segunda-feira, 8 de março de 2021

HILDENORA CASTELO BRANCO

 Jucey Santana 

 


                As    primeiras    manifestações    das  mulheres     na política  do   Maranhão

ganharam formas no início do século XX, porém com pouca simpatia da imprensa escrita. O primeiro alistamento de uma mulher ocorreu em 1929 em Barra do Corda, Eulina Queiroz Moreira, posteriormente impugnado com muita repercussão desfavorável à mulher.

 A discussão sobre o sufrágio feminino no Maranhão veio a ganhar um pouco de espaço na mídia a partir de 24 de fevereiro de 1932, quando foi instituído, no Decreto 21.076, a legalidade do voto feminino. Mesmo assim, o acolhimento ao direito da elegibilidade feminina por parte da imprensa continuou frio, restrito a alguns periódicos.

Foi um passo importante ao avanço das mulheres na po-lítica. O movimento feminino iniciou via professoras, porém o que se viu na época foi uma pequena quantidade de mulheres se qualificando ao voto para as eleições de 14 de outubro de 1934, muitas das quais ainda necessitando do aval dos seus maridos.

Foram precursoras do feminismo na política maranhense as seguintes professoras: Aniéte Bello, Zuléide Fernandes Bogéa, Rosa Castro, Zélia Maciel, Lilah Lisbôa de Araújo, Othilia Cantanhede Almeida, Judith da Silva Ferreira e as irmãs barracordenses Hildenê e Hildenora Gusmão Castelo Branco. Saíram eleitas as primeiras deputadas para o Maranhão, Hildenê Castelo Branco, Zuleide Bogea e Rosa Castro. Porém a professora Rosa Castro teve sua eleição impugnada pelo TRE por denúncia de fraude ao partido.

            Hildenora e a política de Vargem Grande nos anos 30

 Hildenora, concluiu o curso de Normal em 1922 e foi nomeada professora pública  do Estado no mesmo ano. Em 1932 foi transferida para a escola mista de Vargem Grande.

Com a Revolução de 1930, que dissolveu as Câmaras   de Vereadores, todas as autoridades de Vargem Grandes foram depostas e substituídas, a exemplo do prefeito João Baptista de Almeida, partidário de Júlio Prestes, substituído por Martiniano Mota Andrade, que ficou à frente da prefeitura até 1933.

 Diante da situação conflitante do município com disputa interna entre as famílias pelo poder, em 16 de dezembro de 1933, pela Decreto Estadual Nº 539, Vargem Grande perdeu a autonomia política e administrativa, incorporando ao município de Itapecuru Mirim, tendo por prefeito Joaquim de Freitas Belquior. Pelo Decreto Nº 832 de 3 de junho de 1935, foi restabelecida     a autonomia local e, em 01 de julho, foi nomeada a professora Hildenora de Gusmão Castelo Branco como prefeita municipal (Imparcial. 6.7.1935).

 A prefeita ficou somente três meses no cargo. O novo governador Aquiles Lisboa nomeou, em 25 de outubro de 1935, João José de Souza para  prefeito de Vargem Grande destituindo Hildenora do cargo.

Em 15 de junho de 1936, a professora Hildenora foi reconduzida ao cargo de prefeita de Vargem Grande pelo novo governador, Roberto Carlos Vasco Carneiro de Mendonça, constando como a segunda prefeita (nomeada) do Estado. Teve uma excelente atuação na prefeitura, favorecida pela memória local, apesar das perseguições políticas e preconceitos por ser mulher.

A primeira Prefeita do Maranhão,  Joana da Rocha Santos  -  Noca Santos ou Dona Noca,(1892-1970), foi nomeada prefeita de São  dos Patos em 1934. Foi reconduzida várias vezes a prefeitura ficando até 1951.

 

           Primeira prefeita eleita no Maranhão

 Com a abertura para as primeiras eleições municipais, depois da Revolução, Hildenora se lançou na disputa pelo Partido Republicano, para as eleições de 12 de março de 1937. Faziam parte da chapa da prefeita: Argemiro Mota Costa, João Gregó- rio Magalhães, Carlos Rodrigues de Souza, Pergentino Mesquita Magalhães, Sebastião Cardoso Martins, Francisco Bezerra Melo e de Lima Batista, contra a chapa do PSD, liderada por Luiz Gonzaga de Barros. A destemida prefeita, em época de jagunços, emboscadas e lutas por terras, em sua pequena estatura, montada em seu alazão inquieto, chapéu na cabeça, e revolver na cintura, com seu grupo de apoio percorria os povoados de Manga, Curuzu, Santa Luzia, São Benedito e outros em busca de apoio. A vitória foi extraordinária, constando como a primeira prefeita eleita em todo o Estado do Maranhão.

 A diferença de votos para a chapa derrotada foi grande, e o povo festejou durante dias, jogando pétalas de rosas na passagem da gestora eleita (O Combate, 10.8.1937).

 Em 7 de agosto de 1937, a prefeita reinstalou a Câmara Municipal, em ato presidido pelo juiz eleitoral Dr. José Menezes Júnior, tendo por presidente, Carlos Rodrigues de Sousa, vice-presidente, Argemiro Mota Costa e secretário, Luiz Almeida Lima Diniz.

          A nova Carta Magna, outorgada em 10 de novembro de 1937, por Getúlio Vargas, para dar suporte ao regime ditatorial do Estado Novo e permanecer no poder, sem eleições democráticas, trazia em seu bojo o Artigo 27, com a seguinte redação: O prefeito será de livre nomeação do Governador do Estado.

 

O governo resolveu escolher os prefeitos de acordo com seus apadrinhados e, em 29 de dezembro de 1937, Hildenora foi destituída do cargo de prefeita para qual fora eleita, e em janeiro de 1938, foi nomeado para substitui-la o professor Francisco Coelho dos Santos, estimado prefeito de Miritiba (Humberto de Campos).

 Em 21 de janeiro de 1938, antes da posse do novo prefeito, foi inaugurado o prédio da prefeitura municipal, com a presença de muitas autoridades e a população. A prefeita destituída foi representada por padre Alfredo Bacelar Furtado, que enalteceu seu trabalho em Vargem Grande, enumerando a construção de sete pontes, entre as quais a do Rio Iguará, para facilitar os deslocamentos dos romeiros para Mulundus, reformas e construções de escolas e do prédio da prefeitura, para abrigar a Câmara Municipal e todas as outras repartições, considerado o melhor entre as prefeituras do interior na época.

 Ao término da solenidade, todos se deslocaram para a casa de Hildenora, ocasião em que esta recebeu muitas homenagens do povo iguaraense que a amava.

 Dando continuidade às perseguições, a ex-prefeita foi licenciada como professora, com o salário reduzido. Em agosto de 1938, foi transferida para a Grupo Escolar Mota Júnior, na cidade de São Bento, e em fevereiro de 1939, foi transferida para Pirapemas, termo de Coroatá, para uma escola que hoje leva o seu nome. Posteriormente foi transferida para a Escola Neto Guterres na capital.

 Em 9 de outubro de 1946, voltou a assumir a prefeitura de Vargem Grande, em substituição ao prefeito Adelman Viana, nomeada pelo governador Saturnino Bello, por poucos dias.                

 A família

 Hildenora Correa de  Gusmão  Castelo  Branco  Oliveira nasceu em Barra do Corda, em 9 de setembro de 1903. Filha do tenente-coronel, jornalista e político Hermelindo de Gusmão Castelo Branco e Alexandrina Correa Castelo Branco. Seu pai foi vereador em São Luís, sendo eleito presidente da Câmara Municipal da capital em 1937, delegado e gerente do jornal O Combate.

 Tinha os seguintes irmãos: Hermelindo Filho, juiz e deputado federal pelo Estado do Acre, Hemidio, capitão de fragata, Hilda, Helozina, Heloisa e Helé, funcionárias públicas, e Hildenê, professora e primeira deputada estadual do Maranhão.

 Foi casada com João da Silva Almeida, e foram os pais do engenheiro Celso Castelo Branco, diretor do Departamento de Estradas e Rodagens -DER.

 Por seu trabalho em prol de Vargem Grande e toda região iguaraense, Hildenora foi eleita patrona da cadeira 34 da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes, fundada em 14 de julho de 2019.

 

 

 Do livro, O Iguaraense, 175 anos de Vargem Grande (2020).  Pag. 249, organizado por Jucey Santana.



 

5 comentários:

  1. Minha homenagem para o diacsa mulher, vai para esta admirável e corajosa cidadã, que com sua trajetória de luta soube defender os interesses da mulher na política e deixar um maravilhoso legado. Uma pioneira!

    ResponderExcluir
  2. Consagração a guerreira Hildenora Castelo Branco Corrêa Oliveira. 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

    ResponderExcluir
  3. Parabéns à corajosa maranhense pioneira na política, Hildenora Castelo Branco Corrêa Oliveira.

    ResponderExcluir
  4. Linda história. Parabéns, deveríamos ter uma materia em nossas escolas maranhense de histórias do nosso Maranhão

    ResponderExcluir