quarta-feira, 14 de julho de 2021

CADA DIA UMA SAUDADE

                                                      Hoje é dia de Grajaú

           João Batalha

          Amanheci com saudades da  cidade de Grajaú. Do seu clima ameno e gostoso dos meses de junho a agosto. Do seu povo e de sua gente.

          Conheci esta cidade do centro sul maranhense e alto Mearim/Grajau, que eu chamo do Sertão Maranhense, em um domingo alegre e festivo, há 40 anos atrás, dia 28 de junho de 1981.

           Ali cheguei para inaugurar em 30 do mesmo mês, uma agência da Caixa Econômica Federal e gerenciá-la por mais de um ano. Terra de rica história e lindas tradições.  Gente simpática, civilizada, receptiva, alegre,  agradável e hospitaleira.

           De poetas, boêmios e trovadores e de e pessoas e famílias de tradição respeitada. Lá deixei muitos amigos dos quais guardo saudades. Impossível enumerá-las todas neste pequeno espaço.

           Tão logo cheguei na cidade, por volta das 13 horas, fui conhecer o local da agência. Dia 29 era feriado, dia de São Pedro, dia em que chegou Salomão Rezzo, o Caixa da Caixa, depois, Jonildo Barbosa, o outro Caixa. Alberto Dias, o Gerente Adjunto, chegou um dia depois. Os colegas Raimundo Campos e Marcelina Gatinho já nos aguardavam preparando a agência para a inauguração.

           À noite, recebi, no hotel, a visita do Senhor Wolfgang Guará, fidalga pessoa e figura de relevo na sociedade local. Referencia de ética, honradez e postura social na cidade de Grajaú.

           Reservei os fins de tarde da quarta, quinta e sexta-feira para conhecer melhor a cidade, repartições e algumas de suas pessoas representativas. No primeiro sábado, visitei o comércio e, no domingo, acompanhado do Senhor Otávio Alves de Almeida, conheci o local da Expoagro e fui ao Canecão.

           Depois de ouvir o badalar dolente do sino do templo Sé da Matriz e as badaladas da Ave Maria, fui à Igreja do Senhor do Bonfim. Visitei, o frei Alberto de Bereta, frade capuchinho e líder religioso de aprimorada formação intelectual. Teólogo, Cirurgião e Doutor em Medicina, que desenvolveu no Grajaú magnifica atividade missionária. Seis meses após nossa chegada àquela cidade o Médico dos Pobres, Gigante da Caridade e edificador de grandes obras sociais é acometido por uma AVC.  

           Posteriormente, conheci o Frei Lauro Crivellaro. Figura humana de extraordinária bondade e de extrema dedicação aos necessitados, às causas sociais das comunidades grajauenses e à religiosidade de sua Igreja. Porte físico atlético, era um excelente craque de futebol. Fazia desconcertantes jogadas, driblando seus adversários apesar de jogar com sua habitual batina longa até os pés e de punhos largos e compridos.

            Fizemos amizade, também, com Frei Ernestino. Com expressão mesclada de português com latim e italiano, era  membro do seleto grupo de religiosos de Grajaú.

            Reencontrei meu amigo Cunha, então Juiz de Direito da Comarca. Com ele fizemos farras e pescarias nos balneários e nos pontos piscosos do rio. 

             Inteirei-me logo da história da cidade.  Seus primeiros habitantes,  índios timbiras e piscobies.  Primeiro desbravador, sertanejo Antônio Francisco dos Reis, e dos nomes do lugar que antecederam ao atual: Porto da Chapada, Vila do Senhor do Bonfim e São Paulo do Norte.

            Ouvi histórias dos Ledas, Costa, Nunes, Moreira, Brito, Barros, Diogo Lopes, Militão Bandeira; e das lutas corpo-a-corpo, peito-a-peito entre Paraíba do Norte, Aroeira, Cascavel e Raimundo Pernambuco, cabralhadas do Leão Leda e Araújo Costa e também dos massacres de brancos e índios.

            Frequentei a Maçonaria e participei de ação social na Vila San Marino, em favor dos indigentes portadores de hanseníase já com deformidade física. Associei-me ao Lions Internacional, Clube de Grajaú, e me envolvi com a cidade.

            Em companhia de Joaquim Mariquinha, fui ao Sabonete, Alto Alegre e ao São Pedro dos Cacetes. Com o cacique Alderico Lopes, fui à Festa do Moqueado, na aldeia Bacurizinho. Assisti as liturgias das tribos, o dançar, e o pintar o corpo no preparo para os rituais de suas cerimônias sagradas.

            Voltei à mesma Aldeia em companhia do irmão Araújo (Maçonaria) para uma partida de futebol e, posteriormente, com Jorge Herlon, voltei às aldeias de Bacurizinho e Ipu, para um convívio mais próximo com os indígenas.

            Participei de serestas, das quais também fez parte o prefeito José Jorge, e de festas sociais, no clube da cidade.

            Atravessei por diversas vezes a ponte que liga o centro da cidade à sua Tresidela. 

            Lembro e guardo saudade  da cidade com sua mocidade alegre. Cidade Alta, que fora reduto dos Liberais, e Cidade Baixa, reduto dos Conservadores.

             Lembrança da Piguale, da Monza, da Cond Lara. E, igualmente,  das aldeias indígenas, dos gentios, das festas, danças  ritualísticas de suas tribos. Das  nativas  e dos banhos na cachoeira do Ipu.

             Das pescarias de Quilambi, das festas sociais, da religiosidade do seu povo e do Hotel Central, onde fui recepcionado com distinção e simpatia pela senhora Ivanilde e recebi bons préstimos da Aninha, por um bom tempo.

              Conheci os diversos locais de banho e pontos turísticos do município e provei da boa culinária da região. Foi lá que aprendi a comer leitão assado com arroz de piqui.

              Vivenciei com pessoas importantes, como meus irmãos de Maçonaria Gonçalo do Carmo, Wilson Lima, Jorge Herlon, Antônio Carlos,  Diolino Barros, José Araújo e Dimas Lima. Este último era vice-prefeito do município e conterrâneo arariense. Também Adelino do Hotel, que me abrigou quando ali cheguei pela primeira vez. Alan Kardec, Arruda (o bioquímico), Arruda (Fogoió) e Arruda, da Farmácia. Absalão,  Frazão (dentista),  Josemar Santos  e Dr. Roriz, médicos.  Antônio Leite, Chico Rosas, Élcio e Elias Barros, Marco Antônio, Neuzinha, Eduardo Nava, Rosa Emília, Frazão, Iran Guará, Dezinho Santos, Livino Rezende, Mercial Arruda, Miltão, Ornilo Jorge, Oswaldo Santos, Raimundo Abreu, Raimundo Simas, Raimundo Viana, Zé Buchudo, Zé Caboclo, Zé de Neném, Zé Rezende, entre outros, com os quais fiz amizade.

              Não esqueço, também, das divertidas e dolorosas viagens que fazíamos para São Luís ou Imperatriz, quando a estrada ainda era piçarrada e coberta de poaca. Dos tombos, solavancos e trambolhos. Da dificuldade, processo demorado e do longo tempo para conseguir comunicação por telefone com outras cidades. Tínhamos que marcar lugar em uma longa fila no Posto Telefônico da TELMA, que ficava na Patrocínio Jorge, esquina com Benjamim de Borno, voltar para o trabalho, e, de vez em quando, mandar um mensageiro verificar quantas pessoas ainda existiam em nossa frente na lista de espera. Todos os dias, após encerrar o expediente da Caixa Econômica Federal, tínhamos que transmitir para a filial da CEF, em São Luís, por telefone, o BOD — Boletim de Operações Diárias. Em muitas ocasiões, ficávamos das 17 até 23 horas para poder fazer a transmissão por telefone.

              Nestas filas intermináveis, conhecemos pessoas com as quais fizemos duradoura amizade.

              Em Grajaú, não me encantei apenas com a cidade, o rio, os montes e morros, mas, também, com as ruas de ladeiras empinadas, que se declinam diante dos acidentes geográficos; com o badalar dolente e vibrante dos sinos, que ficavam no campanário da igreja do Senhor do Bonfim e dobravam nas alegrias e nas tristezas. Maravilhei-me  com o Grajaú dos folguedos e diversões.  Dos  banhos de rio no Canecão, onde a juventude purificava o corpo e afogava as ilusões;  do   Remanso e da Cachoeira do Morcego. Alegrei-me pescando Piau Cabeça Gorda. com Quilambí. Aprazei-me com  pessoas cativantes e com a índole dos seus habitantes, detentores de importantes tradições e descendentes de famílias ilustres, que enobrecem a terra do poeta e Sálvio Dino, e de seus conterrâneos Amaral Raposo, Antenor Bogéa, Patrocínio Jorge, Nunes Freire, monsenhor Gerson Freire e outros talentos provindos do sertão, como o poeta João Viana Guará e Orestes Mourão, outro grande poeta que versejou sua terra natal.

              No período de férias escolares, era um regozijo só. Diferente de tantas outras que conheci. Nunca vi tanta alegria e satisfação estampadas no rosto de um povo como o que presenciei naquela cidade no mês de julho. Alvoradas de foguetes anunciava a chegada de mais uma família, ou estudante, filhos da terra, que vinham de Goiânia, Brasília, São Paulo, Campina Grande ou outra cidade qualquer do Brasil para passar as férias na cidade natal. Festas dançantes no clube e nas danceterias. Picnics e serestas contaminavam seu povo.

              Confesso haver me identificado tanto com a cidade de Grajaú e com seu povo que até hoje sinto nostalgia dos bons dias vividos naquele burgo sertanista. Sempre que possível, ali retorno, para matar saudades e rever amigos.

              Em Grajaú, também, colaboraram conosco, os colegas José Antônio Soeiro, Targino e Ronildo, além das eficientes estagiárias. Fomos inspecionados pelo Inspetor Ageszilau e todos os empregados da CEF se hospedavam em nossa república.

 
 

           


      João Francisco Batalha é Gestor de RH e Administrador Público. Economiário foi gerente de 6 agências da Caixa Econômica Federal. Presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão, pertence a 14 confrarias, sendo, uma internacional; nove no Brasil; e quatro no Maranhão. Cinco destas são maçônicas; e nove são sodalícios, confrarias e clubes. Jornalista registrado na DRT-MA e associado à ABI, é articulista com participação em diversos órgãos de imprensa, com livros publicados sobre, navegação, famílias e meio ambiente do extremo Baixo Mearim. Tem participação em diversas coletâneas do Maranhão e do Brasil. Filiado à ADESG e Doutor em Filosofia Univérsica P.h.I, Filósofo Imortal, foi o homenageado do ano 2018, pela Elos Literários Nacional em Salvador/BA. Ainda em 2018, recebeu a Medalha do Mérito FALMA;  foi  o homenageado do ano pela ALAC e I Bienal de Arari; e Personalidade do ano, de Paço do Lumiar, pela Academia Luminense de Letras. Em 2020, em Salvador/BA,  recebeu a Medalha Senhor da Literatura, concessão do Movimento Nacional Elos Literários. Coleciona dezenas de Comendas, Medalhas e Diplomas de Honrarias.

      


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