*Odarci Mesquita
Chove torrencialmente, o barulho
da água batendo no solo e escorrendo ladeira abaixo era um espetáculo que me
atemorizava. Fiquei lembrando que inicialmente, quando só chuviscava era bom
sentir o cheiro de terra molhada, dando o verdadeiro sentido e de estar num
lugar onde o verde predominava, a paisagem muito linda e certeza de que daquele
solo fértil e abençoado nos proporcionaria todo o necessário para a
subsistência de muitas pessoas e animais.
Sabendo da necessidade da chuva
para a sobrevivência de todos, eu procurava, então, conter minhas lágrimas,
controlar o meu medo e a ansiedade até que a chuva passasse e voltasse a minha
serenidade para desfrutar o clima ameno de pós chuva.
Eu imaginava que aquele momento
de solidão, demorava muito tempo, pois, na noite chuvosa, todos se recolhiam
mais cedo do que o habitual e provavelmente seria uma noite mais longa. Quando
ouvia os trovões, sentia muito medo e para me acalmar, mamãe dizia, que estavam
arrastando a mesa e as cadeiras lá, lá lá ...no céu para organizar a casa do
Senhor.- E os relâmpagos, que clareavam o mundo e parecia cortar o céu? – O
relâmpago é rápido, serve para orientar alguém que ainda não chegou em casa ou busca um abrigo seguro.
Assim, ela ficava conversando e
me convencendo que tudo era normal, procurando me acalmar até que o sono
chegasse e vencia.
No dia seguinte, a terra molhada
não me permitia sair para jogar pedrinhas, cinco Marias, a calçada e o chão
estavam muito frios e úmidos para eu sentar. Então, para brincar no chão a
alternativa de mãe cuidadosa era colocar no chão uma esteira de palha trançada,
de coco babaçu, que também chamavam de meia saba, à minha disposição. Mais
tarde, quando o sol ficava mais intenso, tudo voltava ao normal, podia correr
no quintal, ficar na calçada brincando, enfim a minha alegria se restabelecia.
*Odarci Mesquita
de Sousa, escritora vargem-grandense, autora do livro Arquivo de
Lembranças, e membro fundador da
Academia Vargem-grandense de Letras e Artes.
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