O POÇO DE JERICÓ
De que vale a boca
aberta do poço
e água a transbordar
pelas bordas
se o deserto cálido e o
sol a pino
fermentam na estática
fonte
o gosto salobro que
afugenta o sedento
quem amaldiçoara a
subterrânea reserva?
Quem tingira de
maldição rios e campos?
Os filhos de Jericó
morrem lentamente
órfãos e viúvas
desemparados ao léu
a fome galopa o dorso
de cada corpo
a sede cavalga o lombo
de cada alma
e até o andarilho e sua
moribunda sombra
não possuem um
damasqueiro para a fronte
repousar, não possuem
um poço para aplacar
a sequidão que clama
por ser saciada
de que vale o sândalo
do corpo em chamas
da musa cananeia com
seu cântaro e flama
se não pode o aedo
cortejar-lhe o encanto?
A cidade sucumbe sem
leite e pão
e o povo abandona o lar
em procissão
ao passarem pelo poço
não podem aproximar
o cálice de sua secura
para a sede saciar
e o destino tritura
cada cananeu em sua mó
moendo sonhos e seres na infausta Jericó.
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