sábado, 28 de novembro de 2020

12 ANOS DA FALMA

     

          Nesta data, em 28 de novembro de 2020, a Federação das Academias de Letras do Maranhão - FALMA, está completando 12 anos de fundação. Em razão da pandemia do Covid 19 que vem se arrastando desde o início do ano impossibilitou a Diretoria Executiva de promover qualquer evento alusivo a data, e aproveita a oportunidade para agradecer o apoio de  todos os integrantes das Academias afiliadas do Maranhão, saudando com apreço.  

           Abaixo discurso de Vavá Melo, primeiro Presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão -  FALMA, por ocasião da sua fundação em 28 de novembro de 2008.                                                                                                            

                  

           O que estamos fazendo aqui, ilustres intelectuais, amantes da cultura e membros de academias? Vimos impelidos pelo clamor retumbante de união de nossas entidades. Vimos sedimentar um auspicioso anseio: plantar na leira da  literatura uma semente que, frondosamente, medrará para guarnecer e estribar suas afiliadas. Frutificará por ser uma  semente sadia há muito acariciada por mecenas mãos: sendo projeto de muitos, pouco importa saber até por tornar-se irrelevante  quem de tantos foi pioneiro deste desiderato. Se Professor Jomar, Presidente Lino, José Márcio Leite, Sálvio Dino, outras congêneres, inclusa a  são-bentuense,  pois, quando da gestão deste sodalício do confrade Joaquim Itapary, juntos comungamos  desta pretensão, chegando ele,  inclusive formular a minuta do Estatuto, com oito artigos que redundou a espinha dorsal, do vigente. Ocorre que essa idéia precisava  ser materializada. De todos o Dr. Sálvio Dino  com sua obstinação de indômito sertanejo e de incansável propugnador paladino  das letras empunhou,  firmemente,   a bandeira  da criação desta entidade e  a fez desfraldar onde havia uma brisa de entusiasmo. Com  a demora de sua consumação, crendo-a  postergada, julgamos mais eficaz, primeiramente regionalizar, depois unificá-las. Para tanto, convidamos as demais  coirmãs do lado lá,  da vetusta e gloriosa Baixada Maranhense: Viana, Pinheiro que compareceram, Vitória/Arari, justificou a ausência,  Anajatuba  - não localizada. Cientificamos a atitude  ao Dr. Sálvio que, novamente,  preocupado, solicitou-nos, que aguardássemos  novembro chegar. E chegou com a solene fundação dia 28.

   Nomeada por ele, naquele dia, a comissão organizadora, logo  com presteza recebeu  e agora  agradece,  às academias de Imperatriz, Sambentuense, Medicina, a Pinheirense e  Maçônica pelo envio dos esboços de Estatutos que foram solicitados. Submetidos à apreciação,  por proposta  dos confrades  Antônio Augusto Ribeiro Brandão e de Roque Macatrão foi aprovado que o Estatuto seria composto somente dos artigos mais importantes alusivos às normas gerais e de disposição orgânica, e que os demais seriam discutidos quando da elaboração  do Regimento Interno. Coube-nos a tarefa de organizar e o fizemos facilmente, haja vista tomarmos por modelo o já mencionado, cujos   princípios capitais  estavam exarados e comuns nos demais.

   Sucessivas reuniões foram convocadas com pequenos resultados, ocasionando cobranças à comissão dos participantes fundadores.  Na ausência compreensível do Dr. Sálvio, ultimamos  o Presidente Lino Moreira a convocar uma assembléia geral para aprovar e eleger a diretoria,  realizada a 23  de setembro.

     Fomos os aclamados.  A verdade é que  nos alegra  a distinta honraria de sermos  a primeira diretoria desta Federação que agora assumimos com a plena   consciência  da imensa  responsabilidade desta missão. Sabemo-la árdua, o que distante  de  nos amedrontar, anima-nos    pela convicção  clara, calorosa do irrestrito apoio que teremos das afiliadas e seus ilustres membros.        

    Enalteçamos  o louvável  espírito  de abnegação, de unidade, desprendimento que reinou naquela sessão. Ao sermos guindados à presidência,  salientamos  que todos poderiam presidir que a única, exclusiva vantagem a sobrepor  aos presentes era nossa maior disponibilidade de tempo.  Mas o que nos fez aceitar, reiteramos, contribuiu  animador e solidário    gesto de todos que sem a menor objeção ou comentários concordaram com suas indicações.  Essa a prova cabal  de uma diretoria unida, sem vaidade, imbuída do desejo de engrandecer e honrar o mandato.

     Sem sonhos platônicos, sem devaneios, vislumbramos os obstáculos que estamos acostumados a enfrentar e derrotá-los no seio de nossas agremiações.

     Aceitamos por considerar  de suma importância o fortalecimento desta instituição, tendo em vista os inúmeros benefícios que as academias têm feito em suas comunidades, principalmente no resgate às duras penas do que foi e ainda  é possível; de prestar  culto à memória dos patronos,  alguns já olvidados e até desconhecidos da geração hodierna; de reeditar obras raras e  lançar novas  de autoria de seus membros; de proceder a  movimentos educacionais; realizar  concursos, palestras, reuniões, incentivos a cultura. Têm sido as academias um caudaloso estuário  fraterno de conterrâneos que em muitos não se conhecendo, tornaram-se amigos.

      Felizes as congêneres que contam com o apoio pessoal e material das autoridades constituídas; com o regalo público dos docentes e discentes, do povo. Eis uma tarefa de todos nós, despertar nessas classes um interesse vital para as causas que abraçamos e nos apaixonamos.

       É a verdade reinante num Estado – intitulado “Atenas Brasileiras”. São Luís de um milhão de moradores  jamais este auditório de tantas e ricas solenidades intelectuais  acolheu sequer três centésimos de milésimos  de seus habitantes. Salientando que quando isso ocorre,  pesa mais  consideração ao personagem do que  o valor do evento. Os conferencistas e autores de obras sabem disso, daqui e alhures.  É uma de nossas metas –  concatenar uma mútua relação. Ajudem-nos fazê-la e sugerem-nos como?

         Sendo  verdade que grande parcela do nosso patrimônio perdeu-se nas encruzilhadas da inocência, fiquemos atentos ao que resta e ao que surge, valorizando-o, para que deixemos de ouvir funestas frases eqüipolentes: meu avô tinha tanta coisa guardada, mas o marido de sua 2ª esposa rasgou tudo; a documentação do meu tio avô o namorado da neta tocou fogo.  Pior que decibel revoltante – os arquivos da prefeitura venderam-nos  para fazer foguetes; o da Câmara, o que restava distraiu cupins.               

       Senhores essa ausência  de visão de tantos  nossos governantes, mais capitães do mato do que gestores da coisa pública  soterrou nos municípios tantos talentos e suas obras. Quantos artesãos com trabalhos primorosos continuam à mendicância de um apoio.

               Senhores – continuemos nossa caminhada. Incentivemos nossos confrades. Cada um é útil naquilo que tenta fazer de positivo. Sendo difícil  termos nas  hostes de nossas academias interioranas vultos da estirpe de Machado de Assis,  Castro Alves, Gonçalves Dias, Catulo da Paixão, Josué Montello e outros de  âmbito  nacional. De Domingos Barbosa, Alfredo de Assis, Corrêa de Araújo, Godofredo Viana,   louvemos os  nossos que  reverberam nossa história, dignificando-a  e opulentando.

       Aqui, peço o vosso beneplácito  para um agradecimento todo carinhoso  e cordial aos  confrades da Academia Sambentuense que nos honram com suas presenças, dizendo-lhes que aqui estamos com a preocupação de bem representá-los, a merecer tão forte e afetiva colaboração. Estendo aos  membros da IHGM e aos conterrâneos, familiares e amigos.   

       Acostumamos a admirar o vigor das sementes férteis que se escondem nas argamassas em seguida, brotam  desrespeitando pisos, paredes. Esta nossa é fecunda porque, verdadeiramente, nasce da convicção de todos  nós.     

        Comprometemos a zelar essa semente,  protegê-la da assolação, defender e entregá-las de folhas verdes, como verde são as esperanças que nos acalentam.

        Praza aos Céus  para que possamos,  nós semeadores, o deleite de prelibarmos de suas primícias.

        Sejamos sonhadores..

Paolo Mantegazza (1831/1910), escritor italiano.

 “    O futuro é invisível para os olhos e intangível para as mãos, e é visto apenas através de um vidro, verde ou cor de rosa, segundo somos pessimistas ou otimistas.          

                                                                                                                            

 


  Álvaro Urubatan Melo  - Vavá Melo,  (São Bento, 14/4/1940). Pesquisador e escritor. 1º presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão (FALMA),  Sócio  do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGMA),  Membro fundador  da Academia Ludovicense de Letras (ALL),  membro fundador e atual presidente da Academia São-bentuense de Letras, Acadêmico  Correspondente da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes.  Publicou seis ensaios biográficos; publicou artigos em jornais de São Bento, Pinheiro e São Luís; escreveu mensalmente na Coluna Maranhensidade do Jornal Pequeno;  foi condecorado com:  Medalha Bicentenário do nascimento de João Francisco Lisboa -2012; Medalha Dom Luís de Brito – Câmara Municipal de São Bento – 2002; - Medalha Bicentenário da Justiça Militar no Brasil – 2008.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

PRAÇA BENEDITO LEITE

     

Os nomes antigos desse logradouro público foram: largo do Joao Velho do Val ou do Vale, praça da Assembleia e Jardim Publico 13 de maio. Diz Ruben Almeida que em tempos recuados havia nesse terreno casebres que abrigavam mulheres de vida airada e que para desalojá-las sugeriu-se a Corte a criação no local de um Jardim botânico. Veio a ordem, informa aquele autor, em 1804. Mal se aplainava o terreno, recebeu contra-ordem de Portugal que em guerra com a França temia ataque. E, mandava sustar as obras para melhorar as fortificações. Coube a presidência Eduardo Olimpio Machado, em 1857, fazer um ajardinado, chamado 13 de maio.

O mesmo presidente Machado em seu relatório de 1854, no capitulo de obras publicas , consignava sob a rubrica Praça da Assembleia o seguinte :

´´Deve concluir-se dentro em breve o aformoseamento desta praça, com a qual despendeu-se ate o fim de março a quantia de 9:055S025 réis´. E o ano subsequente informava;

´´Praça da Assembleia; Concluíram-se os trabalhos do seu aformoseamento, faltando apenas a plantação de arvores, de que vai se tratar. Importaram em 14:786S255 réis´´

Da Assembleia chamou-se porque nessa praça funcionou desde 1829 ate  o ano de 1884 , quando mudou-se para a ´´Escola 11 de Agosto´´, na rua do Egito , a Assembleia Legislativa Provincial, que ocupava uma dependência da Catedral , onde atualmente encontra-se a Curia Metropolitana. As sessões eram realizadas no pavimento superior a que da acesso uma escadaria com barras revestidos de lindos azulejos policrômicos.

É ainda o citado Ruben Almeida que traça uma espécie de roteiro da evolução do largo do Joao do Vale, louvado em Cesar Marques .

´´Melhoraram-na : Bernardo Pinto da Silveira ,1820, com um gracioso jardim , fronteiro a Palácio : Antônio  Joaquim Alvares do Amaral [48] , com a primeira arborização: Benevenuto Augusto de Magalhaes Taques[87], com a segunda, Benedito Pereira Leite [1906], sob planta do dr. Anísio Palhano de Jesus , com a arborização de fiqueira de Benjamin , formoso e completo ajardinamento onde, em relevo, em trevo de duas cores, se lia o nome em letras verdadeiramente artísticas, e 12 espaços destinados ao Panteon Maranhense, isto é, aos bustos de filhos ilustres da terra. Foi a sua idade de ouro.

´´Administradores subsequentes modificaram-no para pior ´´. ´´Até que um dia , esse dia nefasto das historias de mouras maléficas, sob pretextos pueris, insubsistentes, se começou uma obra vandálica de destruição. E dos Jardins de Benedito Leite e do seu arvoredo, basto, sonoro, simétrico, elegante, umbroso, resta o que se vê …´´[ A Cidade de São Luís ´´, 46 ].

Na praça de João do Vale realizavam-se animadas retretas, como se depreende de uma deliciosa crônica de Eloy, o Herói, que outro não era se não o nosso Arthur Azevedo, incerta nas colunas do seu jornalzinho ´´ O Domingo ´´, aqui editado. Anotando a raiva quase vandálica dos alcaides insensíveis ao verde que sombreava o velho largo, escreve o cronista, com a graça de sempre:

´´O nosso jardim das plantas está quase desplantado com a derrubada que nele fizeram que foi por demais cruel e exagerada. Graças , porém ao comandante Azevedo, o largo do João do Vale não é mais um matagal como era dantes, e, graças ao presidente da província, a música dos grilos e cigarras já ali não faz praça como fazia, porque a banda do 5 tem levado de vencida toda aquela malta bravia por meio de notas afinadas e por afinar ´´ [ Ed. De 26-5-1873].

Na verdade, de tempos a esta parte perderam nossos prefeitos o sentido do valor e utilidade da vegetação nas praças e ruas de São Luís, que tanto impressionou Roy Nash quando nos visitou. O arguto escritor norte-americano que tão bem soube ver o Brasil, chegou a escrever isso : ´´ Desde que deixamos o Rio esta é a primeira cidade que reconhece a utilidade dos arvoredos para sombrear os logares batidos pela soalheira´´. Se hoje o autor de ´A Conquista do Brasil ´ visitasse novamente São Luís haveria de sofrer funda decepção.

Na gestão do prefeito Alcides Pereira os maus fados de que fala o professor Rubem Almeida desabara sobre a praça Benedito Leite. O denso arvoredo, nemoroso e acolhedor, foi abatido impiedosamente e retirado o gracioso gradil de ferro que contornava, sendo substituído por solido e feio paredão de concreto,

Remodelada, sem as arvores primitivas, nua e pelada, com uma ou outra palmeira solitária, deixou de ser lugar de aprazimento nas formosas e frescas tardes de verão na ilha.

Em 1911 foi erigida uma estátua no centro da praça perpetuando no bronze a figura de Benedito Pereira Leite , estadista do Maranhão no Senado da Republica . Assenta num pedestal de mármore branco e é obra do escultor francês Emile Decorchement . Na face anterior do pedestal, em um livro aberto sobre uma palma, lê-se a inscrição: ´´Prefiro cortar a mão a assinar a supressão da Escola Normal ou da Modelo ´´, palavras atribuídas a Leite num assomo de revolta e sobranceria quando lhe alvitraram a possibilidade de fechar essas duas escolas.

 

Breve História das Ruas e Praças  de São Luis  (1971), Segunda Edição,   pag. 45  Domingos Vieira Filho