segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

MORREU A POETISA


Por: Zuzu Nahuz (1960)

Recebi a notícia do desaparecimento da minha grande amiga e inesquecível mestra, a poetisa Mariana Luz.
Foi para mim um golpe rude, porque Mariana Luz ensinou-me as primeiras letras e com ela aprendi a tabuada.
Como me lembro de 1927, quando com cinco anos de idade ingressei no seu colégio levado por meu pai. Os tempos passaram e em 1930  voltei estudar com ela no “Instituto Rio Branco”  do Professor Newton de Carvalho Neves. Essa época já vai bem longe, dobrando as derradeiras curvas da saudade.
Conheci Mariana Luz como poetisa e teatróloga e assisti no seu teatro Santo Antônio, em Itapecuru várias comédias da insigne conterrânea.
Ela educou na gleba de João Lisboa várias gerações que hoje brilham em todos os setores da vida.
Foi sempre uma criatura criteriosa e honesta, que viveu toda sua existência de lutas e sacrifícios, entretanto removia com facilidade todos os obstáculos. Ela tinha uns hábitos fora do comum, usava meias de algodão e não tomava café substituindo por chocolate com bolo de chocolate. Nos sábados da Aleluia fazia os testamentos dos Judas e nas horas de artes compunha letras para as músicas das danças de salões e cançonetas.
Lutou muito, Mariana Luz, para ver seu livro de versos circulando, todavia na semana em que ele deveria sair do prelo ela fechou os olhos para a vida e não teve o prazer de desfolhar suas páginas para reler aquilo que ela escreveu com a inteligência,  e a inspiração lhe ditaram nas manhãs fagueiras do mês de dezembro, ou nas tardes nostálgicas e tristes de abril quando os céus se toldavam de nuvens grossas e escuras.
Infelizmente, Mariana Luz não mais existe e a cadeira 32 da Academia Maranhense de Letras vagou deixando apenas a lembrança daquela que honrou  o nome e Vespasiano Ramos. Foi sepultada no cemitério de Itapecuru Mirim e sobre sua cova o povo salpicou retalhos de saudades e sentidas lágrimas pela sua morte.
Ao encerrar esta pálida crônica em memória de Mariana Luz transcrevo um  poema de minha velha amiga em homenagem a sua memória. Suprema Dor.


SUPREMA DOR

A  João Rodrigues

Por: Mariana Luz

Não é dor que num gemido
Angustioso, trêmulo, sentido,
A que mais faz sofrer.
Há outro abutre atroz que dilacera,
Que rasga as carnes, qual terrível fera
Na sanha de morder.

A dor que mata lenta e cruciante,
E a existência fere a cada instante
Quais  impiedosos algoz,
É a que ocultamos no mais fundo d’alma
Cobrindo o rosto de aparente calma...
Eis o suplicio atroz.

Terrível provação! Inanimado
O coração exangue, amargurado,
Procura resistir,
Baldado o esforço! Nessa luta imensa,
Em que se mesclam o desespero e a crença
Vai triste sucumbir.

E o mundo passa alegre e rumoroso,
E para uns a vida é eterno gozo
Eterno paraíso.
Sem ver que há dores, sofrimentos fundos
Nascidos nos mistérios mais profundos
E... Ocultos num sorriso

(3 da Manhã, 15.9.1960)



Do livro Marianna Luz, Vida e Obra. E Coisas de Itapecuru-Mirim
Autoria do Livro: Jucey Santana.
 



domingo, 28 de fevereiro de 2016

SEXTA FEIRA CULTURAL

               

             Em 26 de fevereiro foi dado início ao projeto SEXTA CULTURAL. O objetivo do projeto é mostrar a produção cultural que está sendo levada a efeito em Itapecuru Mirim e principalmente incentivar, valorizar os talentos locais e descobrir novos talentos. O evento é aberto a toda a população na Praça Gomes de Sousa todas as sextas feiras a partir das 18 horas.

            O projeto é coordenado pela diretora da Casa da Cultura, Jucey Santana com o apoio da Prefeitura Municipal de Itapecuru Mirim e todo o grupo que participa do “Cultura em Movimento”, como Willame Paixão, Gonçalo Amador, Ricardo Richardson, Ailson Lopes, Célia Lages, Silas Gomes, Carlos Revertria, José Paulo, Assenção Pessoa e outros agentes culturais de plantão.

            Na ocasião houve a mostra de VULTOS HISTÓRICOS, pela Escola de Desenho e Pintura da Casa da Cultura, exposição de artesanato pela Associação de Artesãos e vários números musicais apresentados por calouros, (alunos de Silas Gomes). A Banda Cosme Black fez a animação da noite.
            Vale citar o maravilhoso momento que Silas Gomes brindou os presentes com árias eruditas. Sem esquecer o show de performances apresentado pelo artista Walter Reggae, que surpreendeu todos   com músicas alegres e irreverentes, da lavra própria.
            Aguardem a programação da próxima SEXTA CULTURAL dia 4 de março. Quem quiser se inscrever para apresentar alguma produção cultural, pode se dirigir a Casa da Cultura Professor João Silveira.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

AS CRÔNICAS DE ZUZU PARA UM LIVRO IMAGINÁRIO...


Por: Josemar Lima                                                     Série Crônicas – ano III/nº 27/2016
Desde as primeiras articulações para criação da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA, fundada em 07 de dezembro de 2012, comecei a ouvir nomes de itapecuruenses que dedicaram suas vidas à criação de um legado material ou imaterial que contribuiu significativamente para a formação da identidade e da cultura itapecuruenses.
Mulheres e homens, sem distinção de cor, raça, etnia, crença ou posição econômica que construíram para o seu tempo e, principalmente para o futuro, uma obra que não tem preço.
A grande maioria delas estava completamente esquecida, mesmo que cada um de nós itapecuruense carregasse até sem perceber parte delas dentro de nós, pois o estoque de  conhecimentos, sentimentos, valores e exemplos se difundiu milagrosamente para toda a nossa sociedade.
Confesso que passei a ter por essas pessoas uma admiração extremada e até comecei a denominá-las como “Legião do Além”, pois eles materialmente já não estão aqui conosco, mas tenho certeza que continuam realizando conjuntamente uma conspiração do bem e isso se reflete na quantidade imensa de talentos que continuam desabrochando em nossas várzeas e à beira dos caminhos de pedras miúdas.
Estudei aí em Itapecuru Mirim, começando essa trajetória na Escola Paroquial, fundada pelo Padre Alteredo Soeiro, em 19 de março de 1947, e se destinava ao ensino de crianças pobres. As aulas eram ministradas em uma sala da própria Casa Paroquial Nossa Senhora das Dores, aí na Praça da Matriz. Depois passei pelo o Grupo Escolar Gomes de Sousa, Escola Paroquial São Vicente de Paula, Curso Preparatório do Professor João da Cruz da Silveira e, finalmente, Escola Normal Regional Gomes de Sousa, depois de aprovado do exame de Admissão.
Confesso que as figuras icônicas que cultuávamos, como itapecuruenses ilustres, se resumiam a Gomes de Sousa, Mariana Luz, João Francisco Lisboa e Viriato Correia.
Com o advento da AICLA e a necessidade de eleger-se patronos para suas trinta e quatro cadeiras, começou a se descortinar diante de nós uma legião que, como os guerreiros de argila descobertos na China, soterrados há milhares de anos, foram sendo trazidos com toda sua bagagem para a superfície para serem conhecidos, referenciados e homenageados como merecem. Cada um dos nossos membros da AICLA é responsável por um desses tesouros que, carinhosa, caprichosa e respeitosamente, lapidamos a cada dia.
Uma dessas descobertas refere-se ao jornalista Raimundo Nonato Coelho Nahuz - 0 Zuzu Nahuz, nascido aí em Itapecuru Mirim, em 22 de julho de 1918, onde viveu intensamente a infância no seio da família, nas ruas arenosas da velha cidade, nos quintais passarinhando ou colhendo frutas, nas margens do Rio Itapecuru, assistindo ao espetáculo e dramas das enchentes, a passagem dos vapores e as divertidas pescarias; na Igreja, assistindo as missas de domingo ou acompanhando as procissões no encerramento dos festejos religiosos.
Foi também em Itapecuru Mirim que teve os seus primeiros contatos com as letras e com o conhecimento, tendo como professores verdadeiras lendas como os professores Manfredo Viana, Newton Neves, Oliveira Roma e outros. Das salas de aula, dos seus mestres e colegas também colecionou lembranças.
Todas essas imagens o menino guardo-as com riqueza de detalhes até os doze anos, pois a partir daí começaria sua via-crúcis com a perda progressiva da visão.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A PROFESSORA, O PADRE E O MONSENHOR



Por: João Carlos Pimentel Cantanhede
Era final de tarde, dia 20 de setembro de 1951, uma quinta-feira. A cidade de Itapecuru Mirim estava calma. A sombra já se alongava na porta da casa de Mariana Luz, na Rua Caiana (atual Avenida Brasil). Ela estava sentada numa velha cadeira preguiçosa lendo um pequeno livro de sonetos quando alguém se aproxima. Ao erguer os olhos ela reconhece o visitante e o cumprimenta:
– Boa tarde padre, que bons ventos o trazem à minha singela residência?
– Boa tarde Sianica! – respondeu o padre Albino Campos, que estava indo para a igreja, mas encostou para palestrar um pouco com a, já octogenária, intelectual itapecuruense.
– Eu estou indo para a igreja.
Sente-se padre! – falou Mariana Luz apontando para uma cadeira de palhinha posta ao lado da sua, possivelmente, à espera de alguma visita para quebrar o silêncio do final de tarde.
– A demora é pouca, Sianica. A senhora se lembra de monsenhor Dourado?
Ele estava se referindo ao monsenhor Joaquim Martins Dourado, pároco da cidade de Rosário, e que por três vezes assumiu também a Paróquia de Nossa Senhora das Dores: a primeira vez, de 1907 a 1915, após a ida de padre Aderaldo para Brejo; a segunda, de 1927 a 1929; e a última, de  1934 a 1936. Estas duas últimas quando ele já era monsenhor.
– Lembro sim, padre Albino!
– Lamento lhe dizer Sianica, mas infelizmente ele faleceu!
– Que Deus o tenha! Como é que foi?
– Sianica, é uma longa história! A senhora tem acompanhado os acontecimentos políticos no Maranhão?
– Um pouco. Eu sei que Vitorino conseguiu eleger Eugênio Barros de maneira fraudulenta e a população se revoltou em várias partes do estado.
– Senhora, o pior de tudo aconteceu antes de ontem. Eugênio Barros organizou a cerimônia de posse no Palácio dos Leões guarnecido pelo exército e pela polícia, e a oposição convocou a população para as ruas.
– Mas como foi que o monsenhor Dourado entrou nessa história? – indagou Mariana Luz.
– Bom, ele era membro do partido de Vitorino e muito amigo de Eugênio Barros. E por isso, resolveu ir de Rosário para prestigiar e abençoar a posse do seu amigo. O problema é que os arredores do palácio estavam isolados para evitar a aproximação dos revoltosos.
 Para tentar romper o cerco, o ônibus que trazia o padre e dezenas de outros correligionários, entrou na Avenida D. Pedro II pela rua lateral à praça Benedito Leite, e a polícia pensando que eram revoltosos, crivou o ônibus de bala.
Os passageiros se jogaram no assoalho do ônibus, porém, mesmo assim, mais de trinta ficaram feridos e alguns vieram a falecer, como foi o caso do monsenhor Dourado. Ele chegou a ser levado para o hospital Tarquínio Lopes e foi submetido a procedimento cirurgico para a retirada da bala, mas devido a idade avançada, acabou não resistindo.
– Minha Nossa Senhora, mas que tragédia. Aonde vamos parar com tanta violência, padre Albino?!
– Pois é Sianica, o venerando amigo morreu dessa forma estúpida! O seu corpo foi levado para Rosário, para ser enterrado na terra onde serviu por 44 anos. Desculpe-me por lhe trazer essa história ruim numa tarde tão bonita como esta. Eu já vou indo para a igreja fazer umas orações em intenção ao saudoso monsenhor Dourado. Fique com Deus Sianica!
– Também vou rezar por ele. Benção padre!
– Deus lhe abençõe!
FIM

NOTA DO AUTOR:
Monsenhor Joaquim Martins Dourado — Nasceu aos 12 de Agosto de 1878 em Beberibe, Ceará. Filho do lavrador José Martins Dourado e de Maria de Jesus Rodrigues Dourado. Aos 19 anos entrou para o Seminário da Fortaleza, onde estudou durante quatro anos, e transferiu-se para o Seminário de São Luís do Maranhão, onde foi ordenado aos 8 de Dezembro de 1906. Em 1907, foi nomeado vigário da Paróquia de Rosário. Por diversas vezes, respondeu também pelas paróquias de Itapecuru Mirim, Vargem Grande e Anajatuba. Faleceu aos 20 de setembro de 1951.




quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

TAMBOR DE SÃO BENEDITO EM AREIAS



Por: Tiago de Oliveira
Uma das maiores diversões do povo de Areias até os anos 90 do século XX eram as “Festas” em homenagem a São Benedito da Casa de Forno. Os moradores quando desejavam obter alguma graça, tais como: cura de alguma enfermidade, conquista de emprego ou até mesmo por devoção, se preparavam por mais de um ano com a cria de porcos e gados, para serem abatidos e oferecidos no dia do Tambor.
Para as crianças e jovens daquela época o momento mais esperado era a Romaria até a Casa de Forno de São Benedito na beira do campo de Santa Rita. Na noite de véspera brincávamos por todo o terreiro enquanto a comida e as ladainhas eram preparadas para sairmos em procissão. Tínhamos duas escolhas ficar acordado até às 2h da madrugada hora comum da partida ou ir dormir e contar que os pais nos acordassem ou o barulho dos foguetes.  
Chegada a hora da partida todo o povo se reunia, a meninada que os pais autorizavam ir era só alegria, os adolescentes ficavam ansiosos para ter uma chance de paquerar um pouco no caminho até a Capela do Santo; foguetes ao alto é hora de partir adultos a frente, crianças no meio adolescentes mais atrás. O primeiro povoado a ser alcançado era a Granja, em seguida Caremas, quando passávamos do Alto de Fátima encontrávamos a sede do Município. Antes do povoado Cai-coco encontrávamos um imenso mangueiral a hora certa para os namorados se esconderem e aproveitarem um pouco para namorar escondido. Em seguida, o povoado Olho D’água que anunciava a proximidade com o Santo; nos primeiros raios de sol avistávamos debaixo de belas mangueiras a Capela de São Benedito da Casa de Forno. Após, as ladainhas pegávamos a imagem e o caminho de volta iniciava, agora para os que iam pela fé as forças estavam renovadas, para as crianças e adolescentes a euforia dava lugar ao cansaço. Por volta das 10h ou 11h da manhã estávamos de volta a Areias.
Durante o dia era servido o almoço para todos os participantes, à noite o jantar seguido dos atos religiosos em homenagem ao Santo. Tambores aquecidos o povo se reunia para ouvir os repentes e as disputas nos versos marcados pelos tambores; a comunidade em festa contemplava a festa no terreiro, ou de casa ouvindo as cantorias e as batidas inconfundíveis dos brincantes. Deste período os tambores que ficaram em minha mente foram os de Ingete, Rufino e Maria de Abdal.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O PADRE FOI PARA O BREJO

   

 Por: João Carlos Pimentel Cantanhede

            – O vapor tá chegando! – gritou alguém. Mas isso não era novidade para ninguém  em    Itapecuru Mirim. Toda vez que o paquete se aproximava do porto, ele soava o seu apito peculiar.
            Naquele dia, a sua chegada era esperada com grande expectativa, pois nele vinha o novo pároco para a cidade, Francisco Lino Aderaldo. E para o porto se dirigiram políticos, comerciantes, religiosos e vários curiosos inquietos para conhecerem o novo vigário. E para surpresa de todos, o padre era um jovem de apenas 22 anos que acabara de ser ordenado em São Luís.
            Mas a desconfiança da população itapecuruense em relação ao padre Aderaldo, devido a sua pouca idade, logo se dissipou, pois ele se mostrou um grande homem de Deus, engajado, simples e amigo de todos.
            Porém, com menos de um ano na terra de Mariana Luz, padre Aderaldo informou aos fiéis na Matriz de Nossa Senhora das Dores, que deixaria a paróquia. Isso causou uma comoção geral na cidade.
            Determinados cidadãos tiveram a ideia de fazer um abaixo assinado para ser entregue ao bispo solicitando a permanência do padre. Foi montada uma comissão para percorrer a cidade e os principais povoados pertencentes à Itapecuru Mirim. Colheram assinaturas em localidades como, Cantanhede, Campo de Pombinhas e, até mesmo, Pirapemas. 
            Algumas pessoas respeitadas na cidade encabeçaram o abaixo assinado: Bento Nogueira da Cruz, Gaspar Lima, Heráclito de Carvalho, Basílio Simão, Elisa dos Santos Araújo e Mariana Luz.  Logo depois de seus nomes, constavam milhares de outras assinaturas de jovens, adultos, idosos e crianças. Não havia distinção de classe, cor e nem profissão. Até as prostitutas foram convocadas para assinarem a petição, afinal, elas também tinham sua fé e queriam que o padre permanecesse para redimi-las do pecado; os analfabetos também assinaram, ou melhor, alguém assinou por eles.
            Estava pronto o documento. Dia 25 de janeiro de 1906, padre Aderaldo embarcou no vapor para São Luís, na companhia do tenente Raimundo Elesbão Raposo para entregarem o esperançoso abaixo assinado ao Bispo.
Mas de nada valeu todo aquele esforço:
            – o padre foi para o brejo! – era o comentário geral em Itapecuru.
E não é que era verdade, ainda em fevereiro de 1906, padre Francisco Lino Aderaldo assumiu a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Brejo, onde permaneceu por 14 anos. Depois voltou para o Ceará.

NOTA DO AUTOR:
            O padre Francisco Lino Aderaldo de Aquino nasceu em Mombaça-CE, aos 23 de setembro de 1882 e faleceu em Fortaleza-CE, aos 18 de julho de 1941, com 58 anos de idade. Era filho do tenente-coronel José Aderaldo de Aquino e de Ana Joaquina Aderaldo e Silva. Iniciou os estudos no seminário de Fortaleza, transferindo-se depois, para São Luís, Maranhão, onde se ordenou, em 1905, neste mesmo ano assumiu a Paróquia de Nossa Senhora das Dores, em Itapecuru Mirim – MA; no ano seguinte tornou-se vigário da freguesia de Brejo - MA, onde permaneceu até 1920 quando retornou ao Ceará e lá permaneceu como vigário de Senador Pompeu até a sua morte.   

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

EU SOU DO TEMPO EM QUE…



Por: Benedito Buzar

            Na semana passada, mudei de idade. Sou um setentão assumido e bem conservado, daí porque não me queixo da vida. Ao chegar aonde cheguei, devo dizer que ora caminhei por estradas pedregosas, ora por vias bem pavimentadas, estas, felizmente, bem mais numerosas do que as outras. Também passei por dissabores, que os considero insignificantes e desprezíveis quando os comparo e os contabilizo com as venturas, os sucessos e as alegrias acumuladas e vividas, sem esquecer a família que construí e os amigos que me cercam.
Concordo com o escritor mineiro Pedro Nava quando disse que a vida é um carro andando numa estrada com as luzes traseiras ligadas. Assim é a minha vida. As luzes que a iluminam estão sempre bem acesas para que a escuridão não atropele os meus passos, que embora curtos e modestos, sempre me levaram ao caminho do bem.
            Nesse percurso em busca da felicidade e de fazer o bem, não esqueço o meu passado, do qual, sem ser saudosista, tenho saudade de tantas coisas boas que presenciei e desfrutei, que recordo, lembro e não saem da minha memória,  e agora recorro para vangloriar-me de que eu sou do tempo em que…
            Só se sabia o sexo da criança depois do parto, quase sempre realizado em casa, mas sob a assistência das benditas parteiras. A minha chamava-se Agostinha
            Chupeta se chamava pipo e tênis (calçado) tinha o engraçado nome de chulipa.
Filho não sentava à mesa antes dos pais, cujas refeições diárias eram  preparadas em fogões movidos a lenha ou em fogareiro e carvão. Aos domingos, não se dispensava o almoço-ajantarado.
            Meninos e meninas dormiam de chambre e não se deitavam sem antes rezar e serem abençoados pelos pais. Para o descanso noturno, não se dispensava a rede, debaixo da qual não podia faltar o penico ou urinol.
            O local onde se fazia as necessidades fisiológicas chamava-se sentina, instalada estrategicamente no fundo do quintal da casa.
            As mulheres usavam peças íntimas chamadas sunga, corpete e anágua e os homens ceroulas e cuecas samba-canção.
            No verão, um calçado de madeira era usado em larga escala por homens e mulheres: tamanco ou chamató. No inverno, as galochas, produtos de borracha, protegiam os pés e sapatos.
            As roupas masculinas eram feitas por alfaiates e as femininas por costureiras.
            Caligrafia e tabuada eram livros obrigatórios no curso primário e os professores dos cursos secundários davam aulas de terno e gravata.
As famílias sentavam nas portas das casas para as habituais conversas de finais de tardes.
            O castigo físico era um procedimento natural para corrigir filhos, sendo a palmatória o instrumento preferido para fazê-los entrar na linha.
            Gripe se chamava constipação e curava-se com remédio caseiro à base de agrião e mel, sob a forma de xarope.
            Carne, peixe e frango se compravam em mercados; gêneros de primeira necessidade em mercearias e quitandas.
            As fardas colegiais eram feitas de tecidos grossos, do tipo cáqui ou brim.
            Os homens só cortavam cabelo com barbeiros e as mulheres gostavam de um penteado chamado permanente.
            Festas dançantes, em clubes, eram animadas por orquestras. Em residências particulares, por radiolas ou toca-discos, que funcionavam à base de discos vinil.
            Defuntos eram velados em residências e a roupa preta era sinal de luto.
Calcigenol, Biotônico Fontoura, Emulsão de Scott, Melhoral, Pomada Minâncora, Anaseptil, Phimatosan, Elixir Xavier, Bicabornato de Sódio, Pílulas de Vida do Dr. Ross, Bromil, Leite de Magnésia Philips, Elixir de Inhame Goulart, Ozonil, Cibazol e Coramina eram remédios mais procurados nas farmácias.
            Sabonetes Phebo, Eucalol e Lever; pasta dental Kolinos e Philips; óleo de cabelo Glostora; talco Gessy, perfumes Regina, desodorantes Leite de Rosas ou Leite de Colônia, eram produtos de uso pessoais mais consumidos.
            Padres usavam batina preta, celebravam os ofícios religiosos em latim e de costas para os fiéis. Ninguém comungava sem antes confessar os pecados aos padres.
            Jogo de futebol era chamado match. Quem jogava no gol era keeper; na defesa, back; na intermediária, half; centro avante, center ford ward. Juiz da partida, referee.
            Automóveis de passageiros eram conhecidos por carros de praça e o ato de levá-los para algum lugar chamava-se corrida.
            Wisky era bebida de rico. Cerveja, cinzano, vermute e conhaque, da classe média; cachaça, dos menos aquinhoados.
            Mulheres do baixo meretrício, respondiam pelos nomes de prostitutas, raparigas, mariposas, gatos. Homem que não pagava mulher depois do ato sexual chamava-se xexeiro.
            Zica era uma famosa dona de pensão de raparigas da Rua 28 de Julho.