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terça-feira, 5 de abril de 2016

CRENDICES POPULARES


Por: Jucey Santana
Na minha infância os  benzedores “afamados” diagnosticavam e tratavam quase todas as doenças tais como: soluço, engasgo com espinha de peixe, isípa, (erisipela), puxado, espinhela caída, olho gordo, cobreiro, defluxo, quebranto, mordida de cobra, vento virado, coíra, vermelha, inveja, maleita,  carne aberta, febre terçã, mãe do corpo, obradeira,  doença do galo, (convulsão), mau olhado e ainda alguns “encostos” leves.
O benzedor de posse de um ramo de arruda, pinhão  roxo ou vassourinha ia traçando uma cruz sobre o doente ou a doença ao tempo que murmurava suas rezas cabalísticas e as vezes ainda receitava algumas “meizinhas”.
Exemplo de reza para feridas; depois das preliminares com as invocações de praxe o benzedor rezava:
           Jesus é nascido / Jesus nascido é,
Sarai essa ferida / Bom Jesus de Nazaré.
Tratamento de carne aberta:
Carne aberta / Nervo torto,
Osso rendido / carne machucada.
Eu te costuro / carne esgarçada. 
 Em suas especialidades os benzedores eram doutores.  A eficácia do tratamento ficava por conta da fé de cada um.  
O povo guardava sua cultura, suas devoções, seus costumes e crendices. Nos tratamentos populares, a exemplo dos benzedores, o corpo e o espírito estavam unidos e a cura era obra de Deus.
As crendices populares eram respeitadas ao pé da letra e éramos vigiados para não transgredir as regras.
Os exemplos mais comuns nas minhas lembranças são os seguintes: Se apontasse com o dedo as estrelas criava verruga; se brincasse com fogo urinava na cama; quem mentia  criava manchas brancas nas unhas; se pisasse na sombra do outro era azar certo; se virasse a barra da saia era surra garantida; se cortasse o cabelo na lua quarto crescente ele crescia rápido; se pisasse em rabo de gato perdia-se o casamento;  para curar gagueira batia-se com a colher de pau na cabeça do gago; se varresse os pés da moça, esta perdia o casamento; para curar verruga passava-se sal grosso no local, jogava  no fogo e corria; se a visita demorava, colocava-se a vassoura atrás da porta que a ela ia embora; se a criança custasse a falar tomava água de chocalho ou colocava-se o bico do pinto na boca da criança que a língua soltava; se vestisse roupa do avesso era chamar a morte; calçado emborcado era morte certa da mãe; comer cabelouro, (parte  fibrosa da carne), detrás da porta chamando o nome de uma pessoa bonita ficava igual (essa eu fiz chamando minha madrinha Sinhá Mendes); se comesse carne de porco e  pegasse vento  morria na hora; se a criança nascia com as pernas tortas colocava-se todo dia no pilão; se passasse embaixo de limoeiro menstruada subia a menstruação para cabeça e  outras simpatias,  heranças dos ancestrais escravos. Tínhamos respeito pela sabedoria popular e ensinamentos dos mais velhos, eram considerados “lei”.
Nos livros de orações e cantos de Mariana Luz, encontramos vários pedidos para alcançar saúde e graças diversas, dirigidos aos santos, próprio da religiosidade popular. A cultura é vida e patrimônio da população de cada região.

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