Por:
João Carlos Pimentel Cantanhede
–
O vapor tá chegando! – gritou alguém. Mas isso não era novidade para ninguém em
Itapecuru Mirim. Toda vez que o paquete se aproximava do porto, ele soava o seu
apito peculiar.
Naquele
dia, a sua chegada era esperada com grande expectativa, pois nele vinha o novo
pároco para a cidade, Francisco Lino Aderaldo. E para o porto se dirigiram
políticos, comerciantes, religiosos e vários curiosos inquietos para conhecerem
o novo vigário. E para surpresa de todos, o padre era um jovem de apenas 22
anos que acabara de ser ordenado em São Luís.
Mas
a desconfiança da população itapecuruense em relação ao padre Aderaldo, devido
a sua pouca idade, logo se dissipou, pois ele se mostrou um grande homem de
Deus, engajado, simples e amigo de todos.
Porém,
com menos de um ano na terra de Mariana Luz, padre Aderaldo informou aos fiéis
na Matriz de Nossa Senhora das Dores, que deixaria a paróquia. Isso causou uma
comoção geral na cidade.
Determinados
cidadãos tiveram a ideia de fazer um abaixo assinado para ser entregue ao bispo
solicitando a permanência do padre. Foi montada uma comissão para percorrer a
cidade e os principais povoados pertencentes à Itapecuru Mirim. Colheram
assinaturas em localidades como, Cantanhede, Campo de Pombinhas e, até mesmo, Pirapemas.
Algumas
pessoas respeitadas na cidade encabeçaram o abaixo assinado: Bento Nogueira da
Cruz, Gaspar Lima, Heráclito de Carvalho, Basílio Simão, Elisa dos Santos
Araújo e Mariana Luz. Logo depois de
seus nomes, constavam milhares de outras assinaturas de jovens, adultos, idosos
e crianças. Não havia distinção de classe, cor e nem profissão. Até as
prostitutas foram convocadas para assinarem a petição, afinal, elas também
tinham sua fé e queriam que o padre permanecesse para redimi-las do pecado; os
analfabetos também assinaram, ou melhor, alguém assinou por eles.
Estava
pronto o documento. Dia 25 de janeiro de 1906, padre Aderaldo embarcou no vapor
para São Luís, na companhia do tenente Raimundo Elesbão Raposo para entregarem
o esperançoso abaixo assinado ao Bispo.
Mas de nada valeu todo aquele esforço:
– o padre foi para o brejo! – era o
comentário geral em Itapecuru.
E não é que era verdade, ainda em fevereiro
de 1906, padre Francisco Lino Aderaldo assumiu a Paróquia de Nossa Senhora da
Conceição de Brejo, onde permaneceu por 14 anos. Depois voltou para o Ceará.
NOTA DO AUTOR:
O
padre Francisco Lino Aderaldo de Aquino nasceu em Mombaça-CE, aos 23 de
setembro de 1882 e faleceu em Fortaleza-CE, aos 18 de julho de 1941, com 58
anos de idade. Era filho do tenente-coronel José Aderaldo de Aquino e de Ana
Joaquina Aderaldo e Silva. Iniciou os estudos no seminário de Fortaleza,
transferindo-se depois, para São Luís, Maranhão, onde se ordenou, em 1905,
neste mesmo ano assumiu a Paróquia de Nossa Senhora das Dores, em Itapecuru
Mirim – MA; no ano seguinte tornou-se vigário da freguesia de Brejo - MA, onde
permaneceu até 1920 quando retornou ao Ceará e lá permaneceu como vigário de
Senador Pompeu até a sua morte.
Um belo texto do escritor, pesquisador e artista plástico João Carlos Pimentel Cantanhede. O texto nos remete ao inicio do século vinte citando várias personalidades itapecuruenses. O padre Aderaldo realmente faz parte da lista de padres itapecuruenses levantada pelo padre Benedito Chaves e o Raimundo Elesbão Raposo foi figura influente, comandante de barco a vapor e pai de Astor Serra. Parabens amigo Pimentel, continue produzindo seus excelentes textos para o nosso deleite!
ResponderExcluirObrigado Jucey pelo incentivo e pelo belo trabalho que você está desenvolvendo em prol da cultura itapecuruense.
ResponderExcluirMais um texto bem expressivo, de fácil entendimento, que nos relata um acontecimento importante da história de Itapecuru-Mirim - Ma. Excelente...
ResponderExcluirOs textos produzidos por João Carlos são envolventes e introduzem os leitores na narrativa, por nos remeter a pensamentos de tempos "Memoriais"...Extraordinário!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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