quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O PADRE FOI PARA O BREJO

   

 Por: João Carlos Pimentel Cantanhede

            – O vapor tá chegando! – gritou alguém. Mas isso não era novidade para ninguém  em    Itapecuru Mirim. Toda vez que o paquete se aproximava do porto, ele soava o seu apito peculiar.
            Naquele dia, a sua chegada era esperada com grande expectativa, pois nele vinha o novo pároco para a cidade, Francisco Lino Aderaldo. E para o porto se dirigiram políticos, comerciantes, religiosos e vários curiosos inquietos para conhecerem o novo vigário. E para surpresa de todos, o padre era um jovem de apenas 22 anos que acabara de ser ordenado em São Luís.
            Mas a desconfiança da população itapecuruense em relação ao padre Aderaldo, devido a sua pouca idade, logo se dissipou, pois ele se mostrou um grande homem de Deus, engajado, simples e amigo de todos.
            Porém, com menos de um ano na terra de Mariana Luz, padre Aderaldo informou aos fiéis na Matriz de Nossa Senhora das Dores, que deixaria a paróquia. Isso causou uma comoção geral na cidade.
            Determinados cidadãos tiveram a ideia de fazer um abaixo assinado para ser entregue ao bispo solicitando a permanência do padre. Foi montada uma comissão para percorrer a cidade e os principais povoados pertencentes à Itapecuru Mirim. Colheram assinaturas em localidades como, Cantanhede, Campo de Pombinhas e, até mesmo, Pirapemas. 
            Algumas pessoas respeitadas na cidade encabeçaram o abaixo assinado: Bento Nogueira da Cruz, Gaspar Lima, Heráclito de Carvalho, Basílio Simão, Elisa dos Santos Araújo e Mariana Luz.  Logo depois de seus nomes, constavam milhares de outras assinaturas de jovens, adultos, idosos e crianças. Não havia distinção de classe, cor e nem profissão. Até as prostitutas foram convocadas para assinarem a petição, afinal, elas também tinham sua fé e queriam que o padre permanecesse para redimi-las do pecado; os analfabetos também assinaram, ou melhor, alguém assinou por eles.
            Estava pronto o documento. Dia 25 de janeiro de 1906, padre Aderaldo embarcou no vapor para São Luís, na companhia do tenente Raimundo Elesbão Raposo para entregarem o esperançoso abaixo assinado ao Bispo.
Mas de nada valeu todo aquele esforço:
            – o padre foi para o brejo! – era o comentário geral em Itapecuru.
E não é que era verdade, ainda em fevereiro de 1906, padre Francisco Lino Aderaldo assumiu a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Brejo, onde permaneceu por 14 anos. Depois voltou para o Ceará.

NOTA DO AUTOR:
            O padre Francisco Lino Aderaldo de Aquino nasceu em Mombaça-CE, aos 23 de setembro de 1882 e faleceu em Fortaleza-CE, aos 18 de julho de 1941, com 58 anos de idade. Era filho do tenente-coronel José Aderaldo de Aquino e de Ana Joaquina Aderaldo e Silva. Iniciou os estudos no seminário de Fortaleza, transferindo-se depois, para São Luís, Maranhão, onde se ordenou, em 1905, neste mesmo ano assumiu a Paróquia de Nossa Senhora das Dores, em Itapecuru Mirim – MA; no ano seguinte tornou-se vigário da freguesia de Brejo - MA, onde permaneceu até 1920 quando retornou ao Ceará e lá permaneceu como vigário de Senador Pompeu até a sua morte.   

5 comentários:

  1. Um belo texto do escritor, pesquisador e artista plástico João Carlos Pimentel Cantanhede. O texto nos remete ao inicio do século vinte citando várias personalidades itapecuruenses. O padre Aderaldo realmente faz parte da lista de padres itapecuruenses levantada pelo padre Benedito Chaves e o Raimundo Elesbão Raposo foi figura influente, comandante de barco a vapor e pai de Astor Serra. Parabens amigo Pimentel, continue produzindo seus excelentes textos para o nosso deleite!

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  2. Obrigado Jucey pelo incentivo e pelo belo trabalho que você está desenvolvendo em prol da cultura itapecuruense.

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  3. Mais um texto bem expressivo, de fácil entendimento, que nos relata um acontecimento importante da história de Itapecuru-Mirim - Ma. Excelente...

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  4. Os textos produzidos por João Carlos são envolventes e introduzem os leitores na narrativa, por nos remeter a pensamentos de tempos "Memoriais"...Extraordinário!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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