quarta-feira, 29 de maio de 2019

TENTATIVA


            

      Rosário de Pompeia

        Senti.
        Por um momento,
        Longe de mim,
       À sombra do meu eu dilacerado,
       Fiquei.
       Fiquei sem saber quem sou
       Ou posso ser.
      Reclamei  e clamei para o Além
      Que me desse um alento,
      Mas tento,
     Tento e não me acho
     No pedaço que ainda
     Tento ser,
     Não sei se sou ou
     Se um dia poderei ser.
     Só sei que tento,
     Sinto,
     E fico...
     Sempre à procura de mim.
                                                                      

                                                                                                                             



                  Maria do Rosário de Pompeia Figueiredo de Oliveira, professora e poeta de    Vargem          Grande, membro fundador da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes – AVLA.

EM BRIGA DE GARRAFA, PEDRA TAMBÉM NÃO SE METE

 

      

Wanda Cunha

Duas crianças se encontraram na praia: uma menina de sete anos, olhos azuis e cabelos loiros; e um garoto de seis, olhos negros, bem moreninho.
As crianças sempre se atraem. E onde quer que estejam, por mais que não se conheçam, elas se aproximam e trocam uma prosa.
A menina já estava na areia, fazendo um castelo, quando o menino sentou-se ao lado dela e indagou:
- O que é isso?
Ela não estava para muito conversa:
- É areia, não tá vendo?
Ele ficou sem jeito, mas não perdeu o rebolado:
- Pensei que fosse um castelo.
- Mas é um castelo de areia, seu bobo.
Ele completou:
- Um castelo de areia e uma espiga de milho.
- Espiga de milho? – indagou a menina surpresa – Cadê a espiga de milho?

O menino foi taxativo:
- Tu é a espiga de milho.
A garota foi à forra:
- Tu que é uma espiga de milho... – titubeou – uma espiga... espiga de milho queimado, um picolé de chocolate, um menino todo sujo de lama.
- Não sou sujo de lama, sou assim, da cor do meu pai. E tu, que é magra como um palito de dente, como um...
O menino não completou a frase; mordeu os lábios, esfregou os olhos e saiu chorando ao encontro da mãe:
- Mãe, aquela menina disse que eu tô sujo de lama.
A mãe foi ao encontro do filho:
- O que aconteceu, meu bem?
Ele repetiu entre soluços.
- Aquela menina – apontou para a menina – ela disse que eu tô sujo de lama.
-Sujo de lama? Sujo de lama, por quê?
A mãe dirigiu-se à garota:
- Por que você disse que meu filho está sujo de lama?
A menina falou sem levantar a cabeça:
- Porque ele é chato, tem a cor de lama e é metido.
A mãe da menina foi ao encontro dos três:
- Qual é o problema?
- O problema – respondeu a mãe do garoto – é que sua filha disse que meu filho está sujo de lama só porque ele é moreninho.
A menina retrucou:
- Mãe, ele disse que eu era uma espiga de milho.
As mães começaram a trocar farpas. A mãe do garoto elevou a voz.
- Você deve dar educação à sua filha. Não observa que isso que ela falou é puro racismo e que racismo é crime inafiançável?
- Quem é você para dizer que minha filha é criminosa, sua lambisgóia...
As duas mulheres perderam o equilíbrio emocional. Uma pequena conversa de criança foi acabar na delegacia. E os pais que não estavam no início da história, tomaram as dores das mães.
O delegado que estava de plantão pôde ouvir atentamente as duas partes, ainda que as mulheres falassem concomitantemente e pelos cotovelos.
- Posso ver as crianças? – falou o delegado.
- Qual é? Quer prender minha filha? – questionou desesperada a mãe da menina.
- Não, minha senhora. – Ponderou o delegado – Só quero conversar com as crianças.
- Minha filha está no carro e não vai entrar nesta delegacia.
- Meu filho também não vai entrar aqui, doutor, ele só tem seis anos.
O delegado usou de tranqüilidade:
- Não vou prender ninguém. Só quero conversar com as crianças.
Quando o delegado chegou à porta, viu as duas crianças sentadas na beira da calçada de mãos dadas. Os pais ficaram atônitos. A autoridade ficou de cócoras diante dos meninos:

- Muito bem, guris, seus pais estavam lá dentro brigando por causa de vocês, e vocês estão aqui de mãos dadas, felizes. O que me dizem disso?
A menina levantou os olhinhos cheios de brilho e fitou o delegado com segurança:
- Esse aqui é meu coleguinha Humberto. Ele disse que era uma espiga de milho e eu disse que ele...
O menino rematou:
- Ela disse que eu tava sujo de lama e que eu era um picolé de chocolate.
O delegado explicou:
- Vejam só! Vocês não podem trocar esses apelidos. Você é Humberto e você é...
- Meu nome é Alice – completou a menina.
- Pois é. Humberto e Alice, vocês devem chamar as pessoas pelos seus nomes. Esse negócio de um apelidar o outro de picolé de chocolate e de espiga de milho, isso é coisa feia.
A menina falou apertando as bochechas do garoto:
- É que eu gosto tanto de picolé de chocolate!...
O menino, acariciando o cabelo da menina, deu um sorriso maroto:
- Eu também gosto muito de espiga de milho.





*Wanda Cristina da Cunha e Silva, graduada em Jornalismo e Letras, poetisa, cronista, teatróloga, compositora, cordelista e musicista. Tem vários livros publicados e lançou vários CDs com músicas de sua autoria.

DIVINA CRIAÇÃO



                                   Minha homenagem às mulheres mães
      *Patrícia Danielle
      Como pode um ser conceber outro ser?
      Carregá-lo em seu ventre
      Sorrir e ao mesmo tempo em prantos tê-lo em seus braços
      Sentir sensações únicas

      Um ser sem igual
      De amor incondicional
      Encara a vida como uma missão
      Como também dá orgulho para toda uma nação

      Sua vida nem sempre é fácil
      Mas encara com a força de um carrasco
      Com toda maestria guia a sua família
      Mas nunca esquece a sua magia

      Mulher também tem seus dias
      Chora calada, mas festeja a vida com alegria
      Adia seus sonhos em prol da sua família
      Com sabedoria vive cada dia

      E assim ela é
      A perfeita criação de Deus
      Dom divino do Criador
      A personificação chamada mulher
 

      






 *Patrícia Danielle dos Santos, professora, poeta, cronista e revisora de textos.   Nasceu em Itapecuru Mirim (MA),  residente em Brasília(DF). Graduada em Letras Português/Inglês e respectivas literaturas, Pedagogia, Especialista em EaD, Gestão e Orientação Educacional e  mestranda  em Educação e Diversidade. Sou professora, instrutora, tutora e revisora de textos.







domingo, 26 de maio de 2019

COMPOSITORAS MARANHENSES LANÇAM VIDEOCLIPE SOBRE FEMINICÍDIO



As irmãs Isabel e Vanda Cunha
A fé no amor virou feminicídio é o título do videoclipe das compositoras maranhenses Isabel Cunha e Wanda Cunha, lançado na última sexta-feira (24), no Espaço de Arte da AMEI, no Shopping São Luís. O vídeo é homônimo da música que elas compuseram e que trata da morte de mulheres vítimas de violência doméstica.  O lançamento do clipe contou com a presença de representantes de várias entidades culturais, dentre as quais de academias de letras e movimentos de mulheres.
Três atrações antecederam o lançamento do clipe: uma conversa sobre Feminicídio, um Pocket Show das cantoras e a apresentação da produção do clipe. As atrações foram
mediadas pela cantora e compositora Carol Cunha, filha de Isabel Cunha.
Na primeira atração, a mestra em Direitos Humanos Diane Pereira Sousa fez uma roda de conversa, apresentando dados estatísticos sobre a morte de mulheres no Brasil e no mundo e traçou um perfil da situação por que passa as mulheres vítimas de violência, acentuando a importância do diálogo entre ciências, artes e outras disciplinas ao redor do assunto. Também mensurou a importância das ações coletivas para minimizar o problema.  As discussões foram recheadas de intervenções de professores universitários e de outros segmentos culturais.
Na segunda atração, as compositoras apresentaram um Pocket Show, composto de quatro músicas autorais: o “Xote da Caranguejada”, que fala, de forma bem-humorada, sobre a culinária maranhense;  “Poesias e Cores”,  “Vá cantar de galo” e “Penha Nele”, esta última também é uma denúncia contra a violência de gênero, música classificada no I Festival de Samba Maranhense “MOSTRA TEU SAMBA MARANHÃO” com muita aceitação do público e da crítica. As músicas dançantes entusiasmaram a participação da plateia nas palmas, coros e danças.

Na terceira atração, houve a apresentação da produção do clipe: o produtor musical Jesiel Bives;  o autor maranhense Uimar Rocha Júnior e a atriz e produtora do clipe Dandara Kram, todos se manifestaram sobre o trabalho que vem sendo desenvolvido pela dupla e sobre sua própria atuação no clipe e expectativa.  Em seguida, houve o lançamento do clipe, que fora deveras aplaudido pelos presentes. O evento foi encerrado com uma sessão de fotos com as compositoras.
ISABEL E WANDA CUNHA – compositoras maranhenses – vêm fazendo um trabalho de músicas autorais voltadas para o respeito aos direitos humanos.
Isabel Cunha é graduada em Filosofia, exerceu o magistério durante longos anos e hoje é funcionária pública aposentada pelo Ministério da Fazenda; quando jovem, estudou piano clássico e cavaquinho; dedicou-se à carreira de Carol e Ana Tereza, suas filhas, com as quais também fez parceria, com as músicas “Batucar” e “Papai eu quero sair!, esta última integrou o primeiro CD das filhas. 
Wanda Cunha é jornalista, cronista, professora e escritora, tem sede (07) livros publicados, graduada em Letra  e Comunicação Social (Jornalismo), pós-graduada em Língua Portuguesa e Comunicação e Reportagem, pós-graduanda em Educação Musical e Ensino de Artes e em Teoria da Literatura e produção de texto; conquistou o primeiro lugar no Concurso de Pagode, promovido pela TV Difusora Canal 4, em 1999, programa Maranhão TV, com a música “Moleque Tantã”, na categoria melhor música. Em 2016, conquistou o segundo lugar no Festival de Música Popular Maranhense, promovido pelo Sindicato dos Servidores Públicos do Estado do Maranhão (SINTSEP/MA), com a música “Estrelas e Fogueiras”. Em 2017, com a música “Mistérios e Encantos”, conquistou o primeiro lugar na segunda edição do mesmo festival.
Desde jovem as irmãs faziam músicas em parceria. Ainda hoje, elas se dedicam ao estudo de teclado e ukulele; vêm compondo e gravando músicas autorais que combatem as desigualdades e que promovem uma campanha acirrada em favor dos direitos sociais, principalmente em combate à violência contra a mulher, também propagam músicas de temática regional e de conteúdo lírico, em ritmos variados, enaltecendo uma característica marcante em suas produções que é o caráter dançante. Já gravaram várias músicas com destaque para Penha Nele, É terno o amor, Marido Aceso, Preconceitos, Vá cantar de galo, Xote da Caranguejada e A fé no amor virou feminicídio.