À minha mãe
*Wanda Cunha
As palavras não dizem nada.
Elas florescem na boca
E apodrecem nos ouvidos.
Mas o teu nome é tão forte
Que acompanhou as idades
Do meu eu que envelheceu.
E ele traz, em três letras,
Um sabor mais que gostoso
Do que um montão de antigamentes.
E, só por causa de ti,
Volto a ser eu outra vez,
Meu eu com dedo na boca
E cachinhos na cabeça,
acreditando em Noel.
As palavras não dizem nada.
Elas florescem na boca
E apodrecem nos ouvidos.
Mas o teu nome é tão forte
Que, quando a chuva se dana
A cair no meu telhado,
Lembro-me do Monte Castelo:
Nosso "castelo" de palha,
Salpicado de molhado,
Virava um mar de amarguras.
Meu sapato de borracha,
Como se fosse um barquinho,
Boiava triste na sala.
Os filhos, tu os colocavas
Em cima da mesa velha
Da cozinha desbotada.
E ias secar o chão.
Teus olhos cheios de brilho
Enxugavam bem a noite
Muito mais meu coração
E o riso de cada filho.
Depois,
Armavas as nossas redes,
Nas quais regávamos sonhos
Com xaropadas de mijo.
E, ali, vinhas tu de novo
Plantando afeto nas mãos
Que eram as nossas cobertas.
As palavras não dizem nada.
Elas florescem na boca
E apodrecem nos ouvidos
Mas o teu nome é Tão forte
Que,
Se não tivéssemos pão,
Teríamos, sim, teu sorriso
Com gosto até de maçã,
Cheirando a pão com manteiga.
Era, em verdade, em verdade,
Nosso café da manhã.
Era um banquete de amor
Que calava qualquer fome
E humilhava qualquer dor.
E eu me deito na lembrança
Do teu arroz com manteiga
Do teu feijão sem toucinho
Temperado de carinho.
As palavras não dizem nada.
Elas florescem na boca
E apodrecem nos ouvidos
Mas o teu nome é Tão forte
Que escreveste estes versos,
Enquanto eu cá me calava.
Mas filho... Que raça ingrata!...
Casei. Deixei teu convívio,
Risquei meu próprio caminho,
Sem saber que tu, contudo,
Remendando a minha ausência,
Criaste o termo saudade.
E, lá, na tua emoção,
Eu continuo tão filha,
morando em teu coração.
As palavras não dizem nada.
Elas florescem na boca
E apodrecem nos ouvidos
Mas o teu nome é tão forte
Que o transferiste pra mim.
Hoje, sou mãe como és.
Porém,
Eu queria que Tereza
E a caçulinha Wanessa
Fossem tuas filhas também,
Saídas dentro de ti,
Do teu lá dentro bonito,
Onde aprendi que ser filha
Consiste na maravilha.
- Que me desculpe Jesus!
De transformar Jacimira
Num nome mais que Maria,
Pois és única pra mim.
As palavras não dizem nada.
Elas florescem na boca
E apodrecem nos ouvidos...
... E o teu nome é tão forte,
Mas não tão forte que tu.
Por isso, a palavra MÃE
Ficou pequena pra ti.
- Que me desculpe Jesus! -
De transformar Jacimira
Num nome mais que Maria,
Pois és única pra mim.
As palavras não dizem nada.
Elas florescem na boca
E apodrecem nos ouvidos...
... E o teu nome é tão forte,
Mas não tão forte que tu.
Por isso, a palavra MÃE
Ficou pequena pra ti.
*Wanda Cristina da Cunha e Silva, professora, poeta, cronista, compositora, teatróloga, cordelista e musicista, nasceu em São Luís (MA) em 05 de junho de 1959. Graduada em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (2003), e Comunicação pela Universidade Federal do Maranhão (1982), especializada em Comunicação e Reportagem pela Universidade Estadual do Maranhão (2004) e Língua Portuguesa pela Universidade Salgado de Oliveira (2001). Estreou na Literatura Maranhense aos 12 anos de idade, com uma peça teatral, intitulada “Sociedade Moderna”. Publicações: “Uma Cédula de Amor no Meu Salário”, poesias (1981), “Engraxam-se Sorrisos”, crônicas (1983), “Rede de Arame” (1986), poesias. Em 1989, o título barroco, “Geofagia ruminante no sótão da prea
mar”, poema estilo de cordelista, “Flor de Marias No Buquê de Costelas” (1993). Lança, em 2009, o CD “Vida de Ouro e Amor de Prata”. Integra várias antologias nacionais e ganhou vários prêmios nas áreas de Literatura e Música. Wanda faz parte de várias instituições artísticas e literárias, e atualmente é presidente da Academia Maranhense de Trovas.
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