em Vargem Grande.

O livro  narra o pagamento de uma promessa a São Raimundo, pelos  protagonistas, depois de um peregrinar de  10 dias em lombos de cavalos e a acolhida dos romeiros pelos iguaraenses. 
Padre Joaquim Martins Dourado - tio

1. Assumiu  a paróquia de São Sebastião   de Vargem Grande,  em junho de 1941, depois da renuncia do Padre Alfredo Furtado Bacelar, por desinteligências com a comunidade.

2. Talvez as suas pesquisas,  tenha favorecido sua  nomeação por parte dos seus superiores;

 3. Se tornou muito querido em toda região,  e com a formação do coral,  marcou o início da criação da  Orquestra  Santa Cecília, que animava as festas religiosas, cívicas, vesperais e bailes e ainda era contratada para outras cidades;

4. Padre Dourado, criava, organizava e incentivada,  torneios futebolísticos,  com times convidados de outras cidades, para levantar fundos para aquisição dos instrumentos para a Orquestra Santa Cecília;

5. Uma das atividades mais apreciada pelo padre pesquisador, era visitar  o distrito de Manga do Iguará,  conversar com os caboclos, antigos moradores,  adquirir  materiais  encontrados sobre a guerra da Balaiada,  subsídios que  usou  em seu livro Terra dos Balaios ( 1969);

Vale registrar que muitos dos materiais bélicos que adquiriu, foi levado para o Rio de Janeiro em 1944, quando se destinava a Itália, para servir na 2ª Gurre Mundial.  Temos informações por correspondência do padre, que foram entregues ao Museu Nacional;

6. Em final de março de 1942, assumiu também a matriz de Nossa Senhora das Dores de Itapecuru Mirim;

7. Ficou à frente das duas paróquias até setembro de 1944, quando se ofereceu voluntariamente para ingressar na Força Expedicionária Brasileira, para apoiar espiritualmente os jovens brasileiros convocados para guerra;

8. Ainda na Italia e depois da sua volta, manteve assídua correspondência  com os amigos que deixou em Vargem Grande;

9. Ainda esteve em Vargem Grande por duas ocasiões, para matar a saudade e contar a sua trajetória na guerra. Por ocasião de uma das suas viagens escreveu uma linda crônica intitulada “A Promessa” , relatando uma promessa que uma família distante do Mearim, fizera a São Raimundo para entregar um novilho depois de vários dias de viagem e ainda o poema “Vaqueiro erradio”

Vestido de couro vermelho,
Apeia-se do cavalo / Esquio do campo
Para de joelho, chapéu descido/ para nuca,
Pedir ao santo vaqueiro...



Homenagens  e Distinções

De volta ao Brasil, em 1945 passou a residir em Fortaleza. Em 1946 recebeu a patente de capitão, concedida pelo general Eurico Gaspar Dutra, então presidente da República.  Desenvolveu muitas atividades, cargos e missões como oficial do Exército.

Recebeu o título de membro  fundador da cadeira 34 da  Academia Maranhense de Letras,  sob o patronato de Coelho Neto, tomando posse em 17 de janeiro de 1948, próprio do seu espírito humilde, dispensou solenidade festiva.   

            Em 10 de  junho de 1955 foi elevado a função de Arcipreste Militar com sede em Fortaleza (CE). A importante missão  que foi designado o capitão capelão Joaquim Dourado foi o primeiro criado no norte do Brasil.

Em ato de Dom José Medeiros Delgado,  recebeu o título eclesiástico de  Conego Honorário da Catedral, em, 29 de junho de 1957.

Em 1958   foi elevado a dignidade de   Monsenhor, por decreto papal.

O Capitão e Monsenhor  foi   .homenageado em junho de 1962, pela  ONU (Organização das Nações Unidas), com honras militares, pelos relevantes serviços prestados à causa da paz mundial.

Projeção Literária

Foi escritor, poeta, cronista, musicista, romancista, pesquisador e jornalista. Colaborou com diversos jornais, maranhenses e cearenses, com publicações diárias de artigos, crônicas e poemas. Era conhecido como o padre muito “sabido”.
 
Como literato assinava J J Dourado. Ele fundou  em Caxias o periódico Flâmula e em Codó, O Cruzeiro com padre Gilberto

Escreveu muitas obras, com testemunhos dos horrores da guerra, romances, crônicas educativas e romances históricos:

Atravessando Fronteiras, 1938;
− Pássaros Cativos, 1938;
− Sumaúma, 1939;
− Caminhos, 1940;
− Outros Céus, 1942;
− Estou Ferido, 1945;
− E... a guerra acabou, 1948;
− Bom Soldado, (crônicas educativas), 1949;
− Homens que lutaram, 1950;
− Siga este Caminho, (pseudônimo de Bernardo Dorê) 1954;
− Muiraquitã, 1955;
− Contos de Vigário; 1957;
− Mestre Praça;
− Alvorada;
− Oriente Médio;
− Cafundó; 1961;
− Histórias Divertidas;
− Muçambê; 1965;
− Uma História por dia; 1968;
− Terra dos Balaios, 1969;
− Mutirão – Bom Humor, 1970;
− Terra Esquecida; 1971.

Ainda deixou dois romances inéditos: Paisagem Humana e Terra Esquecida. 

 Foi um entusiasta pela vida,  pela educação e pela paz.  Faleceu em 20 de setembro de 1974 em um acidente automobilístico na estrada de Beberibe, no Ceará, em viagem para sua cidade natal, aos  69 anos de idade.
           
            Foi eleito para patronear a cadeira nº 12 da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes, fundada em 14 de julho de 2019.
               
            Vale registrar que  o conegogo, Joaquim Martins Dourado,  tutor de padre Douradinho foi pároco várias vezes das cidades de Itapecuru Mirim, Vargem Grande e Rosário. Politizado e carismático figurou como uma das vítimas fatais da greve de 1951, em frente ao Palácio dos Leões, falecendo em 20 de setembro de 1951.