Hoje é dia de Grajaú
João Batalha
Amanheci com saudades da cidade de Grajaú. Do seu clima ameno e
gostoso dos meses de junho a agosto. Do seu povo e de sua gente.
Conheci esta cidade do centro sul maranhense
e alto Mearim/Grajau, que eu chamo do Sertão Maranhense, em um domingo alegre e
festivo, há 40 anos atrás, dia 28 de junho de 1981.
Ali cheguei para inaugurar em 30 do mesmo
mês, uma agência da Caixa Econômica Federal e gerenciá-la por mais de um ano.
Terra de rica história e lindas tradições.
Gente simpática, civilizada, receptiva, alegre, agradável e hospitaleira.
De poetas, boêmios e trovadores e de e
pessoas e famílias de tradição respeitada. Lá deixei muitos amigos dos quais
guardo saudades. Impossível enumerá-las todas neste pequeno espaço.
Tão logo cheguei na cidade, por volta das 13
horas, fui conhecer o local da agência. Dia 29 era feriado, dia de São Pedro,
dia em que chegou Salomão Rezzo, o Caixa da Caixa, depois, Jonildo Barbosa, o
outro Caixa. Alberto Dias, o Gerente Adjunto, chegou um dia depois. Os colegas
Raimundo Campos e Marcelina Gatinho já nos aguardavam preparando a agência para
a inauguração.
À
noite, recebi, no hotel, a visita do Senhor Wolfgang Guará, fidalga pessoa e
figura de relevo na sociedade local. Referencia de ética, honradez e postura
social na cidade de Grajaú.
Reservei os fins de tarde da quarta, quinta
e sexta-feira para conhecer melhor a cidade, repartições e algumas de suas
pessoas representativas. No primeiro sábado, visitei o comércio e, no domingo,
acompanhado do Senhor Otávio Alves de Almeida, conheci o local da Expoagro e
fui ao Canecão.
Depois de ouvir o badalar dolente do sino do
templo Sé da Matriz e as badaladas da Ave Maria, fui à Igreja do Senhor do
Bonfim. Visitei, o frei Alberto de Bereta, frade capuchinho e líder religioso
de aprimorada formação intelectual. Teólogo, Cirurgião e Doutor em Medicina,
que desenvolveu no Grajaú magnifica atividade missionária. Seis meses após
nossa chegada àquela cidade o Médico dos Pobres, Gigante da Caridade e
edificador de grandes obras sociais é acometido por uma AVC.
Posteriormente, conheci o Frei Lauro
Crivellaro. Figura humana de extraordinária bondade e de extrema dedicação aos
necessitados, às causas sociais das comunidades grajauenses e à religiosidade
de sua Igreja. Porte físico atlético, era um excelente craque de futebol. Fazia
desconcertantes jogadas, driblando seus adversários apesar de jogar com sua
habitual batina longa até os pés e de punhos largos e compridos.
Fizemos amizade, também, com Frei Ernestino.
Com expressão mesclada de português com latim e italiano, era membro do seleto grupo de religiosos de
Grajaú.
Reencontrei meu amigo Cunha, então Juiz de
Direito da Comarca. Com ele fizemos farras e pescarias nos balneários e nos
pontos piscosos do rio.
Inteirei-me logo da história da cidade. Seus primeiros habitantes, índios timbiras e piscobies. Primeiro desbravador, sertanejo Antônio Francisco
dos Reis, e dos nomes do lugar que antecederam ao atual: Porto da Chapada, Vila
do Senhor do Bonfim e São Paulo do Norte.
Ouvi histórias dos Ledas, Costa, Nunes,
Moreira, Brito, Barros, Diogo Lopes, Militão Bandeira; e das lutas
corpo-a-corpo, peito-a-peito entre Paraíba do Norte, Aroeira, Cascavel e Raimundo
Pernambuco, cabralhadas do Leão Leda e Araújo Costa e também dos massacres de
brancos e índios.
Frequentei a Maçonaria e participei de ação
social na Vila San Marino, em favor dos indigentes portadores de hanseníase já
com deformidade física. Associei-me ao Lions Internacional, Clube de Grajaú, e
me envolvi com a cidade.
Em companhia de Joaquim Mariquinha, fui ao
Sabonete, Alto Alegre e ao São Pedro dos Cacetes. Com o cacique Alderico Lopes,
fui à Festa do Moqueado, na aldeia Bacurizinho. Assisti as liturgias das
tribos, o dançar, e o pintar o corpo no preparo para os rituais de suas
cerimônias sagradas.
Voltei à mesma Aldeia em companhia do irmão
Araújo (Maçonaria) para uma partida de futebol e, posteriormente, com Jorge
Herlon, voltei às aldeias de Bacurizinho e Ipu, para um convívio mais próximo
com os indígenas.
Participei de serestas, das quais também fez
parte o prefeito José Jorge, e de festas sociais, no clube da cidade.
Atravessei por diversas vezes a ponte que
liga o centro da cidade à sua Tresidela.
Lembro e guardo saudade da cidade com sua mocidade alegre. Cidade
Alta, que fora reduto dos Liberais, e Cidade Baixa, reduto dos Conservadores.
Lembrança da Piguale, da Monza, da Cond
Lara. E, igualmente, das aldeias
indígenas, dos gentios, das festas, danças
ritualísticas de suas tribos. Das
nativas e dos banhos na cachoeira
do Ipu.
Das pescarias de Quilambi, das festas
sociais, da religiosidade do seu povo e do Hotel Central, onde fui recepcionado
com distinção e simpatia pela senhora Ivanilde e recebi bons préstimos da
Aninha, por um bom tempo.
Conheci os diversos locais de
banho e pontos turísticos do município e provei da boa culinária da região. Foi
lá que aprendi a comer leitão assado com arroz de piqui.
Vivenciei com pessoas
importantes, como meus irmãos de Maçonaria Gonçalo do Carmo, Wilson Lima, Jorge
Herlon, Antônio Carlos, Diolino Barros,
José Araújo e Dimas Lima. Este último era vice-prefeito do município e
conterrâneo arariense. Também Adelino do Hotel, que me abrigou quando ali
cheguei pela primeira vez. Alan Kardec, Arruda (o bioquímico), Arruda (Fogoió)
e Arruda, da Farmácia. Absalão, Frazão
(dentista), Josemar Santos e Dr. Roriz, médicos. Antônio Leite, Chico Rosas, Élcio e Elias
Barros, Marco Antônio, Neuzinha, Eduardo Nava, Rosa Emília, Frazão, Iran Guará,
Dezinho Santos, Livino Rezende, Mercial Arruda, Miltão, Ornilo Jorge, Oswaldo
Santos, Raimundo Abreu, Raimundo Simas, Raimundo Viana, Zé Buchudo, Zé Caboclo,
Zé de Neném, Zé Rezende, entre outros, com os quais fiz amizade.
Não esqueço, também, das
divertidas e dolorosas viagens que fazíamos para São Luís ou Imperatriz, quando
a estrada ainda era piçarrada e coberta de poaca. Dos tombos, solavancos e
trambolhos. Da dificuldade, processo demorado e do longo tempo para conseguir
comunicação por telefone com outras cidades. Tínhamos que marcar lugar em uma
longa fila no Posto Telefônico da TELMA, que ficava na Patrocínio Jorge,
esquina com Benjamim de Borno, voltar para o trabalho, e, de vez em quando,
mandar um mensageiro verificar quantas pessoas ainda existiam em nossa frente
na lista de espera. Todos os dias, após encerrar o expediente da Caixa
Econômica Federal, tínhamos que transmitir para a filial da CEF, em São Luís,
por telefone, o BOD — Boletim de Operações Diárias. Em muitas ocasiões,
ficávamos das 17 até 23 horas para poder fazer a transmissão por telefone.
Nestas filas intermináveis,
conhecemos pessoas com as quais fizemos duradoura amizade.
Em Grajaú, não me encantei apenas
com a cidade, o rio, os montes e morros, mas, também, com as ruas de ladeiras
empinadas, que se declinam diante dos acidentes geográficos; com o badalar
dolente e vibrante dos sinos, que ficavam no campanário da igreja do Senhor do
Bonfim e dobravam nas alegrias e nas tristezas. Maravilhei-me com o Grajaú dos folguedos e diversões. Dos
banhos de rio no Canecão, onde a juventude purificava o corpo e afogava
as ilusões; do Remanso e da Cachoeira do Morcego.
Alegrei-me pescando Piau Cabeça Gorda. com Quilambí. Aprazei-me com pessoas cativantes e com a índole dos seus
habitantes, detentores de importantes tradições e descendentes de famílias
ilustres, que enobrecem a terra do poeta e Sálvio Dino, e de seus conterrâneos
Amaral Raposo, Antenor Bogéa, Patrocínio Jorge, Nunes Freire, monsenhor Gerson
Freire e outros talentos provindos do sertão, como o poeta João Viana Guará e
Orestes Mourão, outro grande poeta que versejou sua terra natal.
No período de férias escolares,
era um regozijo só. Diferente de tantas outras que conheci. Nunca vi tanta alegria
e satisfação estampadas no rosto de um povo como o que presenciei naquela
cidade no mês de julho. Alvoradas de foguetes anunciava a chegada de mais uma
família, ou estudante, filhos da terra, que vinham de Goiânia, Brasília, São
Paulo, Campina Grande ou outra cidade qualquer do Brasil para passar as férias
na cidade natal. Festas dançantes no clube e nas danceterias. Picnics e
serestas contaminavam seu povo.
Confesso haver me identificado
tanto com a cidade de Grajaú e com seu povo que até hoje sinto nostalgia dos
bons dias vividos naquele burgo sertanista. Sempre que possível, ali retorno,
para matar saudades e rever amigos.
Em
Grajaú, também, colaboraram conosco, os colegas José Antônio Soeiro, Targino e
Ronildo, além das eficientes estagiárias. Fomos inspecionados pelo Inspetor
Ageszilau e todos os empregados da CEF se hospedavam em nossa república.
João Francisco
Batalha
é
Gestor de RH e Administrador Público. Economiário foi gerente de 6 agências da
Caixa Econômica Federal. Presidente da Federação
das Academias de Letras do Maranhão, pertence a 14 confrarias, sendo, uma
internacional; nove no Brasil; e quatro no Maranhão. Cinco destas são
maçônicas; e nove são sodalícios, confrarias e clubes. Jornalista registrado na
DRT-MA e associado à ABI, é
articulista com participação em diversos órgãos de imprensa, com livros
publicados sobre, navegação, famílias e meio ambiente do extremo Baixo Mearim. Tem participação em diversas coletâneas do
Maranhão e do Brasil. Filiado à ADESG e Doutor em Filosofia Univérsica P.h.I, Filósofo Imortal, foi o homenageado
do ano 2018, pela Elos Literários Nacional em Salvador/BA. Ainda em 2018,
recebeu a Medalha do Mérito FALMA; foi
o homenageado do ano pela ALAC e I Bienal de Arari; e Personalidade do
ano, de Paço do Lumiar, pela Academia Luminense de Letras. Em 2020, em
Salvador/BA, recebeu a Medalha Senhor
da Literatura, concessão do Movimento Nacional Elos Literários.
Coleciona dezenas de Comendas, Medalhas e Diplomas de Honrarias.