quinta-feira, 3 de abril de 2025

UM AGRADECIMENTO À CIDADE DE ITAPECURU MIRIM

                         


*Arlete Machado

Sinto-me filha desta  terra. A família de meu pai, os Nogueira da Cruz, toda ela, é de Itapecuru Mirim. Também alguns parentes, próximos de minha mãe, os Rodrigues, ou seja, três irmãos da minha avó Celina, viveram aqui:  Cotinha, Neusa e João Rodrigues. Este João que, além de irmão de Celina, foi criado por ela e por seu esposo Paulo, foi duas vezes prefeito de Itapecuru e um notável professor dos filhos desta terra.

Nasci em Cantanhede, filha de Raimundo Nogueira do Cruz e de Enoi Rodrigues Simão (pelo casamento, Enoi Simão Nogueira da Cruz). Meu pai, era empregado da Estrada de Ferro São Luís Teresina e minha mãe, nascida e morando em Cantanhede, conheceu meu pai passando um carnaval em Itapecuru, em casa de sua tia Neusa (avó de Benedito Buzar), casando-se com ele, indo morar em Cantanhede.

Nasci naquele povoado muito pobre, que na época, fazia parte do município de Itapecuru, onde passava minhas férias escolares, em casa de minha avó Rafaela, filha dos Sitaro, de procedência italiana. Tenho ainda a dizer sobre meus laços com Itapecuru Mirim: Sou neta, por parte de mãe, de um libanês, Paulo Simão.  Este avò chegou ao Brasil em 1902, com 14 anos, vindo diretamente do Líbano para Itapecuru Mirim morar com o irmão, Basilio, de acordo com Dr. Antonio Dualib, pesquisando sobre os libaneses chegados ao Maranhão em fins do século 19 e inicio do século 20, disse-me ter sido, seu tio-avô Basilio, o primeiro libanês a chegar em terras maranhenses. Basilio foi prefeito duas vezes de Itapecuru, realizando entre outras benfeitorias a construção do mercado público desta cidade, recebendo o irmão adolescente, encarregando-o de percorrer nos navios gaiolas pelo rio Itapecuru vendendo, entre os habitantes de suas margens, as necessidades que este irmão dispunha em seu armazém, em Itapecuru. Foi assim que meu avò  Paulo, conheceu minha avó Celina, casando-se com ela.

Passei muitas das minhas férias escolares nesta querida cidade em casa de minha avó paterna, Rafaela, mais conhecida como Rafinha. Férias inesquecíveis!

Pela festa de São Benedito, quantas lembranças, o  larga da igreja, os  leilões, a juventude, o alto falante a declarar furtivamente paixões, através  de letras musicais, insinuantes, as  moças, pelos seus apaixonados. Os bolos vendidos pelas ruas ao amanhecer, de  arroz e de tapioca,  o cuscuz, minha mãe visitando Mariana Luz, eu atenta entre elas, respirando aquele ar, vendo-as falando de poesia, ambas poetisas e amigas. 

O Itapecuru da minha infância! Ó terra amada do meu pai. Ó minha família, tão extensa e unida! Ó rio, este Itapecuru de águas que eram puras, que desciam de minha infância em Cantanhede (lá em Cantanhede fizeram, sem que eu pedisse, uma biblioteca com o nome da minha mãe, homenageando a biblioteca que acabou de ser demolida). 

Aqui, envolve-me sob uma doce emoção entre livros, emoção que se repete. Sim, porque é a segunda vez que me convidam para um acalento! Assim sou itapecuruense  por nascimento por Cantanhede na época do meu nascimento, pertencer a Itapecuru,  e principalmente por este acolhimento generoso,  sentindo no entanto certo constrangimento pelo pouco que fiz por esta terra.  Estou entre escritores e livros, livros indutores e motivadores essenciais aos homens, aplaudindo e elogiando, vendo-os aqui como como um destaque nesta festa literária, estimuladora, ouvindo Antonio Ailton, grande ensaista e poeta. Conforta-me saber, agradecida, que ele percebeu detalhes daquilo que me sufocou e salvou como sortilégios reveladores da vida.

Assim, digo-lhes que não é bem uma homenagem o que sinto receber, mas poder contribuir de alguma forma, e agradecer, a lembrança deste meu nome num lugar e hora tão propicias para eu como se estivesse a trazer uma filha de volta ao convívio fazer uma certa conciliação de parentescos, de sua casa. E o que me cabe expressar é esta declaração de amor, juntando-me às  pessoas desta terra onde plantei lembranças que agora recolho, entre  saudades, abraçando-as como se estivesse vivenciando-as outras vez, plenamente agradecida e rejubilada entre os meus, que são vocês, incluindo o meu ex-aluno Inaldo Lisboa, a queridíssima Jucey Santana,  Antonio Ailton pelas lindas palavras, meus amigos, Benedito Buzar, William Amorin e Sanatiel Pereira entre outros. Mais uma vez, meu muito obrigada,


                                                                                                            *Arlete Nogueira da Cruz Machado

Arlete Nogueira da Cruz Machado

 


Um comentário:

  1. Parabéns pelo belo texto. O professor João Rodrigues foi meu professor do curso de admissão ao ginásio, em 1959.

    ResponderExcluir