Por:
Nascimento Araújo
Dentro
do peito guardo a minha Terra,
Assim,
como se guarda avaramente,
Insondável
tesouro em que se encerra
A
mais bela das gemas encontradas
Em
meio às urzes – palmilhado ingente –
Nas
longas e difíceis caminhadas.
Na
história dessa gente abençoada,
Há
dramas, alegrias e comédias,
Como,
também, há lutas e tragédias,
A
contemplar-se em grande revoada,
Quais
andorinhas, alto esvoaçando,
A
festejar o tempo perpassando.
No
ritmo de vidas esplendentes,
Há
galardões imensos no arrebol
Dos
muitos que passaram; dessas gentes,
Cuja
honra tenaz ainda reboa,
Ora
como o luzir de uma coroa,
Ora
como o fulgir de um lindo sol.
Eis
que um jorro de Luz – Luz ofuscante –
Da
velha Europa as glórias eternais,
Ultrapassa
o fulgor tonitruante.
Foi,
com certeza, exuberante cousa,
O
gênio, a fama, o brilho, colossais,
Desse
filho ideal – Gomes de Sousa!
Na
grandeza, de um astro, de primeira,
Que
o jornalismo máximo apregoa,
Existe
a voz impávida, altaneira,
Da
pena modelar de João Lisboa,
No
seu Tímon, que dardejando a luz,
A
nossa geração ainda conduz.
Quando
devo trazer à luz rima,
Os
louros desse filho, também nato,
Da
terra em que nasci tudo me anima,
A
cantar e exaltar talento e veia,
Das
Letras Brasileiras – Viriato –
Que
eternizou, em glórias, os Correia.
Ergo
sublime a taça deste encanto,
A
brindar com respeito e devoção,
O
talento invulgar de um beletrista;
De
um portento cultor – de um estilista –
Dessa
Terra: é José Sampaio Simão,
O
General, que me inspira este canto.
Todo
um sonho de amor e de beleza
Houve
sempre por bem enaltecer
O
valor deste filho um – Menestrel –
Um
doce sabiá do entardecer –
A
rimar dessa Gleba a natureza,
Em
versos magistrais – Hermes Rangel.
Tudo
encanta o viver de minha Terra,
Através
desses grandes que deixaram
Policromia
réstia que conduz,
Ao
mundo da poesia e ali descerra
Os
belos versos que imortalizaram
A
poetisa Mariana Luz.
Assim
se multiplicam muitos filhos,
A
honrar o fulgor de minha Terra.
É
aqui Tiago
Ribeiro, o professor,
De
jovens; esperança que se encerra,
No
paladino esforço promissor,
Rompendo
a velha guarda dos empecilhos.
No
magistério, tantas gerações,
Fluíram
certo, um magno esplendor,
E
quantas almas, de nobreza e amor,
Tenho
a exaltar – e disto não me fujo
Na
competência e grandes gerações
Das
professoras Santos e Araújo.
Nos
pródomos dos grandes vicejaram
Muitas
e muitas frondes farfalheiras,
Quando
frutos ótimos sazonaram
No
sangue vigoroso dos Nogueiras.
E
assim cresceram filhos dedicados,
Aumentando
o valor dos já passados.
Dentre
os vultos e nomes do alicerce
Desse
Itapecuru-Mirim
querido,
E
de notar-se outro que merece
Engrandecer
e honrar com mais um elo,
A
esse povo jamais, nunca esquecido.
Ei-los
quem são: os Bandeira de Melo.
Recordo
bem, eu era ainda mocinho,
Quando,
em noites saudosas, a cismar,
Ouvia-se
um cantor – não eram raros,
Era
a voz tão bonita do Dominho,
Erguendo,
em honras lindas de luar,
A
simpatia e o nome dos Sitaros.
Os
derradeiros sons – quanto se ouvira,
Ainda
reboam longe, em soledade,
Do
mavioso canto!... E foi Zulmira
Fonseca,
alegre espirito de escol.
Recordo
sempre... e sempre com saudades...
A
voz desse bondoso Rouxinol.
É-me
grato cantar a minha Terra,
Revendo
a história e a fama desses sóis
Que
tantos louros sua vida encerra.
Recordar
é viver, a recordar,
Sinto
na alma o esplendor dos arrebóis
De
tanta luz em lindo espadanar!
Perdoa,
ó minha Gleba, se este canto,
Não
corresponde ao tanto que devia;
Se
porventura omisso, assim, pequei!
Tudo
fiz, com certeza, entretanto,
Para
dar-te o melhor que possuía,
De
coração rimado o que rimei!
Há
de bastar-me como ingente gôzo,
Ver
tanta gente que te honrou profundo,
Eternizada
nestes versos meus;
Há
de ser minha voz, de alguém ditoso,
Ao
menos pela sorte, neste mundo,
De
ter sido menor dos filhos teus.
Do livro CASTÁLIA ILUMINADA (1967)
de autoria do poeta itapapecuruense Juvenal Nascimento de Araújo, patrono da
cadeira nº 15 da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes - AICLA