domingo, 26 de abril de 2015

TAMBOR DE CRIOULA UMA TRADIÇÃO QUE SE RENOVA

O Tambor de São Benedito, é uma tradição na rua João Buzar, em toda  virada do ano, que acontece a mais de 60 anos  sob a responsabilidade dos irmãos, Maria Sampaio e Zé Mário Sampaio.

A festa inicia pela manhã com o rufar dos tambores durante todo o dia 31, entrando pela noite e encerrando ao raiar do dia  1º do novo ano.  É costume local, as pessoas irem para praça Gomes de Sousa ver as bandas e os fogos  depois se encaminharem ao local do tambor onde se deleitam com a roda  colorida das indumentárias e os volteios vibrantes, harmoniosos  e sensuais das brincantes.  A brincante escolhida pela pungada (toque de barriga) da companheira, se apresenta individualmente no interior da roda, sendo a responsável pela coreografia principal, acompanhada pelos tambores.

O tambor de CRIOULA é uma dança de origem africana. A indumentária é livre, geralmente as mulheres se apresentam  vestidas  em saias rodadas com estampas em cores vivas, anáguas largas com renda na borda e blusas rendadas e decotadas. Os adornos de flores, colares, pulseiras e torços coloridos na cabeça compõe a  caracterização das dançantes. A toada é puxada pelos homens (que pode ser improvisada) com o acompanhamento das mulheres (refrão) seguidos pelos instrumentos. Os cantos podem ser de louvação aos santos,  sátiras, homenagem aos visitantes, lavoura, plantação, desafio dos cantadores, coisas do dia a dia e outros.
Como bem retrata o poeta abolicionista maranhense, Trajano Galvão no poema “A Crioula” em 1853:
       Ao tambor, quando saio da pinha
       Das cativas, eu danço gentil,
       Sou senhora, sou alta rainha,
       Não cativa – de escravos a mil
       Com requebros a todos assombro,
       Voam lenços, ocultam-me o ombro,
       Entre palmas, aplausos furor!...
       Mas se alguém ousa dar-me uma punga,
       O Feitor de ciúme resmunga,
       Pega a taca, desmancha o tambor!

O tambor de Maria Sampaio como é conhecido reúne os grupos de várias comunidades, como Santa Rosa do Barão, Felipa e Oiteiro.

Segundo Maria Sampaio, o tambor existe desde o início dos anos 60 do século passado, iniciando com  Zé Sampaio, Benedito Sampaio, Roque Sampaio, seu pai e tios, com o patrocínio do prefeito da época Abdala Buzar, que foi o seu maior incentivador. Maria Sampaio lembrou ainda os renomados cantadores e batedores: Zé do Néia, Bertulino Campos e João Sampaio. Atualmente ela se ressente com a dificuldade de encontrar bons cantadores, puxadores de toadas e tambozeiros, contando ainda  com Juvêncio da Santa Rosa que mesmo com deficiência visual,  é ainda um dos melhores puxadores,  Patricinho da Felipa, excelente batedor de tambor grande e Vaqueiro de Oiteiro que reúne as qualidades e cantador, puxador de toadas e batedor, que são imprescindíveis no evento.

É com satisfação que acompanhamos muitos jovens  entusiasmados com a preservação do tambor de crioula. Maria Gabriela Sampaio de Azevedo, de 19 anos acadêmica de Serviços Sociais na FACAN  e sua irmã Glenda de 21 anos em conclusão do curso de Nutrição, afirmaram que se emocionam com a festa lembrando que dançam desde criança e que o  tambor é uma prioridade em suas vidas. Dançaram a noite toda. Muitas outras jovens disputavam o espaço com as mais experientes como a  cabeleireira, Ravena Sampaio, as crianças Jamile (9) e Anne Roberta (7) e muitas outras. Mostrando assim a renovação da cultura é uma realidade.

O também de CRIOULA recebeu o título da UNESCO em 2007 de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade que será renovado em 2017.  O título é uma concepção que abrange  as expressões culturais e as tradições que preserva e respeita a ancestralidade de um povo para as gerações futuras.

ITAPECURU NA BALAIADA


A cidade de  Itapecuru-Mirim no vale do rio possuiu a maior concentração de escravos do Brasil no período, no período imperial  propiciando as insurreições de escravos durante a Balaiada e culminando com o enforcamento do seu maior líder o “Negro Cosme” para servir de exemplo para os seus pares. 

Cemitério dos bem-te-vis no Povoado Mirinzal a cerca de vinte e três (23) quilômetros da sede do município de Itapecuru-Mirim, o povoado fica às margens da BR 222, o referido cemitério fica a apenas trezentos (300) metros da mesma. Este local recebeu este nome em virtude de durante a Guerra da Balaiada ter ocorrido um embate entre as tropas legalistas e as revolucionárias, sendo que alguns bem-te-vis mortos teriam sido enterrados neste local, batizando o mesmo.

Pedra fundamental da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores do Itapecuru-Mirim, que
fora lançara por Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, durante sua estada em terras itapecuruenses. Sendo que o futuro Duque fez uma grande doação em dinheiro e do seu próprio bolso para a construção da mesma, mais que segundo alguns historiadores o real motivo de tal benevolência era colocar toda a população local contra o “Bando de Negro Cosme”. A imagem ao lado é da referida Igreja anos cinquenta (50) do século XX.

Casa de Cultura de Itapecuru-Mirim, Professor João Silveira, que serviu de Cadeia Pública para o município de meados do século XIX até quase o final do XX, neste local Cosme Bento das Chagas o “Negro Cosme” foi preso, julgado, condenado a morte em 05 de abril de 1842 e enforcado em frente à mesma em setembro de 1842.  

Por:  Tiago de Oliveira Ferreira   

sexta-feira, 3 de abril de 2015

ANAJATUBA E A BALAIADA


 Mauro Rego 


O município de Anajatuba, historicamente, é palco de disputas políticas entre dois grupos antagônicos, cujos interesses individuais muitas vezes prejudicam o b em estar da comunidade. Essa situação acontecia mesmo antes de sua emancipação política ocorrida em 1854.

Joaquim José da Silva Rosa Filho, o Comendador Rosa, tido como o fundador da Vila de Santa Maria de Anajatuba, disputava o poder com Sylvestre Pereira da Silva Coqueiro, ambos eleitos para a Primeira Câmara Municipal nas eleições municipais de 1855.

O Comendador Rosa, comandante do 2º Batalhão da 2ª Legião da Guarda Nacional no termo do Mearim, por isso conhecido como Capitão Mor, era amigo do também Comendador Padre Inácio Mendes do Moraes e Silva,  proprietário da Fazenda Buenos Aires, na região do Teso, em Anajatuba. Ambos foram eleitores especiais da antiga Vila do Mearim, hoje Vitória do Mearim.

A Guerra da Balaiada vinha sendo gestada em vários pontos do Maranhão, devido a insatisfações de minorias diante dos procedimentos  políticos e administrativos do poder dominante e explodiu na Vila da Manga, espalhando-se rapidamente, haja vista as várias lideranças isoladas, em várias frentes.

Os rebanhos bovinos dos campos de Anajatuba, até hoje, são remanejados para outros locais, em busca de pasto, na época do verão. O Padre Inácio Mendes de Moraes e Silva, a quem é atribuída velada orientação do levante nesta região, mandou uma boiada para Manga do Iguará, saída de sua fazenda nos campos de Anajatuba, conduzida por alguns vaqueiros chefiados por Raimundo Gomes Vieira Jutai. Esse piauiense tinha essa alcunha porque morava na ilha Jutai, próxima de Buenos Aires.

Por alguma razão, talvez por excessos decorrentes de bebidas, o delegado da região mandou prender alguns vaqueiros, causando sérios problemas na locomoção do gado, sendo alguns magotes conduzidos de volta.O subchefe do lugar era José do Egito Pereira da Silva Coqueiro, provavelmente o pai do adversário político do Comendador Rosa, ao qual pertencia o Padre Inácio, razão por que não foram atendidos os pedidos de Raimundo Gomes para que os vaqueiros fossem libertados a fim de continuarem a viagem.

Raimundo Gomes retornou a Buenos Aires a fim de comunicar o ocorrido ao seu patrão, o qual, percebendo que se tratava de retaliação política (pois sua irmã Guilhermina Julieta de Moraes e Silva era casada com um dos parentes do subchefe Silvino Pereira da Silva Coqueiro), recomendou que tentasse novamente a libertação com o argumento de o gado pertencer a um cunhado de seu parente. Acrescentou, entretanto, que se não obtivesse a libertação dos homens, os arrancasse à força da prisão.  Como Raimundo Gomes  não obteve êxito nessa tentativa, comandou a invasão da cadeia, que resultou na explosão da Guerra da Balaiada.

A velada orientação dos dois Comendadores nas ações da Balaiada, depreende-se do fato dos rebelados jamais terem assaltado fazendas nos campos que hoje constituem os municípios de Anajatuba, Arari e Vitória do Mearim. Alguns relatos de moradores antigos nos falam da acolhida de muitos balaios perseguidos em fazendas pertencentes aos dois comendadores. Também a condição de letramento de Raimundo Gomes não lhe permitia  escrever o documento de caráter político apresentado quando da invasão da cadeia, o que leva os estudiosos do assunto a atribuir a sua autoria ao Padre Inácio.

O Padre Clodomir Brandt e Silva, em seu livro Assuntos Ararienses, nos informa que Raimundo Gomes Vieira Jutai foi posteriormente ordenança de Luiz Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias.    Os caminhos da guerra da Balaiada devem, por tudo isso, serem iniciados  nas ilhas anajatubenses de Jutai e Buenos Aires, de onde partiu a boiada do Padre Inácio rumo a Manga do Iguará. Afinal de contas, a história oficial tem na tendência de estereotipar certos fatos do passado, mas sua revitalização e releitura estão sendo procuradas através da ONG Juventude sem Fronteiras e da Agência Intermunicipal de Consórcios da Região dos Lagos Maranhenses – Conlagos.

(Publicado no jornal O ESTADO DO MARANHÃO, de  São Luís (Ma), edição de 14 de dezembro de 2007 – Opinião)

( * ) - O Padre Clodomir deve ter se equivocado, pois segundo MARIA RAIMUNDA ARAUJO em seu livro EM BUSCA DO NEGRO COSME, Raimundo Gomes foi deportado e morreu em um navio).
Texto extraído do livro inédito  “As Crônicas de Anajatuba”