Aniversário de nascimento de Maria Firmina dos Reis,
Patrona da Academia Ludovicense
de Letras
Dilercy Adler
INTRODUÇÃO
É uma honra para os membros da
Academia Ludovicense de Letras - ALL terem a sua Patrona, Maria Firmina, como
símbolo da mulher Maranhense.
O dia 11 de março, aniversário de nascimento dessa ilustre escritora
maranhense, é instituído por Lei como o “Dia da Mulher Maranhense": A Lei nº 3.754, de 27 de maio de 1976.
O Projeto de Lei é de autoria do Deputado Celso Coutinho, elaborado em
1975 e a Lei foi sancionada pelo Governador Nunes Freire, em 27 de maio de 1976
(era do conhecimento público que o nascimento de Maria Firmina era 11 de
outubro de 1825).
No entanto, por meio de pesquisas
recentes (ADLER, 2017) foi confirmada a data de nascimento de Maria Firmina
como sendo, de fato, 11 de março de 1822.
A Presidente da Academia, à época, a Profa. Dra. Dilercy Adler,
pesquisadora da vida e obra de Maria Firmina dos Reis buscou atualizar a data
e, para tal, solicitou ao Deputado Eduardo Braide, que gentilmente atendeu ao
pleito e, por meio da Lei nº 10.763, de 29 de dezembro de 2017 sancionada pelo
Governador Flavio Dino foi alterado o art. 1º que trata da atualização da data
para 11 de março.
Assim, em 2017 foi a última comemoração do aniversário de Marias Firmina
no dia 11 de outubro e este ano configura marco importante, no sentido de que é
comemorado, pela primeira vez, o aniversário de nascimento de
Maria Firmina e o Dia da Mulher Maranhense, neste 11 de março de 2018.
CONTEXTO
DA CRIAÇÃO DA LEI 1975 - ANO ROSA
DE JERICÓ DE MARIA FIRMINA DOS REIS: ano de verdejar
O
ano de 1975, foi o ano de verdejar para Maria Firmina, o marco que eu intitulei
(ADLER, 2017) de o seu “ano Rosa de Jericó”. Essa
rosa é também chamada de flor - da - ressurreição por sua impressionante
capacidade de voltar à vida. As
Rosas de Jericó podem ser transportadas por muitos quilômetros pelos ventos,
vivendo secas, sem água, mesmo durante muito tempo e, ao encontrarem um lugar
úmido, elas afundam raízes na terra e se abrem, voltando a verdejar!
Vejo
muita semelhança
entre Maria Firmina e a Rosa-de-Jericó, senão vejamos: a Rosa de
Jericó, tem aparência frágil, mas, concomitantemente, demonstra consistente
defesa diante da situação adversa, neste caso, ausência total de chuvas. Nesse
período, as suas folhas caem, seus ramos se contraem e se curvam para o centro,
adquirindo uma forma esférica, capaz de abrigar as sementes e protegê-las da
aridez dos desertos. Mesmo frágil e ressequida,
ela continua como “peregrina”, devido à quase inexistência das suas raízes, o
que facilita o seu deslocamento, e, como “viajante incansável”, deixa-se levar
pelo vento do deserto, que tem a força de arrancá-la do solo e arrastá-la por
áreas distantes. Também nesse período, ela permanece seca e fechada,
aparentando estar totalmente sem vida por alguns meses. No entanto, basta
algum contato com a umidade para a Rosa-de-Jericó estender suas
folhas, espalhar suas
sementes e retornar à vida,
mostrando a sua beleza.
Ainda no
tocante às gotas d’água que deram a umidade necessária para Maria Firmina
retornar ao cenário literário mostrando a sua beleza, Arlete Nogueira da Cruz,
no seu livro Sal e Sol (2006) apud
ADLER (2014), fundamentando-se no trabalho intelectual de Janilto Andrade, A Nação das Dobras da Ficção, explicita:
[...]. Não fosse José Nascimento
Morais Filho, o nosso Zé Morais, este contumaz andarilho de trilhas nunca antes
percorridas, Maria Firmina dos Reis não teria vindo à luz. E quando ele a trouxe (no momento em que também a trazia o
escritor paraibano Horácio de Almeida), lembro bem, foram alvo de zombarias em
São Luís: Zé Morais, Maria Firmina e o seu livro Úrsula; muitos considerando
que era de pouca serventia aquele achado e exagerada a relevância que Zé Morais
dava à sua descoberta. Pelos daqui, Maria Firmina dos Reis deveria permanecer
onde se achava: no limbo. E a sua obra sob o tapete (CRUZ, 2006, p.265).
No limbo.... Sob o tapete... Expressões que retratam não
apenas rejeição, mas desprezo, o que não deixa de retratar a alienação e falta
de humanidade no trato com as pessoas e suas obras por aqueles que se julgam
donos do saber e da verdade ADLER (2014, p.6).
Mas, antagonistamente, outros maranhenses, a
exemplo de Josué Montello, reconhecem a importância de Maria Firmina. Montello
escreve por ocasião do sesquicentenário de nascimento de Maria Firmina dos Reis
um artigo intitulado A primeira
Romancista Brasileira, que publicou no Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, em
11 de novembro de 1975 e na Revista de Cultura Brasileña, Madrid, Embajada de
Brasil, 1976, jun., n. 41, p. 111-114.
Confesso que não resisti ao desejo de transcrever,
nesta comunicação pequeno trecho da sua primorosa referência à Maria Firmina e
a Nascimento de Morais Filho. No referido texto, Josué Montello nomeia outro
maranhense, Antônio de Oliveira, juntamente com Nascimento de Morais Filho,
como responsáveis pela ressurreição de Maria Firmina, e, desse modo, a eles se
refere:
[...] o primeiro falando em voz baixa como é do seu
gosto e feitio e o segundo, falando alto ruidosamente, com uma garganta
privilegiada, graças à qual, sem esforço, pode fazer-se ouvir no Largo do
Carmo, em São Luís, à hora em que se cruzam os automóveis, misturando a
estridência das suas buzinas e de seus canos de descarga ao sussurro do vento
nas árvores da praça.
Desta vez, ao que parece, Nascimento Morais Filho
ergueu tão alto a voz retumbante que o país inteiro o escutou, na sua pregação
em favor de Maria Firmina dos Reis.
Há quase dois anos, ao encontrar-me com ele na
calçada do velho prédio da Faculdade de Direito, na Capital maranhense, vi-o às
voltas com originais da escritora. Andava a recompor-lhe o destino recatado,
revolvendo manuscritos, consultando jornais antigos, esmiuçando almanaques e
catálogos como a querer imitar Ulisses, que reanimava as sombras com uma gota
de sangue.
E a verdade é que, no dia de hoje Maria Firmina dos
Reis de pretexto a estudos e discursos, e conquista, seu pequeno espaço na
história do romance brasileiro – com um nome, uma obra, e a glória de ter sido
pioneira.
Assim, Nascimento de Morais Filho, como um Sankofa,
pássaro
africano de duas cabeças, uma cabeça voltada para o passado e outra para o futuro,
que, segundo a filosofia africana, significa a volta ao passado para
ressignificar o presente, dedicou-se, incansavelmente, para dar novo
significado à Maria Firmina dos Reis como mulher, como professora e como
escritora, dando a ela o lugar que lhe é devido na literatura maranhense e
brasileira.
E ainda seguindo a máxima de Morais Filho, mais pessoas, instituições, cidades e estados
brasileiros têm se dedicado a estudos e homenagens a Maria Firmina dos Reis.
É constatado que o trabalho de pesquisa e resgate de Maria Firmina por
Morais Filho, de fato resultou em muitos outros trabalhos acadêmicos. Renan
Nascimento dá destaque para a tese sobre a romancista, defendida por Charles
Martin na Universidade de Nova York.
Eu cataloguei várias Monografias de Graduação, Dissertações de Mestrado,
Teses de Doutorado sobre algum aspecto de sua vida ou obras. O romance Úrsula
encontra-se entre os objetos de estudo mais analisados.
Assim, em 1975, ano do sesquicentenário de Maria Firmina, em São Luís, foi
publicada a edição fac-similar do seu romance Úrsula; inaugurado
o busto da escritora na Praça do Panteon, em São Luís; foi criado um carimbo em sua homenagem, uma marca
filatélica produzida pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos; também
foi criada em sua homenagem a Medalha de Honra ao Mérito, pela Prefeitura
Municipal de São Luís; na Assembleia
Legislativa do Estado foi instituído o dia 11 de outubro, como Dia da Mulher
Maranhense. É
importante enfatizar que assim
determina a Lei Nº
3.754 de 27 de maio de 1976 no seu Artigo segundo:
Art. - 2º Esta lei entrará em vigor, na data da
sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Mando, portanto, todas as autoridades a
quem o conhecimento e a execução da presente Lei pertencerem que a cumpram e a
façam cumprir tão inteiramente como nela se contém [...] (Diário Oficial de
14 de junho de 1976) (grifo meu).
Em Guimarães, também o ano de 1975 foi o marco do início de maiores
homenagens a ela dedicada. Além do desfile em sua homenagem naquele ano, o
Centro de Ensino Nossa Senhora da Assunção, desde o ano de 2007, passou a
promover a Semana Literária Maria Firmina dos Reis. Também o dia do seu
aniversário foi instituído
feriado Municipal e comemorado o “Dia da Mulher Vimarense.
No ano, próximo passado,
2017, foi inaugurada, pelo Governo do Estado do Maranhão e Prefeitura de São
Luís, uma praça com o seu nome e ela foi escolhida para Patronear a Feira do
Livro de São Luís- FeliS, deste ano, em sua
11ª edição, de 10 a 19 de novembro, que resultou numa grande repercussão
local, nacional e internacional.
A Academia Ludovicense de Letras-ALL desde
2013, ano de sua fundação, incorporou-se a esse projeto de consolidar a ressignificação dessa
incontestável precursora da cultura e educação maranhense/brasileira, colocando-a como Patrona da Academia, tendo consciência
também de que há muito ainda por fazer e para conhecer Maria Firmina dos Reis,
fortalecendo esse trabalho que denomino de Missão
de amor.
Em 2015, em comemoração ao
seu aniversário de 190 anos, foram organizadas, por Dilercy Adler e Leopoldo
Gil Dulcio Vaz duas antologias em sua homenagem: Cento e Noventa Poemas para Maria Firmina dos Reis e Sobre Maria Firmina dos Reis.
A
ALL busca ocupar todos os espaços culturais locais, nacionais e internacionais,
objetivando desenvolver e difundir a cultura e a literatura ludovicense, a
defesa das tradições do Maranhão e, particularmente, de
São Luís, também levando o nome de Maria Firmina dos Reis como missão precípua.
REFERÊNCIAS
ADLER, Dilercy Aragão. ELOGIO à PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS: ontem, uma maranhense,
hoje, uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2014.
_____________. MARIA FIRMINA DOS REIS, uma missão de amor. São Luís: Academia
Ludovicense de Letras, 2017.
ADLER, Dilercy Aragão e VAZ, Leopoldo Gil Dulcio
(Organizadores). CENTO E NOVENTA POEMAS PARA MARIA FIRMINA DOS REIS. São Luís:
ALL, 2015.
Diário Oficial do Estado do
Maranhão, de 14 de junho de
1976.
Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, Josué Montrello. 1975,
11 de novembro.
Revista de Cultura Brasileña, Madrid, Embajada de
Brasil, Josué Montello 1976, jun., n. 41, p. 111-114.
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio e ADLER, Dilercy Aragão
(Organizadores). SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS. São Luís: ALL, 2015.
MORAIS FILHO, José
Nascimento. MARIA FIRMINA; fragmentos de uma vida. São Luís: SIOGE, 1975.